O globo, n. 29853, 02/05/2015. País, p. 4

Em Curitiba, protesto contra violência policial

THAIS SKODOWSKI
 

Na internet, Dilma critica repressão; Aécio rebate

-CURITIBA- Com a festa do 1º de Maio cancelada pelo governador Beto Richa (PSDB), o Dia do Trabalho em Curitiba foi marcado por uma manifestação de professores em repúdio ao governo estadual, à violência policial e à aprovação de mudanças nos critérios da previdência do Paraná. Cerca de cinco mil pessoas, segundo a Guarda Municipal, protestaram diante do Palácio Iguaçu, sede do governo, e jogaram tinta vermelha sobre uma bandeira do estado, em alusão ao grande número de feridos no protesto realizado na quarta-feira.

ORLANDO KISSNERNas ruas. Protesto em repúdio ao governo estadual: bandeira pintada de vermelho, em alusão aos professores feridos

Em vídeo divulgado nas redes sociais, a presidente Dilma Rousseff criticou a repressão às manifestações e disse que os governantes devem se “acostumar às vozes das ruas” e evitar a violência. No ato de 1º de Maio da Força Sindical, o líder da oposição no Congresso, senador Aécio Neves (PSDB), lamentou o ocorrido no Paraná e criticou o que considerou “ironia” da presidente Dilma.

A manifestação em Curitiba foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP) e reuniu, além de professores e estudantes, pessoas contrárias à repressão da PM ao protesto de servidores estaduais no Centro Cívico, onde ficam a sede do governo estadual, a Assembleia Legislativa e a Prefeitura de Curitiba. Ao passar em frente à sede do governo, ontem, os manifestantes abaixaram a bandeira do Paraná e deixaram a bandeira do Brasil a meio mastro. Em seguida, jogaram tinta vermelha na bandeira paranaense e no lago em frente ao Palácio Iguaçu. Também houve faixas contra o governador Beto Richa e vaias aos seguranças do palácio, mas sem conflito.

— Na terça-feira faremos um evento maior, com professores que virão do interior para se unir à manifestação. Mas não poderíamos deixar uma data tão simbólica como o 1º de Maio passar em branco, principalmente depois de o próprio governador agredir seus trabalhadores — disse Celso Santos, um dos diretores do sindicato da categoria, acrescentando que no dia 5 também será votada a continuidade da greve dos professores.

SINDICATO IRÁ À JUSTIÇA

De acordo com a direção do sindicato, esta foi a primeira manifestação da categoria em repúdio à atitude do governador, que conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa, na quarta-feira passada, o projeto que altera a forma de contribuição ao fundo de previdência estadual, o Paraná Previdência. Durante a votação do projeto, manifestantes tentaram invadir a Assembleia. Eles foram reprimidos com violência pela PM. Segundo a Prefeitura de Curitiba, foram 213 feridos. Para a Secretaria de Segurança Pública do Estado, os feridos totalizaram 62.

O sindicato informou que ingressará na Justiça contra o governador e o secretário de Segurança do estado, Fernando Francischini, por causa do protesto de quarta-feira.

Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff aproveitou um dos vídeos feitos em razão do Dia do Trabalhador para fazer uma referência indireta à repressão policial ocorrida em Curitiba.

— Temos que nos acostumar às vozes das ruas, aos pleitos dos trabalhadores. Temos de reconhecer como legítimas as reivindicações de todos os segmentos sociais da nossa população. Temos de nos acostumar a fazer isso sem violência e sem repressão — disse Dilma, para quem é preciso “por meio do diálogo construir consenso, evitando a violência e respeitando o direito de opinião e de manifestação”.

No 1º de Maio da Força Sindical, em São Paulo, Aécio rebateu a presidente.

— Nós lamentamos profundamente o que aconteceu. Nada do que aconteceu em Curitiba deve ser objeto de ironia de quem quer que seja — afirmou o senador, que evitou comentar a atuação do também tucano Beto Richa.

* Especial para o GLOBO

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Comitê critica ataque a jornalistas em manifestações

Entidade internacional quer salvaguarda para o exercício da profissão nas ruas de todo o país

-SÃO PAULO- O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), entidade internacional de defesa da liberdade de imprensa, condenou ontem, em nota, os ataques contra cinco jornalistas brasileiros por parte da Polícia Militar do Paraná, na última quarta- feira, durante o protesto de professores da rede estadual em greve em frente à Assembleia Legislativa daquele estado. O CPJ cobrou das autoridades a responsabilização pelas agressões.

“Os jornalistas devem poder informar livremente sobre assuntos sensíveis sem temer retaliação física”, disse ontem, em Nova York, o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría, que pediu investigação para esclarecer e punir responsáveis pelos ataques.

O CPJ citou que ao menos três jornalistas — Rafael Passos, cinegrafista do canal CATVE, Germano Assad, repórter da edição brasileira do jornal espanhol “El País”, e o freelancer André Rodrigues — foram atingidos por balas de borracha disparadas pela PM. Outro jornalista, Henry Nukkeim, fotógrafo do jornal “Gazeta do Povo” ficou ferido quando uma bomba de efeito moral explodiu perto dele. Além deles, o cinegrafista da Band Luiz Carlos de Jesus foi mordido na coxa por um pitbull. O uso de pitbulls na repressão a protestos no Paraná gerou polêmica.

A entidade destacou que jornalistas brasileiros já foram atacados em protestos contra o aumento da tarifa dos transportes públicos, em 2013, e contra a Copa do Mundo, no ano passado. “Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, o CPJ insta as autoridades brasileiras a assegurar que as salvaguardas estejam em vigor para que os jornalistas que cobrem as manifestações de rua possam fazê-lo livremente e sem medo de represálias”, complementou a entidade.