O que se passa na cabeça de Lula?

O navio começa a afundar, e ele é o primeiro a sair. Ao deixá- lo, cria o fato político que o governo da sucessora não consegue gerar. Ao animar a política, ocupa um espaço que poderia ser da oposição. E mostra por que tem conseguido passar por mensalões e Lava- Jatos praticamente sem se molhar. Para analistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a saraivada de críticas que o ex- presidente Lula tem feito ao seu partido e à presidente Dilma nos últimos dias é uma estratégia: para se descolar do desgaste petista, para se distanciar da impopularidade da presidente e para sobreviver, porque 2018 vem aí.

SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA

Eugenio Giglio, pesquisador de marketing político e professor da ESPM- Rio “Lula é um dos políticos mais inteligentes do Brasil. Ninguém pode acusá- lo de ingenuidade: sabia que o que falava ia ter repercussão.

Como a época é favorável à oposição, ele ocupa esse espaço. Critica a economia como se dissesse a Dilma: ‘ Não foi para isso que botei você lá’. Não sei se combinou com o PT, que, além do próprio Lula, não tem líderes nacionais. Mas, por ser próximo de Dilma, talvez tenha articulado com ela.

Lula reafirma que é maior que o PT porque quer sobreviver”.

MAIS UMA TÁTICA

Fernando Azevedo, cientista político da UFSCar “Lula está explicitando algumas críticas que já vinha fazendo internamente. Ao mesmo tempo, é um possível movimento tático de se deslocar para evitar uma contaminação da sua popularidade, que ainda é melhor do que a do governo e a do PT. Internamente, o impacto é a abertura de um debate no partido, que vive um momento muito crítico. Em relação ao país, Lula começa a fazer uma autocrítica para o público externo da ação partidária e da própria atuação do governo.”

PARA A PLATEIA

José Álvaro Moisés, cientista político da USP “Lula está vendo o navio fazer água. Está assumindo uma posição de se dissociar da sorte do governo e do partido, sem assumir responsabilidade sobre o que aconteceu nos últimos 13 anos. É preciso saber se ele vai tomar iniciativa no sentido de enfrentar o problema. Teria sido uma coisa importante se ele tivesse feito essas afirmações durante o Congresso do PT ( entre 11 e 13 de junho, em Salvador). Mas falou depois. Portanto, não é para levar a sério. É só uma maneira de jogar para a plateia.

RENOVAÇÃO VIA LULISMO

Ricardo Ismael, cientista político da PUC- Rio “É um cálculo político. Lula critica, mas não faz autocrítica. Coloca- se alinhado com a opinião pública.

Sem dúvida, é a postura de um candidato à Presidência. Ele se comporta como um capitão que já deixou o navio, está em terra firme e observa o navio de fora. Dá o recado de que é o lulismo que vai liderar essa renovação que ele diz que o PT precisa. A renovação é ele, ele é que vai conduzi- la. À presidente, cabe se sacrificar por 2018 e ajudar Lula tentando recuperar a economia até lá”.

DE OLHO EM 2018

Oswaldo do Amaral, cientista político da Unicamp “Um eventual descolamento de um governo de baixíssima popularidade é um movimento de quem quer deixar uma possibilidade aberta para concorrer em 2018. Dizer que o partido precisa se renovar também é uma maneira de tentar reacender um pouco a militância mais jovem do PT. As declarações de Lula sinalizam ainda a necessidade de o partido fazer mudanças. O PT não vai conseguir se recuperar com a manutenção dos mesmo líderes.”

 

Maria Celina D’Araujo, cientista política da PUC- Rio “Lula está fazendo o que ele disse que precisava ser feito: política. Está animando o ambiente político, criando agenda. Na avaliação dele, é o que o governo não faz. Isso é parte de uma lógica dele de sempre ter voz; não é para contrariar Dilma. Não sei se é com vistas a 2018. É para hoje, amanhã, é para a vida dele. Agindo assim, Lula tira um pouco o fôlego da oposição, porque ele ocupa o centro do debate de oposição”.

 

Planalto muda a equipe de comunicação

Uma das áreas mais criticadas pelo ex- presidente Lula, a comunicação do governo vai passar por uma reformulação nas próximas semanas. O ministro Edinho Silva, que é ligado ao ex- presidente, decidiu fazer substituições na Secretaria de Comunicação Social, inclusive trocando auxiliares que hoje têm acesso direto à presidente Dilma Rousseff por nomes que já integraram a equipe durante o governo Lula.

O jornalista Nelson Breve deixará a presidência da Empresa Brasileira de Comunicação ( EBC), responsável pela TV Brasil, para assumir a Secretaria de Imprensa do Planalto, cargo que ocupou no segundo mandato do ex- presidente. Outro que voltará ao mesmo posto que ocupou com Lula é o diplomata Carlos Villanova, no comando do Departamento de Relações com a Imprensa Internacional.