FHC afirma que situação venezuelana é 'inaceitável'

Renata Tranches

 

O ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, 23, que a atual situação na Venezuela é “inaceitável” do ponto de vista democrático. “Minha posição com relação à Venezuela é clara: passaram do limite do que é aceitável”, declarou a jornalistas após evento no instituto que leva seu nome.

Para FHC, no entanto, a definição de uma data para as eleições parlamentares mostra que houve alguma melhora. Segundo o ex-presidente, as tentativas de visita aos opositores presos, tanto de ex-presidentes latino-americanos quanto de senadores brasileiros, acabaram ajudando ao criar “polêmica”.

“Eles conseguiram mostrar que nem eles, como senadores, podem andar livremente. Mostraram que a situação lá está dramática. A política deles é defender valores democráticos. O Brasil, a essa altura, já deve estar reagindo, mas do ponto de vista da diplomacia nem sempre isso pode ser aberto”, disse.

FHC recebeu ontem, 23, em seu instituto, líderes europeus, africanos e americanos para um seminário sobre integração dos países do Atlântico, o fórum Atlantic Strategy Group.
Em geral, os participantes defenderam que uma nova ordem mundial, de maior integração e multilateralismo, deve ser defendida não apenas pelos governos dos países, mas também por suas sociedades civis.

Um dos participantes, o ex-subsecretário americano de Assuntos Hemisféricos, Arturo Valenzuela, lembrou que Brasil e EUA têm uma importante parceria que foi fundamental em vários momentos no passado, como no Haiti e no Paraguai. Segundo ele, ao contrário das críticas de que os Estados Unidos não veem com bons olhos os diversos grupos multilaterais na América Latina, Washington os considera positivos.

Diplomacia

FHC também falou sobre as relações Brasil e EUA. Segundo ele, houve uma quebra de confiança após o episódio do escândalo de espionagem, mas agora, na sua avaliação, o governo Barack Obama trabalha para reconstruir essa confiança.

“Se os EUA voltaram a convidar a presidente Dilma Rousseff (para uma visita ao país) é porque estão dispostos a confiar”, declarou, em entrevista coletiva. Segundo o ex-presidente, os tempos atuais pedem mais que uma parceria Sul-Sul, tradicional na diplomacia brasileira. Ele afirmou é “preciso olhar também” para leste, oeste, norte e sul.

“Não podemos olhar apenas para uma direção”, declarou. Na sua avaliação, nesse esforço de integração, o Brasil precisa “ter responsabilidades e assumir lados” nos temas de sua agenda diplomática e deixar de ter “posições ambíguas”.

Europa

O ex-presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso afirmou, por sua vez, que o modelo de integração da União Europeia pode ser seguido para um maior engajamento entre os países do Atlântico. “Não é um modelo perfeito, mas são 28 países que trabalham juntos”, disse.

FHC e Durão Barroso divergiram sobre o papel da Rússia nessa nova ordem mundial proposta. Fernando Henrique lembrou que o atual presidente russo, Vladimir Putin, expressou a ele, certa vez, que a Rússia deveria ser tratada com mais respeito. “Ele queria ser amigo”, afirmou o ex-presidente brasileiro, defendendo que Moscou seja mais integrada à comunidade internacional. “É difícil para o Ocidente entender o mundo não ocidental”, afirmou.

Para Barroso, no entanto, a anexação da Crimeia por parte da Rússia durante o conflito da Ucrânia “cruzou uma linha” nas relações internacionais. “Foi a mais clara violação dos acordos internacionais desde a Guerra Fria. Não podemos aceitar isso para o tipo de mundo que estamos criando”, declarou o ex-líder europeu.