Valor econômico, v. 15, n. 3756, 15/05/2015. Política, p. A9

 

Só 'distritão' tem chances na Câmara, diz Cunha

 

Por Thiago Resende | De Brasília

 

Ed Ferreira/FolhapressCunha: "Claro que tem polêmica. Claro que não tem uma concordância. Nem eu te digo que tem número para passar"

O modelo eleitoral conhecido como "distritão" é o único que tem chance de ser aprovado na Câmara, de acordo com o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Defendido pelo vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, esse sistema substitui o voto proporcional pelo majoritário nas eleições para o Legislativo.

Contrariando a própria opinião, o relator da reforma política na comissão especial da Câmara, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), incluiu o "distritão" no parecer. Antes, ele já havia declarado ser a favor do voto distrital misto, que mescla votos no candidato e no partido.

Para Cunha, se os deputados não aprovarem o "distritão", o sistema eleitoral continuará como está. "Não vejo outro modelo com condição de passar na Casa. O único que ainda tem alguma chance de passar, na minha avaliação, pelo que eu converso, é o 'distritão'. Claro que tem polêmica. Claro que não tem uma concordância. Nem eu te digo que tem número para passar. É uma votação completamente diferente. Não é uma votação que tem uma lógica", afirmou.

Os deputados, acredita Cunha, serão conservadores e, pensando na próxima eleição, tenderão a manter o mesmo modelo. "Por isso, é que você tem dificuldade de mudar", completou.

Com cautela, o presidente da Câmara pretende dedicar-se, já na próxima semana, a articular a votação da reforma política, que deve começar na última semana de maio, quando a análise das medidas de ajuste fiscal já deve ter sido concluída pelos deputados.

Ele lembrou que a posição do PMDB, a favor do "distritão", foi resultado de uma reunião da bancada. Cunha afirmou que, no primeiro momento, era contra a proposta. "Mas depois fui convencido", revelou. "Para o eleitor entender a melhor coisa é o seguinte: os mais votados são eleitos", continuou ele.

No sistema atual, ou seja, no voto proporcional, é possível que o eleitor vote em um candidato e acaba elegendo outro. Cunha citou como exemplo celebridades que "puxam voto", como o deputado Tiririca (PR-SP) e Celso Russomano (PRB-SP). A votação expressiva de alguns parlamentares, no modelo proporcional, é suficiente para eleger candidatos cujo resultado na urna não seria suficiente para uma cadeira na Câmara. "Esse modelo não esta correto. O eleitor vota em A e elege B", avaliou Cunha.

O relatório da comissão da reforma política vai ser analisado na próxima semana e depois seguirá para o plenário.