Título: Brasília em busca de votos
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 13/08/2011, Cidades, p. 26

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Governador do DF da início à campanha para garantir apoio político e fortalecer a candidatura da capital como sede dos jogos em 2017

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Shenzhen (China) ¿ Se Brasília tiver a chance de sediar a Universíade de Verão em 2017 pode tomar a China como parâmetro para promover um espetáculo. A abertura dos jogos universitários na noite de ontem em Shenzhen (manhã no Brasil) confirma que os orientais deram tratamento de luxo para o campeonato esportivo que os governos federal e do DF tentam levar ppara a capital brasileira.

Em uma festa que reuniu 60 mil pessoas, entre elas o presidente da China, Hu Jintao, os asiáticos recepcionaram 10 mil atletas e suas delegações. No palco de abertura do New Shenzhen Stadium, o Brasil foi prestigiado por 210 esportistas, um dos cinco países representados por mais competidores. Na plateia, o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), representava um outro grupo de brasileiros, os que se mobilizam pela candidatura de Brasília como anfitriã do campeonato em 2017.

Desde quinta-feira, uma comitiva com integrantes do governo federal e do GDF está na China em busca de apoio à candidatura da capital. "Essa é a década do esporte no Brasil. Em 2007, tivemos o Pan-Americano, em 2011, os Jogos Mundiais Militares. Em 2014, será a Copa e dois anos depois, as Olimpíadas. Podemos fechar esse ciclo glorioso hospedando a Universíade em 2017", defendeu Wadson Ribeiro, que representa o governo federal na China como Secretário Nacional do Esporte Educacional.

Receptividade Em maratona para convencer representantes do mundo inteiro que Brasília está preparada para hospedar um evento que é organizado na China com o padrão de uma Olimpíada, a comitiva brasileira liderada por Agnelo Queiroz partiu para a campanha propriamente dita em busca dos votos. Durante um jantar com russos, em reunião com o ex-ministro da educação chinês e atual presidente da Confederação do Desporto Universitário da China, Zhang Xinseng, e num encontro com o presidente eleito da Federação Internacional do Esporte Universitário (Fisu), Jean Claude Galian, o governador do DF pediu explicitamente apoio político para que Brasília seja a sede da Universíade de Verão em 2017. "Todos foram muito receptivos e demonstraram simpatia pela candidatura de Brasília, que vai se espelhar nesse evento surpreendente em Shenzhen", garantiu Agnelo.

A diferença fundamental entre capital brasileira e sua principal concorrente, Kocaeli, é que essa cidade da Turquia tem o conhecimento técnico como argumento a seu favor. O país já hospedou tanto os jogos de inverno, como a modalidade de verão do campeonato universitário.

O que, a princípio, pode parecer um obstáculo para a candidatura de Brasília tem, no entanto, grandes chances de ser equacionado com vontade política e um plano de trabalho bem estruturado. "Vários dirigentes são favoráveis à candidatura de Brasília porque gostam muito do Brasil e acham justo que o campeonato volte a ocorrer na América Latina. Nosso principal adversário, nesse caso, seremos nós mesmos se não conseguirmos elaborar um bom projeto. Com uma proposta de peso, vamos conseguir a indicação para sediar a Universíade", confia o vice-presidente da Federação Internacional do Esporte Universitário, Luciano Cabral.

A única edição da Universíade na América Latina ocorreu em 1963, em Porto Alegre. Depois disso, São Paulo se propôs a abrigar os jogos de 1989, mas acabou retirando a candidatura por questões políticas. A desistência gerou mal-estar diplomático e forçou mudanças nas regras para a escolha das cidades sede do mundial de esportes universitários.

Desde o episódio com São Paulo, a Fisu passou a cobrar dos países eleitos para receber a Universíade uma garantia de 30 milhões de euros. Assim, em caso de uma emergência capaz de impedir a nação eleita de hospedar o campeonato, há um fundo que pode custear a realização dos jogos em outra cidade.

Para a comitiva brasileira que está na China em defesa da candidatura de Brasília, a escolha do DF como sede dos jogos em 2017 seria a chance de o país apagar a imagem ruim deixada entre os organizadores do evento, quando desistiu de abrigar a Universíade no fim da década de 1980.

Dois eventos Em 2005, a cidade de Esmirna foi a sede da Universíade de Verão. E, entre 27 de janeiro e 6 de fevereiro deste ano, Erzurum abrigou a edição de inverno.

Abertura espetacular Um telão gigante com 250 metros de comprimento iluminou a noite de ontem em Shenzhen, já premiada com uma Lua cheia que enfeitava ainda mais o estádio onde ocorreu a cerimônia de abertura da 26ª Universíade de Verão. O lugar ficou lotado com pessoas de 152 nacionalidades diferentes.

Milhares de atletas universitários foram recebidos com apresentações performáticas de artistas chineses, que cantaram, dançaram, tocaram violino e até voaram numa exibição acrobática. Foi um espetáculo que misturou tecnologia de ponta e graciosidade. No ponto alto da cerimônia de abertura, uma parte do palco se descolou do chão e projetou para o alto uma violinista que tocava enquanto ondas de fumaça, em várias tonalidades, envolviam o cenário e a plateia.

A atuação dos artistas foi retribuída com os acenos entusiasmados de bastões, pulseiras, botons e até ventiladores iluminados. Quando o público não estava balançando as bugigangas, aproveitava para se abanar com leques distribuídos pela organização dos jogos com o intuito de aliviar o calor úmido de 32ºC registrados em Shenzhen. (LT)