Com piora no mercado de trabalho, número de domésticas aumenta

 

O mercado de trabalho brasileiro dá mais sinais de perda de qualidade. A crise econômica empurrou 90 mil pessoas para o emprego doméstico nos três primeiros meses deste ano, segundo dados da Pnad Contínua Trimestral, divulgada pelo IBGE. Esse contingente representa um crescimento de 1,6% em relação ao mesmo período de 2014, alta que não era observada em um primeiro trimestre desde que a pesquisa começou, em 2012. No país, existem hoje cerca de 6 milhões de trabalhadores domésticos que atuam como mensalistas, diaristas, babás e caseiros. Já a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, com série histórica mais longa e restrita a regiões metropolitanas, mostra que o número de empregados domésticos vinha caindo desde 2010, e a renda crescendo até 60% nos últimos oito anos.

Com o aumento da escolaridade e a economia aquecida, muitos trabalhadores optavam por trocar o trabalho em casas de famílias por um posto mais qualificado. Agora, fazem o movimento inverso. - Acho que o aumento no número de domésticos está muito mais relacionado à falta de emprego em outros grupamentos de atividade do que propriamente à PEC das Domésticas, que tem um efeito de modificar a estrutura do emprego doméstico, mas não a quantidade - diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. Foi exatamente o que aconteceu com Ana Paula de Oliveira, de 33 anos. Com o ensino médio completo, ela trabalhava em uma ONG como auxiliar de serviços gerais.

Em dezembro, perdeu o emprego. Tentou vaga no Comércio, área onde já tinha experiência, mas não encontrou. Resolveu, então, procurar trabalho como doméstica, função que exerceu quando tinha 25 anos. - Está difícil encontrar emprego. Pode ser que fique mais difícil com a nova lei (das domésticas) - receia Ana Paula. Segundo a Pnad, o estado de Pernambuco foi o que apresentou o maior aumento na ocupação de trabalhadores domésticos (19%). Acre, Amapá e Goiás vêm em seguida. São Paulo teve aumento de 4,59%, enquanto o Rio registrou queda de 4,52%. Na avaliação do professor de Economia da PUC-Rio Sérgio Besserman Vianna, o desaquecimento da economia estaria levando para o emprego doméstico tanto quem ficou desempregado quanto as pessoas que estavam fora da força de trabalho e encontram nessa atividade uma maneira mais fácil de se reinserir no mercado.

- A longo prazo, nas grandes cidades, a tendência continua ser a da diminuição do número de domésticos que dormem em casa - afirma. - De qualquer forma, aquela relação feudal, de subalternidade, não está mais sendo aceita, e caminhamos para a de compra e venda de um serviço. MOVIMENTO DE CURTO PRAZO A regulamentação da PEC das Domésticas, aprovada esta semana, garante os mesmos direitos dos trabalhadores regidos pela CLT, o que implicará alta de custos para os empregadores. No Rio, quem paga o piso regional (R$ 953,47) gasta R$ 114,42 mensais com INSS de 12%. Com a mudança, esta contribuição vai cair para 8%, mas o empregador terá de arcar com o FGTS (8%), a antecipação da multa por demissão sem justa causa (3,2%) e o seguro por acidente de trabalho (0,8%).

O total de despesas, portanto, será elevado para 20% do salário do trabalhador, ou R$ 190,70, segundo cálculo da ONG Doméstica Legal. Isso representa acréscimo de R$ 76,28 por mês. Ainda que o aumento do emprego doméstico continue nos próximos trimestres, o professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia acredita que o movimento é de curto prazo. - O emprego doméstico pode ser uma escapatória, mas acho que há uma restrição pelo lado da demanda, já que a renda média do trabalhador não está crescendo. Já a renda do trabalhador doméstico continua subindo. No primeiro trimestre de 2014, era de R$ 719,90.

Nos primeiros três meses do ano, cresceu 1,2%, para R$ 728,59. Desemprego sobe para 7,9% no 1º trimestre Desocupação cresce em todas as regiões. Em sete estados, taxa é recorde A taxa de desemprego no primeiro trimestre do ano subiu para 7,9%, a maior desde o primeiro trimestre de 2013, informou o IBGE, com base na Pnad Contínua Trimestral. No mesmo período do ano passado, a desocupação tinha sido de 7,2%. No último trimestre de 2014, chegou a 6,5%. A alta do desemprego atingiu todas as regiões do país. O maior avanço ocorreu no Centro-Oeste, onde passou 5,9%, no primeiro trimestre de 2014, para 7,3% nos três primeiros meses do ano.

Ao todo, 19 estados tiveram alta do desemprego, sendo que para sete, houve taxas recordes desde o início da série. O contingente de desempregados no país chegou a 7,9 milhões de pessoas. - Houve uma mudança de tendência desde o segundo semestre do ano passado e que aponta para cima (ou seja, alta do desemprego) tanto pelo desempenho da economia quanto por ter chegado ao limite os efeitos demográficos (de menos gente entrar na força de trabalho) - diz o economista Jorge Arbache, da UnB. Os dois maiores mercados de trabalho do país seguiram tendências opostas. Enquanto São Paulo viu a taxa de desemprego subir de 7,2%, no primeiro trimestre de 2014, para 8,5% no primeiro trimestre deste ano, no Rio de Janeiro a taxa passou de 6,7% para 6,6%.

RIO É O 7º ESTADO EM RENDA No primeiro trimestre, a renda somou R$ 1.840, estável em relação ao mesmo período de 2014. Frente ao quarto trimestre do ano passado, subiu 0,8%. - No início de 2015, quando ficou mais claro que o país vai passar por uma recessão, as condições se tornaram mais desfavoráveis e as demissões aconteceram. Acho bem provável que a daqui a pouco a renda também comece a refletir essa piora do mercado de trabalho - afirma João Saboia, da UFRJ. Entre os estados do país, o Rio tem a sétima maior renda, com R$ 1.966,97. O Distrito Federal tem a maior renda, seguido por São Paulo, Roraima e Paraná.

- No Rio, a região metropolitana é metade do emprego e o rendimento é mais baixo no interior. Em São Paulo, o interior é mais forte - diz Saboia