Título: Atenção às vacinas
Autor: Tavares, Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 13/08/2011, Saúde, p. 23

ENTREVISTA - RUI NOGUEIRA »

Médico da família por mais de 35 anos, o catarinense radicado em Brasília critica o que vê como "excesso de imunização" no Brasil

Depois de passar 15 meses viajando por Minas Gerais, por Goiás e pelo Distrito Federal, com o objetivo de reunir dados para escrever um livro sobre medicina comunitária, Rui Nogueira, 71 anos, nascido em Blumenau e formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, resolveu publicar o livro Medicina social, com apoio do Sindicato dos Médicos do DF, da Federação Nacional dos Médicos e da Associação Médica Brasileira.

Um dos capítulos que mais chama a atenção diz respeito a vacinas. Nele, o autor anexa bulas de fabricantes e confronta-os com as cópias de 40 cartões de crianças com mais de 4 anos. Esse é o tema da entrevista que Nogueira concedeu ao Correio. Para o médico, existe uma indústria da vacina, uma indústria da doença e uma indústria da prevenção. No dia em que o Brasil realiza mais uma etapa da bem-sucedida campanha antipoliomielite, é importante ressaltar que ele deixa claro não ser contra vacinas, mas sim contra o uso excessivo delas. O pior, segundo ele, é que no Brasil "não há fiscalização, não há controle nem acompanhamento do processo de imunização dos bebês".

Segundo o médico, que chegou em Brasília em 1967 e foi um dos 60 pioneiros em clínica e cirurgia a atuarem no Hospital do Gama, o sistema de saúde precisa rever seus postulados e investir mais na medicina comunitária.

Ao completar 18 meses, o bebê brasileiro já recebeu 36 doses de vacinas das mais variadas. Na sua opinião, qual seria a quantidade necessária para fortalecer o sistema imunológico da criança? Primeiro, quero dizer que não sou, jamais poderia ser contra vacinas, até porque sempre trabalhei com ações básicas de saúde e sei que as vacinas são maravilhosas. Elas permitiram erradicar algumas doenças, como a varíola, que matou 500 milhões de pessoas só no século 20. E a poliomielite está praticamente erradicada. No caso dessa vacina (Sabin), porém, estão usando doses demais sem necessidade. O problema é que o século 20 e o atual colocaram nas pessoas uma mentalidade de que o dinheiro é a própria riqueza, mas quando isso acontece, a pessoa perde os valores.

O senhor está querendo dizer que a vacina se transformou em mercadoria? Sim, claro. Quem não quer produzir uma coisa que está sendo usada pelo mundo inteiro, que está sendo comprada pelos governos? É isso que ocorre com o cartel da vacinação. Eles produzem uma vacina e ela é usada no mundo todo. Outra questão é que o caos da saúde nunca vai ser resolvido por hospital, porque hospital é a medicina curativa em si e essa resolve, no máximo, 10% da demanda. O resto se resolve com ações básicas de saúde, de prevenção, de educação e de promoção da saúde. E você sabe que há um propósito em desvirtuar essa questão, porque ação básica de saúde bem executada diminui o consumo de medicamentos, de exames, de equipamentos.

Cria-se um ciclo de compra construído pela mentalidade moderna de se vender tudo... Exatamente. As próprias pessoas são induzidas a acreditar que, para ter saúde, elas têm de comprar a longevidade de alguma maneira, têm de comprar vitamina em vez de comer vitamina. Tudo é condicionado à compra e isso tem sido muito aproveitado pelas empresas financeiras. Também serve para traduzir o que se passa no capítulo das vacinas.

O senhor acha que há um excesso proposital de doses? Vou dar um exemplo. Nos Estados Unidos, as taxas de mortalidade infantil estão aumentando e lá eles fazem 36 vacinações até 18 meses, igual ao Brasil. Na Europa e no Japão, contudo, eles fazem 12 e imunizam do mesmo jeito ¿ e, lá, as taxas estão estáveis. O que quero dizer é que, fazendo um excesso de vacinação, você agride o sistema imunológico da criança. Outra coisa perigosa é que hoje as vacinas abrigam substâncias adjuvantes, mesmo havendo estudos no mundo inteiro provando que alguns desses adjuvantes têm consequências. Por exemplo, o esqualeno e o tiomersal, que é o mercúrio; tem também o alumínio. O problema é que você não pode comprovar 100%, por exemplo, que o mercúrio é responsável por autismo, por esclerose múltipla e por outras doenças neurológicas às quais ele está associado, porque essas doenças são todas decorrentes de fatores multicausais.

O senhor poderia explicar melhor por que o excesso de vacinas é prejudicial à criança? Nós somos um pudim químico. São 72% de água na composição do corpo, e na água está tudo dissolvido, reagindo o tempo todo. O osso, que é tão duro, possui 22% de água. O cérebro da criança quando nasce tem 92% de água. Está tudo ali em suspensão, se misturando, vazando... e o bebê não tem ainda formado o seu sistema de defesa. Então, é um pudim mesmo, na acepção da palavra. O bebê não tem ainda aquilo que chamamos de barreira hematoencefálica ¿ a barreira entre os vasinhos que estão dentro do cérebro e a massa cerebral propriamente dita. Os vasos formam uma redezinha tubular, que tem abertura, as substâncias passam por ali e, de repente, o cálcio, o alumínio, o mercúrio vão para o encéfalo, porque a barreira ainda não existe. Isso é muito grave.

No Japão e na Europa, eles dão duas doses da proteção contra poliomielite. No Brasil, são três ou mais. Como eles conseguem o mesmo grau de imunização? No Japão, são duas, como em todos os países que têm mais fiscalização, mas, no Brasil, no calendário oficial, são três doses. O que ocorre é que as crianças tomam as vacinas da campanha e isso foge do controle. O objetivo de uma campanha contra a pólio é pegar os fugitivos, quem não se vacinou, para isso existe a campanha. Uma vez, eu estava rodando pelos postos de saúde e uma enfermeira me chamou e disse: "Doutor Rui, eu acho que estão dando vacina demais nas crianças". Eu desconfiava disso e então fui andar por outros centros de saúde de Minas e de Goiás, por algum tempo. Comecei a fazer uma pesquisa que eu sempre quis fazer. Então, saí e passsei a fotografar os cartões de vacina das crianças de mais de 4 anos. Depois de um tempo, vi em um dos cartões que, na vacina de hepatite B, por exemplo, deram três doses, duas excedentes. Fui investigar direito e vi que isso aconteceu em mais de 200 cartões. Isso significa que não tem fiscalização, não tem acompanhamento. Lá no Japão, é diferente: preenchem um formulário, fazem uma verdadeira anamnese, o médico examina a criança e só depois é que manda vacinar. Eu tenho cartões com sete doses excedentes de vacina Sabin.

Diante dessa análise, o que poderia ser feito para corrigir as falhas? O que se pode concluir de tudo isso é que ou o programa do governo está errado ou as bulas das vacinas estão erradas. A solução, porém, não seria difícil, porque temos muita gente boa, muitos profissionais competentes. Há uma coisa, no entanto, que se chama "conflito de interesses". O que está ocorrendo é que quem decide a política de campanhas de vacinação é o mesmo profissional que trabalha na cúpula do sistema de saúde, aquele que está nas organizações internacionais e nos laboratórios. Eles têm aquilo que chamam de conflito de interesses, mas raramente declaram isso.

Que vacinas o senhor descartaria se tivesse nas mãos a política nacional de imunização? Para começar, a de hepatite B, porque não há nenhuma vantagem nessa vacina (ele ressalta o fato de a doença ser transmitida por contato sanguíneo e pelo sexo). Na base das ações, estariam dois princípios fundamentais ¿ o da precaução e o da credibilidade na vacina. Depois, poderia sugerir que o programa ficasse mais enxuto. Pediria para analisar as vacinas de uma em uma. A BCG, por exemplo. Acho que não precisava ser aplicada na hora em que o bebê nasce; poderia ser com dois, três meses depois, como se fazia antigamente, que era com 6 meses. Sarampo só se fazia depois de sete meses. Da tetravalente (difteria, tétano e coqueluche, mais a HIB, para meningite e outras infecções transmitidas pelo vírus Haemophilus influenzae tipo b), eliminaria a HIB. A antipneumocócica eu também reavaliaria. A verdade é que não se pode colocar as pessoas em risco. Os princípios da precaução e da credibilidade não estão sendo aplicados por quem faz as políticas públicas de saúde brasileiras.