Após prisão de Odebrecht, PT aprova resolução em defesa das empreiteiras

Ricardo Galhardo

José Roberto Castro

 

Menos de uma semana depois da prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez pela Operação Lava Jato, o PT, em resolução política aprovada ontem pela sua Executiva Nacional, saiu em defesa das empreiteiras investigadas por desvios na Petrobrás. No documento, o PT defende pressa nos acordos de leniência que permitam o desbloqueio de recursos para as empresas e afirma que as empreiteiras são vítimas de “prejulgamento”.

“Preocupam o PT as consequências para a economia nacional do prejulgamento de empresas acusadas no âmbito da Operação Lava Jato”, diz o texto.

A Executiva argumenta que o bloqueio dos recursos vai causar demissões e afetar a economia, mas, segundo dirigentes, a defesa é um pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Embora não seja investigado pela Lava Jato, Lula tem proximidade com empreiteiras que estão na mira da operação, especialmente a Odebrecht, e está preocupado com a possível exploração política do caso.

Anteontem Lula se reuniu longamente com o presidente do PT, Rui Falcão. Segundo o dirigente, os dois conversaram sobre “essa ofensiva conservadora voltada contra” o partido.

 

A empresa brasileira é suspeita de ter pago subornos, por meio de um empresário italiano, para garantir contratos no país da América Central, principalmente no que se refere às obras do metrô. 

A empresa brasileira é suspeita de ter pago subornos, por meio de um empresário italiano, para garantir contratos no país da América Central, principalmente no que se refere às obras do metrô. 

 

Além de defender as empreiteiras, o PT acusa a Lava Jato de agir “fora dos marcos do estado democrático de direito”, gestar um “estado de exceção” e criticou a manutenção da prisão do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, detido preventivamente desde o dia 15 de abril.

Reorientação. Depois de aliviar críticas ao ajuste econômico do governo Dilma Rousseff no 5.º Congresso do PT, a sigla mudou de rumo e, no texto aprovado ontem, defendeu uma “reorientação” da política econômica com a redução da meta de superávit fiscal, redução da taxa de juros e criação de um plano de proteção do emprego, a ser elaborado em conjunto com sindicatos. 

Com aval do ex-presidente Lula, o PT também decidiu ontem criar um conselho, cujos nomes serão definidos por Falcão, que será composto por estrelas petistas afastadas da direção partidária e integrantes de movimentos sociais. O objetivo é quebrar a rígida estrutura burocrática do partido e abrir a legenda para a participação de novos atores políticos. 

Além disso, serão criados cinco grupos de trabalho com missões específicas. Um deles terá a participação do próprio Lula e terá o objetivo de construir uma agenda nacional envolvendo as principais lideranças do partido. Lula prometeu voltar a viajar pelo Brasil. Outro grupo terá como objetivo preparar o PT para as eleições de 2016 resgatando bandeiras históricas da legenda. 

Falcão negou que as mudanças sejam uma resposta às declarações de Lula sobre o PT estar “velho” e “só pensar em cargos”, feitas na segunda-feira passada. “Acabamos de fazer uma reunião e vocês querem se referir a coisas de três, quatro dias atrás. Não vou falar sobre isso”, irritou-se o dirigente.