Delator diz que negociou propina com ex- diretor da Odebrecht

 

O delator Paulo Roberto Costa diz que recebeu US$ 5 milhões de propina por ano após negociar com Alexandrino Alencar, então diretor da Odebrecht. - SÃO PAULO- O ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa prestou ontem novo depoimento à Polícia Federal e afirmou que recebeu propinas para agilizar contratos de recebimento de nafta da Petrobras pela Braskem, empresa na qual a Odebrecht é sócia da estatal. Costa disse ter tido uma reunião num hotel em São Paulo com o ex- diretor da Odebrecht Alexandrino de Salles Ramos de Alencar e com o ex- deputado José Janene ( PP), na qual “foi tratado de forma clara o assunto relacionado ao pagamento de vantagens ilícitas em troca de benefícios à Braskem na compra de nafta da Petrobras”.

FÉLIX R./ FUTURA PRESS/ FUTURA PRESS/ ESTADÃO CONTEÚDO

Braskem. Paulo Roberto Costa deixa hotel para depor na Justiça Federal ( PR): vantagens ilícitas

Costa disse que, apenas para agilizar a entrega dos pedidos de nafta da Braskem, recebeu propinas entre US$ 3 milhões e US$ 5 milhões por ano entre 2006 e 2012, pois a diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por ele à época, não tinha poder de decisão sobre preços. Segundo Costa, havia duas empresas compradoras de nafta da Petrobras — além da Braskem, a Petroquímica Ipiranga — e que havia vantagem em conseguir comprar quantidades maiores da Petrobras, pois a alternativa era recorrer à importação. Segundo ele, é possível que houvesse grande economia, por exemplo, no valor do frete.

EX- DIRETOR PEDIU DEMISSÃO

Alexandrino Alencar era funcionário da Odebrecht desde 1992, foi diretor de Relações Institucionais da Braskem e atualmente era diretor de Desenvolvimento da Odebrecht Infraestrututura. Foi preso na 14 ª Fase da Operação LavaJato na última sexta- feira e pediu demissão da empresa anteontem. Alegou precisar se dedicar à sua defesa.

Ontem, o juiz Sérgio Moro manteve Alexandrino Alencar preso. Hoje, o juiz deve decidir se determina a prisão preventiva do ex- diretor da Odebrecht, pedida pela força- tarefa da Lava- Jato. À PF, Alencar negou ontem acusações.

Sérgio Moro também negou liberdade a João Vaccari Neto, ex- tesoureiro do PT, apontado como o operador da propina paga ao partido com dinheiro de fraudes na Petrobras. Para Moro, a revisão da prisão preventiva, pedida pela defesa, deve ocorrer só no julgamento das duas ações penais, ainda sem data marcada, que têm Vaccari entre os réus.

“Na sentença, nas duas ações penais, é que será possível exame aprofundado de fatos e provas e, se for o caso, a revisão da preventiva segundo resultado do julgamento”, ressaltou. O Ministério Público Federal também se manifestou contra a soltura.

Em seu despacho, Moro lembrou que Eduardo Leite, da Camargo Corrêa, que assinou acordo de delação premiada, confirmou ter sido procurado por Vaccari para fazer doações eleitorais com recursos de propinas acertadas em contratos da Petrobras, cujo pagamento estaria pendente. E disse que Vaccari foi delatado por outros colaboradores, como Paulo Roberto Costa, ex- diretor de Abastecimento da Petrobras; Pedro Barusco Filho, ex- gerente da estatal, e Augusto Mendonça, do Grupo Setal.

Mendonça informou ter feito pagamentos, a pedido de Vaccari, à Gráfica Atitude, que pertence ao Sindicato dos Bancários e ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC — dois dos maiores sindicatos ligados ao PT. A gráfica teria recebido R$ 1,5 milhão de propina vinculadas a contratos firmados pela Petrobras. O doleiro Alberto Youssef apontou Vaccari como destino de propinas pagas ao PT.

“Todos eles serão em breve interrogados em juízo, ocasião na qual a defesa de João Vaccari poderá questioná- los sobre suas declarações”, disse Moro.

Os advogados de Vaccari afirmaram que recorrerão a instâncias superiores. Para eles, a decisão de Moro é “surpreendente”, pois mostra que nada sustenta a prisão preventiva, a não ser depoimentos de delatores. Para eles, a argumentação do juiz “tem forte perfume de antecipação de culpa, o que é proibido pela legislação brasileira”.

ANDRÉ VARGAS É ALVO DE NOVA DENÚNCIA

Moro ainda decidirá sobre nova denúncia contra outro petista, o ex- deputado André Vargas, sua mulher, Eidilaira Soares, e seu irmão, Leon Vargas, apresentada ontem pelo Ministério Público Federal ( MPF). A denúncia, por lavagem de dinheiro e ocultação de bens, é a segunda contra Vargas.

Segundo o MPF, Vargas comprou um imóvel em Londrina ( PR) e o registrou com valor inferior ao de mercado, “com o objetivo de lavar parte do dinheiro gerado pelos seus crimes”. O imóvel foi comprado em nome de Eidilaira, e a negociação foi feita por Leon. Moro mandou soltar três dos presos sexta- feira: Antonio de Souza, ex- diretor da Andrade Gutierrez, o consultor Flávio Magalhães, listado como funcionário da Andrade Gutierrez no processo, e a advogada Christina Jorge, da empresa Hayley.

 

Agência rebaixa nota global da Odebrecht

 

 

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s ( S& P) anunciou ontem o rebaixamento da nota em escala global da Odebrecht Engenharia, de BBB para BBB-. A S& P manteve a perspectiva negativa do rating, ou seja, ele pode voltar a ser rebaixado nos próximos 18 ou 24 meses. Segundo a agência, a chance de uma revisão para baixo é de uma em três.

A nota BBB- é a última do grau de investimento na classificação da S& P: caso o rating da Odebrecht seja revisado para baixo novamente, a nota de crédito da empresa será considerada de grau especulativo.

O downgrade, segundo a S& P, reflete a exposição da empresa a riscos mais altos em termos de reputação, após cinco executivos da companhia terem sido presos, entre eles o presidente da holding Odebrecht SA, Marcelo Odebrecht.

LAVA- JATO PESOU NA DECISÃO

Também pesaram na revisão do rating as potenciais implicações da Operação Lava- Jato, ainda incertas. Por outro lado, ressalva a agência, o equilíbrio financeiro e a liquidez da Odebrecht continuam atenuando os riscos de curto prazo.

A agência ainda ressaltou que o grupo Odebrecht poderia ser objeto de mais questionamentos dos credores, o que pode limitar o acesso da empresa a financiamento sob condições favoráveis.

Semana passada, a S& P manteve os ratings de longo e curto prazos da Odebrecht na escala nacional Brasil ( brAAA/ brA-1+), com perspectiva estável, e o de crédito corporativo de longo prazo na escala global ( BBB), este último com perspectiva negativa.

A construtora Camargo Corrêa anunciou ontem que o executivo Artur Coutinho ocupará o cargo de diretor- presidente da empresa. A construtora também divulgou a demissão do ex- presidente da companhia Dalton Avancini e dos exexecutivos Eduardo Leite e João Auler — os três são réus na Operação Lava- Jato. Eles estavam afastados de seus cargos desde que foram presos, em novembro do ano passado.

Em nota, a construtora informou que criou uma diretoria de governança corporativa para “aprimoramento de seus programas de controle interno e transparência administrativa”.

No âmbito da Lava- Jato, Leite relatou, em delação premiada, o pagamento, de 2006 a 2013, de R$ 110 milhões em propina referentes a contratos da Petrobras. Ainda disse ter ouvido de executivos de outras empresas ( UTC e Odebrecht) que elas pagavam propina

Avancini, que também assinou delação premiada na LavaJato, apresentou sexta- feira provas que ajudariam na acusação de executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez.

EXECUTIVO VEIO DA EMBRAER

Segundo a nota em que anunciou a mudança no comando da empresa, a Camargo Corrêa diz que Artur Coutinho, engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica ( ITA), trabalhou por 28 anos na Embraer, ocupando cargos de direção. Ainda presidiu a filial da empresa na América do Norte.

A diretoria de governança corporativa será ocupada por Flávio Rímoli, também engenheiro e ex- executivo da Embraer, onde ocupou a secretaria do Conselho de Administração e a vice- presidência Sênior para o mercado de Aviação Comercial. Segundo o comunicado, “a designação de uma nova liderança e a criação da diretoria de governança corporativa evidenciam o compromisso da construtora em adequar- se às melhores práticas de mercado".