Título: Expectativas já se deterioram
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2011, Economia, p. 10

Com agravamento do cenário, analistas acreditam que economia deve crescer menos neste ano. Inflação vai diminuir e o BC pode começar a cortar taxa de juros neste mês

O recrudescimento da crise nos Estados Unidos e na Europa já afetou as percepções de investidores e analistas. Agora, segundo a previsão, o Brasil vai crescer menos, o Banco Central terá que reduzir os juros no segundo semestre e a inflação acabará caindo naturalmente. Na avaliação de economistas, o clima de desconfiança de ontem não vai se resumir a esta semana, devendo durar até que uma solução para o endividamento público dos países ricos fique mais clara. O boletim semanal em que o BC reúne as estimativas de cerca de 100 analistas do mercado financeiro começou a mostrar a reversão no cenário.

A expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) recuou de 3,96% para 3,94%. A despeito de ser marginal, a queda preocupa porque pode indicar uma tendência de desaceleração mais intensa do que o imaginado. "O mundo está em crise e o nosso cenário mudou. Ainda não embutimos no cenário básico uma crise prolongada de proporções maiores, mas acreditamos numa desaceleração maior da economia global em função das dificuldades na Europa e nos EUA", escreveu o economista-chefe do Banco Itaú, Ilan Goldfajn, num relatório. "No Brasil, nossa projeção de crescimento é baixo: 3,6% em 2011 e 3,7% em 2012."

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve encerrar o ajuste nos juros em agosto ou até mesmo diminuí-los para não comprometer a expansão da economia. A previsão dos analistas para a inflação caiu de 6,31% para 6,28% em 2011 e de 5,30% para 5,27% em 2012. No seu boletim matinal, o Bradesco expressou pessimismo. "Hoje pela manhã (ontem), as bolsas europeias e o índice futuro da bolsa norte-americana, S&P, operam novamente em queda, influenciadas pelo rebaixamento da classificação de risco da dívida norte-americana, na última sexta-feira, e ignorando a sinalização do Banco Central Europeu de aquisição dos títulos das dívidas dos países em maior dificuldade econômica da região", argumentou Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.

"Com isso, esperamos que esse mau humor contamine o mercado doméstico e imponha mais um dia de queda para bolsa de valores brasileira", escreveu. Os resultados no mercado foram os piores desde o agravamento da crise financeira, em setembro de 2008, após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) advertiu que a desaceleração econômica deve afetar todos os países.

O clima de pânico entre os investidores levou o BC a se render às previsões pessimistas. Em audiência no Senado, o diretor de Regulação do Sistema Financeiro e de Assuntos Internacionais, Luiz Awazu Pereira, admitiu que o mundo vai desacelerar mais que o esperado no último semestre de 2011 e em parte do primeiro de 2012. Sem dar pista sobre o efeito do panorama na próxima reunião do Copom, Awazu disse que o BC está "200% atento aos acontecimentos". "Os investidores estão questionando a atividade e o nível de emprego e ainda o elevado nível de dívida e a solvência dela enquanto instrumento de médio prazo", argumentou.