Petrobrás volta ao mercado externo após Lava Jato e capta US$ 2,5 bilhões

Cynthia Decloedt

Vinicius Neder

 

Após mais de um ano de ausência, desde que estourou a Operação Lava Jato, a Petrobrás voltou nesta segunda-feira ao mercado global de títulos com uma captação de US$ 2,5 bilhões. Na operação, a estatal ofereceu inéditos bônus com vencimento em 100 anos. A demanda pelos títulos chegou a US$ 13 bilhões, mas, para garantir o sucesso da operação, a Petrobrás teve de pagar aos investidores uma rentabilidade de 8,45% ao ano, semelhante à de empresas sem grau de investimento, o selo de empresa boa pagadora do mercado financeiro.

Em fevereiro, a classificadora de risco Moody’s rebaixou a nota da petroleira para grau especulativo. Mas a estatal ainda mantém o grau de investimento na avaliação da Standard & Poor’s e da Fitch.

A última captação feita pela Petrobrás no exterior foi em março de 2014, antes de os desdobramentos da Lava Jato terem interferido na divulgação de seus resultados financeiros. A emissão, coordenada pelo Deutsche Bank e pelo JP Morgan, tem o mérito de enviar ao mercado a mensagem de que o investidor está aberto para a companhia, ao contrário do que se acreditava.

Atualmente, a dívida líquida total da Petrobrás é de R$ 332,457 bilhões, a maior entre as grandes petroleiras internacionais. Os juros pagos nesta segunda-feira pela estatal foram mais salgados do que os oferecidos anteriormente. Seu título mais longo, o bônus 2044 (de 30 anos), foi colocado no mercado com juros de 7,6% ao ano. O montante emitido também está abaixo do captado nos anos recentes, quando a companhia, aproveitando o excesso de liquidez global, chegava ao mercado com transações mínimas de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões.

Segundo Rogério Freitas, sócio da gestora de recursos Teórica Investimentos, a boa demanda pelos títulos da estatal mostra que o mercado está dando o “benefício da dúvida” à nova direção, liderada desde fevereiro por Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil (BB).

Uma das maiores mudanças feitas pelo novo presidente foi na área financeira. Até então, o plano era apenas cortar gastos e investimentos, sem tomar empréstimos de qualquer tipo. Ivan Monteiro, o novo diretor financeiro da petroleira, mudou o plano e conseguiu autorização para captar US$ 19,1 bilhões em diversas fontes neste ano, para melhorar o caixa.

Endividamento. De qualquer forma, a Petrobrás vai demorar mais tempo com o caixa comprometido com dívidas do que calculava inicialmente. Em documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa informa que alterar o seu nível de endividamento será “desafiador” e que, mesmo contratando novos financiamentos, a tendência é que o dólar continue pesando sobre o resultado.

Com a valorização da moeda americana em relação ao real, a menos que os preços dos combustíveis sejam reajustados, o endividamento deve permanecer elevado.

Simultaneamente, a companhia indica que não está livre da ingerência do governo sobre os preços. “A companhia pode se dedicar a atividades que priorizem os objetivos da União, ao invés dos seus próprios objetivos econômicos e empresariais”, traz o documento, que aponta os riscos do negócio.

Suspensão. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) suspendeu a Petrobrás de seu quadro de associados pelo prazo de 12 meses, questionando a efetividade das medidas adotadas até o momento e dizendo não saber “como a companhia lidará com eventuais situações de conflito de interesses envolvendo o acionista controlador”, a União.

A punição não implica em exclusão definitiva, disse o IBGC, mas visa a uma reavaliação para dar à estatal “o tempo necessário para que transforme os esforços já realizados em um conjunto de práticas que assegure a robustez, a eficácia e a resiliência do modelo de governança efetivamente praticado na companhia e não apenas apontado em seus documentos.” Em nota, a Petrobrás disse que “continua envidando seus melhores esforços no aprimoramento do seu modelo de governança e gestão, conforme reconhecido pelo IBGC”.