Ex-executivo da SBM faz delação e se cala à CPI

Daiene Cardoso

Talita Fernandes

 

Ex-representante da empresa holandesa SBM Offshore no Brasil, Júlio Faerman aproveitou o fato de ter fechado em maio delação premiada com o Ministério Público Federal para permanecer calado ontem, 9, diante da CPI da Petrobrás. Ele se beneficiou de uma decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber. Ao conceder anteontem, 8, o habeas corpus que deu ao executivo o direito de ficar calado, não ser obrigado a falar a verdade e não sofrer constrangimentos, a ministra levou em conta justamente o acordo de colaboração.

Diante disso, os deputados decidiram pedir à Justiça a retenção de seu passaporte, para garantir que ele volte à comissão assim que o acordo for homologado e conte o que sabe.

Em processo na Holanda, a SBM admitiu pagar propina para funcionários da Petrobrás. A convocação de Faerman foi aprovada pela CPI em março, mas ele só apareceu após os deputados também convocarem os filhos dele, Marcello e Eline Faerman, e seu sócio, Luiz Eduardo Barbosa. Em represália ao silêncio, os deputados querem agilizar o agendamento das oitivas dos filhos e aprovar a quebra dos sigilos da família Faerman.

Aos 77 anos, aposentado e morando em Londres, Faerman se limitou a falar de sua trajetória profissional, negou ser lobista e disse que representou a SBM no Brasil por mais de uma década. “O trabalho por mim desenvolvido resultou em ganhos expressivos para a Petrobras”, afirmou.

Para não responder às perguntas, o executivo alegou que vem contribuindo com o Ministério Público e que temia que a repercussão do depoimento fosse prejudicial à sua defesa e ao acordo de delação. “Em razão de minha avançada idade, estado emocional e saúde abalada, exercerei nessa ocasião o direito constitucional ao silêncio.”

Elo

O depoimento de Faerman é visto na bancada do PT como elo que comprovaria a existência do esquema de corrupção já no governo Fernando Henrique Cardoso. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco admitiu ter recebido propina da SBM desde o primeiro contrato de navio-plataforma firmado com a companhia holandesa, em 1997.

O relator Luiz Sérgio (PT-RJ) lamentou o silêncio de Faerman. “Ninguém tem o histórico do processo de corrupção como ele. São informações que podem esclarecer todo o mecanismo.”