Diretor diz que recebeu 'carregador de malas' de doleiro na sede da odebrecht

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

 

O ex-vice-presidente da Braskem e atual diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar, afirmou em depoimento à Polícia Federal no dia 12 de maio que recebeu “em quatro ou cinco oportunidades” Rafael Ângulo Lopez, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como carregador de malas de dinheiro do doleiro Alberto Youssef.

A Braskem é uma sociedade da Petrobras e da Odebrecht no setor petroquímico. Alexandrino Alencar foi preso sexta-feira passada por ordem do juiz federal Sérgio Moro, na mais recente etapa da Lava Jato, que investiga esquema de corrupção e lavagem de dinheiro desviado da estatal.

Alexandrino Alencar afirmou que as reuniões com Ângulo Lopez ocorreram em sua sala na sede da Odebrecht, em São Paulo. No depoimento à PF - no inquérito que investiga o ex-deputado federal João Pizzolatti (PP-SC) -, ele contou que se reuniu em pelo menos duas ocasiões em hotéis da capital paulista com o ex-deputado José Janene (PP-PR) - morto em 2010 - e com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa.

Segundo o executivo da maior empreiteira do País, também participaram dos encontros o doleiro Alberto Youssef e o ex-assessor parlamentar João Cláudio Genu, homem de confiança do ex-deputado no Congresso.

Janene é apontado como o mentor do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro desviado da Petrobrás, que deu origem à Lava Jato. Após a morte de Janene, o doleiro Youssef assumiu o comando do esquema. Alexandrino Alencar disse que “conheceu a pessoa de Rafael Ângulo Lopez, o qual se tratava de um assessor/mensageiro do deputado Janene”.

“Que em 2007, o declarante (Alexandrino Alencar) sai da Braskem e passa a integrar os quadros da Odebrecht, ocasião em que passa a ter contatos e fazer tratativas com o ex-deputado Janene, no âmbito político, notadamente tratando de doações de campanha para políticos do PP”, diz trecho do depoimento.

O executivo disse que “nunca houve pedido de valores que não fossem relativos a doações de campanha”. Em determinado trecho do depoimento, afirma também que nunca foi lhe pedido “comprovantes de transferências feitas pela Braskem para contas indicadas por Janene ou Youssef no exterior”.

Segundo Alexandrino Alencar, “era visível a relação de proximidade e de confiança entre José Janene e Paulo Roberto Costa”. Ele afirmou ainda que “em nenhum momento José Janene demonstrava condicionar seu apoio à indústria plástica a qualquer contrapartida da empresa Braskem”.

Alexandrino Alencar cumpre prisão temporária e foi ouvido ontem pela força-tarefa da Lava Jato. Além dele, seriam ouvidos também outros três presos temporariamente - Flávio Lúcio Magalhães, Antônio Campelo e Cristina da Silva Jorge - do grupo de 12 executivos ligados às empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez detidos na sexta-feira passada, entre eles os presidentes Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.

Notas. A Braskem afirmou em nota que todos os pagamentos e contratos com a Petrobrás seguiram os preceitos legais e foram aprovados de acordo com as regras de governança da empresa. “Importante ressaltar que, ao contrário de qualquer alegação de favorecimento da Braskem, os preços praticados pela Petrobrás na venda de matérias-primas sempre estiveram atrelados às mais caras referências internacionais de todo o setor.”

A Odebrecht divulgou comunicado ontem no qual contesta pontos da decisão que levou à prisão seu presidente e executivos.