Valor econômico, v. 15, n. 3759, 20/05/2015. Finanças, p. C12

 

Fundo de pensão brasileiro fica entre os com pior retorno

 

Por Assis Moreira | De Genebra

Os fundos de pensão do Brasil tiveram um dos mais fracos desempenhos em termos reais entre portfólios de mais de 50 países em 2014, segundo dados preliminares compilados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Os dados preliminares mostram que os ativos dos fundos de pensão brasileiros aumentaram, mas menos rápido que o PIB no Brasil. E o retorno real do investimento foi fraco, mas positivo, por causa da inflação", disse Romain Despalins, da divisão de estatísticas e pensões da OCDE.

Os ativos acumulados pelos fundos de pensão brasileiros alcançaram R$ 665,3 bilhões (US$ 250,5 bilhões) em dezembro. O volume cresceu 3,2% em moeda nacional e em termos nominais, portanto sem levar em conta a inflação. É agora equivalente a 12% do PIB, uma redução de 1,3 ponto percentual entre o fim de 2013 e de 2014.

Com isso, o Brasil foi o terceiro país a registrar a mais forte retração de ativos de fundos de pensão em percentagem do PIB entre 2013 e 2014 em relação às economias selecionadas na pesquisa. O primeiro foi a Polônia (-9,4 ponto percentual), e o segundo o Reino Unido (-3,6 ponto percentual).

Em termos de retorno sobre os investimentos, os fundos de pensão brasileiros tiveram ganho real de 0,5%, na média, comparados a 23,4% na Holanda, 19,1% na Índia, 16,8% no Paquistão, 8,1% no Chile, 6,5% na Colômbia, e, 4,7% no México.

A OCDE utilizou uma metodologia comum para todos os países selecionados. Primeiro, calculou o ganho sobre investimento em termos nominais e em moeda nacional. Nesse caso, encontrou retorno nominal de 7% para os fundos brasileiros. Em seguida, utilizou a taxa de inflação de 6,4% no Brasil com base nas estatísticas do FMI e chegou ao ganho real de 0,5% para os portfólios locais.

Pior desempenho financeiro em termos reais só foi registrado no Malawi, com ganho de 0,3%, e nos três que sofreram perdas: Hong Kong (-3,2%), Rússia (-2,4%) e Armênia (-1,7%). Conforme a OCDE, a inflação alta na Rússia (6,3%) e na Armênia (4,6%) afetaram o desempenho nesses países. Em Hong Kong, houve combinação da inflação (4,8%) e fraco desempenho das bolsas de valores na Ásia.

Mais de um terço dos fundos de países desenvolvidos selecionados na pesquisa tiveram retorno real acima de 5% na média ponderada. Isso se explica pelo bom desempenho das bolsas (o MSCI World Index avançou 5,5% em 2014) e pela queda de juros (o que elevou o valor dos ativos de renda fixa na carteira dos fundos). Só que esse ambiente de juro baixo pode complicar o benefício dos planos de fundos de pensão, alerta a OCDE.

Os ativos de fundos de pensão dos países membros da OCDE, ditos desenvolvidos, superaram os US$ 25 trilhões em 2014. Os fundos dos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e Holanda representam juntos US$ 21,7 trilhões ou mais de 85% do total. No ano, os ativos das instituições de Turquia, Coreia do Sul, Estônia e Luxemburgo cresceram mais de 20%. Já na Polônia houve queda acima de 50%, por causa do fim de fundos obrigatórios e transferência de títulos soberanos detidos por portfólios abertos para o sistema de seguridade social.

Entre os 23 países em desenvolvimento selecionados pela OCDE, o total dos ativos acumulados pelos fundos de pensão alcançava US$ 612,3 bilhões - sendo 40,85% a fatia que cabe aos fundos brasileiros.

Em quase todos os países listados, ações e títulos de dívida (bônus) continuam a ser os principais investimentos para a aplicação dos fundos de pensão.

No caso do Brasil, 55% do investimento tem sido em títulos públicos e dívida, 24% em ações e o restante em outros tipos de aplicações.

Na Austrália, Polônia, Hong Kong, Kosovo e Malawi, mais da metade de seus portfólios está em ações. Também fundos dos EUA investiram fortemente em ações (49,3%).