Valor econômico, v. 16, n. 3753, 12/05/2015. Brasil, p. A4

 

Projeção do IPCA em 2016 cai pela primeira vez desde março

 

Por Arícia Martins e Ana Conceição | De São Paulo

O compromisso do Banco Central de trazer a inflação ao centro da meta em 2016 começou a surtir efeito sobre as expectativas do mercado, assim como a percepção de que o ciclo de aperto monetário atual será um pouco maior do que o esperado, segundo economistas. Pela primeira vez desde meados de março, o boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, mostrou que a mediana de estimativas para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no próximo ano caiu: de 5,6% para 5,51%. A melhora no cenário para o ano que vem ocorreu a despeito das previsões de inflação ainda maior para 2015, que passaram de 8,26% para 8,29%.

André Muller, da Quest Investimentos, manteve em 5,6% sua estimativa para a alta do indicador oficial de inflação no ano que vem, mas afirma que a revisão trazida pelo Focus é a primeira evidência de que o discurso do BC começou a ter impacto sobre as expectativas inflacionárias. "Esse é um movimento relevante. Ao longo das próximas leituras do Focus, a tendência é que o IPCA para os anos seguintes também assuma uma trajetória de queda mais clara", diz Muller, em linha com a comunicação recente da autoridade monetária.

 

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Na ata da última decisão do Copom, que elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, o colegiado preservou o trecho no qual afirma que "os avanços alcançados no combate à inflação (...) ainda não se mostram suficientes". Para o mercado, esta e outras indicações e as projeções do BC que ainda contemplam IPCA acima do centro da meta em 2016 apontam que o atual ciclo de aperto vai prosseguir, o que ajuda a prever inflação um pouco menor para o próximo ano.

Leonardo França, da Rosenberg & Associados, avalia que o IPCA acumulado em 12 meses chegará a 5% em dezembro do ano que vem. Depois da divulgação da ata, a consultoria reviu para 14% ao ano sua previsão para a taxa Selic ao fim de 2015. "O mercado achava que, com a economia tão fraca, o aperto monetário não fosse tão longe, mas agora começamos a vislumbrar que o BC realmente quer que a inflação comece a convergir ao centro [da meta] em 2016", comentou.

Além dos efeitos defasados do aumento de juros, França acrescenta que o desempenho ruim da atividade econômica também tende a moderar a alta dos preços por meio do desaquecimento do mercado de trabalho, assim como a política fiscal mais restritiva. A inflação dos preços livres, diz ele, já vai desacelerar este ano, mas este efeito será bem mais intenso em 2016.

Muller, da Quest, avalia que, desde a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação de março, ficou claro que, no cenário da autoridade monetária, a redução da Selic a 11,5% no ano que vem afastava ainda mais a possibilidade de cumprimento da meta inflacionária no período. Por isso, ele estima que o juro básico será cortado em apenas um ponto a partir do segundo semestre do próximo ano, terminando 2016 em 12,5% ao ano.

 

Brasil Plural espera desaceleração da taxa para 0,55% este mês

 

Por Angela Bittencourt | De São Paulo

O banco Brasil Plural espera mais uma desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) em maio, para 0,55%, ante 0,71% divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira. Para a inflação em 12 meses, a instituição prevê 8,27%. Para 2015, manteve a estimativa de 8,2% e, para 2016, de variação em 5,7% para o IPCA.

Os economistas chefiados por Mario Mesquita, sócio do banco e ex-diretor de Estudos Especiais e depois diretor de Política Econômica do Banco Central, consideram a possibilidade de a projeção para o próximo ano ser revista para baixo por algumas razões: melhoria nas condições meteorológicas no ano que vem tendo consequências para a conta de luz no sistema de bandeiras tarifárias; deterioração mais acentuada do emprego e de indicadores de retorno do setor; forte apreciação do real, que o Plural vê negociado a R$ 3,2 por dólar em 2015 e a R$ 3,3 em 2016; e aumento da taxa Selic no encerramento do ciclo de aperto monetário em curso. Ao menos na sexta-feira, o cenário-base do Brasil Plural contemplava mais uma alta da Selic em 0,25 ponto pelo Copom, em junho, concluindo o ciclo em 13,50% ao ano.

Na sexta, o resultado do IPCA de abril trouxe alívio aos especialistas em preços que confirmaram a bola cantada há pelo menos dois meses - a perspectiva de que ao final de abril ou começo de maio o peso do reajuste das tarifas de energia elétrica deixaria a inflação. Algumas casas promoveram revisões nas projeções para inflação e Selic.

O IPCA desacelerando de 1,32% em março para 0,71% em abril, combinada à disposição do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter o ajuste da Selic no padrão atual - o que elevaria a taxa básica a 13,75% ao ano no encontro de 3 de junho - vem repercutindo no mercado desde sexta. As projeções para a inflação cedem, como demonstram os instrumentos usados com mais frequência pelo mercado para monitorar a evolução dos indicadores.

Na pesquisa Focus, a expectativa para o IPCA acumulado em 12 meses caiu pela terceira semana consecutiva, período em que o índice deslizou abaixo de 6%. A inflação esperada para 2015 avançou ligeiramente de 8,26% para 8,29%, mas, para 2016, a estimativa para o indicador declinou a 5,51%. O centro da meta de inflação, de 4,5%, nunca pareceu tão próximo (ver a reportagem Projeção do IPCA em 2016 cai pela primeira vez desde março).

No mercado secundário de títulos públicos, o juro das NTN-Bs com vencimentos em 2050 e 2055, cedeu, ontem, para, respectivamente, 5,99% e 6,02%, depois de um longo período sendo negociadas entre 6,10% e 6,15% ao ano. Ainda se trata de um movimento moderado e pontual, mas confirma sensibilidade do mercado à estratégia de prolongamento do aperto em curso.