‘Todos serão indiciados’

 

Preocupados, governo e PT discutirão em reuniões esta semana os impactos

GERALDO BUBNIAK/ 20- 06- 2015Frente a frente. Os empreiteiros Marcelo Odebrecht ( de casaco azul) e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez ( de bege), no IML de Curitiba, onde eles fizeram exames anteontem

das investigações

O delegado Igor Romário de Paula, da Operação Lava- Lato, disse que os presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, além de outros dez executivos presos, serão indiciados pela PF esta semana, após serem interrogados. Segundo ele, as provas colhidas já os incriminam. As prisões preocupam o governo e o PT, que discutirão os efeitos da Lava- Jato em reuniões. A Odebrecht pediu habeas corpus para seus funcionários. - CURITIBA E BRASÍLIA- Os empreiteiros Marcelo Odebrecht, presidente da Construtora Norberto Odebrecht, e Otávio Marques Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, assim como outros dez executivos de empreiteiras presos na última sexta- feira, serão indiciados pela Polícia Federal ainda esta semana, após serem ouvidos pelos delegados da Operação Lava- Jato. A informação é do delegado Igor Romário de Paula, integrante da força- tarefa da Lava- Jato.

O indiciamento significa que a PF já tem provas contra os acusados. Ainda não há, segundo o delegado, definição dos crimes que serão imputados aos 12 presos na 14 ª fase da operação; a maioria deve ser indiciada por corrupção e lavagem.

— Os crimes vão variar para cada um deles, mas todos serão indiciados. Já existe muito material que os incrimina — disse o delegado.

Os primeiros interrogados serão os quatro executivos que tiveram as prisões temporárias de cinco dias decretadas pelo juiz Sérgio Moro: Alexandrino de Salles Ramos de Alencar, ex- dirigente da Odebrecht, Antônio Pedro Campelo de Souza, Flávio Lúcio Magalhães e Christina Maria da Silva Jorge. Esses quatro deverão ser postos em liberdade amanhã à noite, depois de depor, a não ser que o juiz Moro decida transformar alguma dessas prisões em preventiva.

Os demais executivos ligados à Odebrecht e à Andrade Gutierrez deverão depor durante a semana. O delegado Igor Romário acredita que Otávio Azevedo e Marcelo Odebrecht serão os últimos ouvidos, possivelmente na quinta- feira. Os advogados de Azevedo já entraram com pedido de habeas cornha pus, para que ele seja solto. Os de Marcelo devem fazer o mesmo nos próximos dias. Delegados e procuradores acham muito difícil que os empreiteiros digam o que sabem nestes primeiros depoimentos.

— A experiência mostra que ninguém fala agora. Mas, depois que avaliam o quanto estão implicados, começam a falar. Alguns vão até optar por colaboração premiada. Existe boa chance de que venham a falar, mas não agora nesta primeira semana — disse o delegado da PF.

Ontem à noite, cerca de 30 pessoas fizeram uma vigília em frente à sede da Odebrecht, em São Paulo. Segundo Carla Zambelli, uma das fundadoras do movimento NasRuas, a intenção do ato foi tentar convencer Marcelo Odebrecht a revelar os nomes dos políticos que se beneficiaram com o esquema de corrupção montado na Petrobras. Com velas acesas no chão, o grupo, do qual faziam parte integrantes do Movimento Brasil Livre ( MBL), escreveu a frase “Fala Marcelo”.

PROCURADOR QUER APRESSAR PUNIÇÃO A EMPRESAS

Os delegados e procuradores já estão convencidos de que os empreiteiros das duas maiores construtoras do país sabiam e apoiavam o trabalho de seus executivos no “Clube das Empreiteiras”, que superfaturava obras na Petrobras, pagando propinas a políticos e executivos da estatal — entre eles, os ex- diretores de Abastecimento Paulo Roberto Costa, de Serviços Renato Duque, o diretor executivo Pedro Barusco e o ex- diretor da Área Internacional Nestor Cerveró.

Segundo os promotores, as construtoras pagavam propinas que variavam de 1%a 3% do valor de cada obra. Esse dinheiro era repartido entre os próprios diretores da estatal e dirigentes do PT, PP e PMDB. Cada um desses partidos, tium operador dentro da Petrobras para arrecadar dinheiro para o partido.

Nem os advogados puderam visitar os presos na Superintendência da PF ontem, em Curitiba. Hoje, a PF pretende fazer uma acareação entre os delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef para tentar esclarecer conflitos nos depoimentos.

O procurador Marinus Marsico, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União ( TCU), defendeu mudanças na legislação para tornar mais rápido o processo administrativo que impede empresas investigadas por corrupção de participar de novas licitações. Ele argumenta que, em casos graves, poderia haver a concessão de liminar antes da conclusão do processo, impossibilitando a participação dessas empresas. Até agora, nenhuma empreiteira investigada na Operação Lava- Jato foi declarada inidônea.

Em despacho, Moro levantou a hipótese de as empreiteiras repetirem os crimes no plano de concessões lançado pelo governo. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que não há como impedir a participação das empreiteiras antes do fim do processo legal. Marsico disse que o ministro está correto, mas fez ressalvas:

— Deveria haver uma previsão legal para conferir liminares em casos graves. No caso da LavaJato, há indícios aparecendo há muito tempo. O processo precisaria ser mais rápido.

O ex- presidente do Supremo Tribunal Federal ( STF) Ayres Britto defendeu a necessidade de um processo administrativo, com a garantia da ampla defesa, antes da declaração de inidoneidade. Sugeriu também que o processo poderia ser segmentado: uma empresa viria a ser declarada inidônea para uma atividade econômica, mas continuaria participando de outras.