Título: A pós-faxina
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Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2011, Opinião, p. 14

Em menos de oito meses de gestão da presidente Dilma Rousseff, quatro ministros perderam os cargos. O último, Wagner Rossi, da Agricultura, naufragou depois de haver admitido ao Correio Braziliense que pegava carona em jatinho de empresa agrícola (o Grupo Ourofino) contratante de serviços da pasta. O primeiro a sucumbir foi Antonio Palocci, da Casa Civil. Depois desabou Alfredo Nascimento, dos Transportes. Névoa cinzenta de suspeitas sobre a prática de atos irregulares envolveu o afastamento dos três. A demissão de Nelson Jobim, da Defesa, deu-se como punição política em razão de declarações desqualificantes do governo.

Dilma abraçou espécie de política da tolerância zero para tratar de denúncias de irregularidades contra agentes públicos de quaisquer dos escalões da administração ¿ aí incluídos, sobretudo, os titulares de cargos políticos. A disposição de promover a faxina necessária à moralização dos serviços governamentais atende às expectivas da sociedade. Tem a virtude pedagógica, mas não menos importante, de suscitar mais firmeza dos órgãos munidos de competência para o combate à corrupção e à impunidade.

A reposição das peças defenestradas é, agora, o principal desafio da presidente da República. Eleita por coalizão de 11 partidos (base parlamentar reduzida a 10, com a defecção do PR) urge, daqui por diante, efetuar operação política complexa para mantê-los representados no poder. Vai consumir-lhe substancial habilidade política para não ser apanhada nas ciladas do fisiologismo, fonte de pressões espúrias em favor da nomeação de gestores com verbete inconveniente ao exercício de funções públicas. A precaução não vale apenas quanto à escolha de ministros, mas, também, em relação aos indicados para cargos estratégicos.

Um dos maiores obstáculos ao dinamismo dos regimes presidenciais sustentados pela multiplicidade partidária reside na formação de consórcios com várias siglas para assegurar a governança. Trata-se de fenômeno agravado no Brasil pela baixa qualidade dos quadros políticos. Costumam eles, em número expressivo, enxergar o Estado como um pote de ouro privado, sujeito a distribuição entre os mais espertos. Daí os frequentes escândalos de corrupção no âmbito do poder público.

É dentro de contexto do gênero que a presidente Dilma Rousseff desenvolve ações para a assepsia dos estamentos político-administrativos na seara de competência do Poder Executivo. Sabe-se indiscutível o interesse da coletividade nacional, exausta de tantas traficâncias com o patrimônio comum do povo, de que Dilma persista na varredura. Para tanto, que não lhe falte sabedoria para evitar novos equívocos na seleção de auxiliares de nível ministerial e de altos dirigentes administrativos.