Cúpula do PT acata fala de Dilma e promete não tratar Levy como ‘judas’

Vera Rosa

Ricardo Galhardo

 

Um dia após a presidente Dilma Rousseff dizer ao Estado que não se pode transformar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em “judas” para ser malhado no 5.º Congresso do partido, de quinta-feira a sábado, em Salvador, a direção do PT e a corrente majoritária da legenda amenizaram as críticas à política econômica do governo.

Embora seja esperado que a resolução final da reunião contenha reparos ao ajuste fiscal, as declarações de Dilma e o pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o PT “olhe para a frente” enfraqueceram as posições radicais.

“A maioria do partido não vai fazer isso (transformar Levy em ‘judas’). Temos que preservar o ministro”, disse o deputado estadual José Américo Dias (PT-SP), secretário nacional de Comunicação da legenda.

A ordem, agora, é reduzir a pressão sobre Levy, não personalizar as críticas e apresentar uma agenda “pós-ajuste”, com um cardápio de propostas para sair da crise. Mesmo assim, a cúpula do PT avisou ao Palácio do Planalto não ser possível impedir manifestações individuais e faixas de “Fora Levy” no evento.

Apesar dos pedidos de Lula e do recado claro de Dilma, setores do partido devem manter os ataques ao ministro. “Consideramos que a política de ajuste fiscal regressivo e recessivo inaugurada com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda coloca o PT contra a classe trabalhadora”, diz um documento assinado por líderes sindicais petistas, entre eles Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e João Felício, presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), ambos muito próximos de Lula. 

 

Levy tem sofrido críticas por causa do ajuste fiscal

Levy tem sofrido críticas por causa do ajuste fiscal

 

Na tentativa de evitar os protestos contra o titular da Fazenda, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, foi escalado para conversar com líderes do PT. “Levy está no caminho certo”, disse Wagner ao Estado. “Além de ajustar as contas e a economia, vai apontar novos caminhos para a retomada do desenvolvimento com crescimento e renda. Nós confiamos nele.”

A agenda pós-ajuste que o PT vai apresentar no 5.º Congresso prevê a defesa do imposto sobre grandes fortunas, da taxação de heranças e do lucro líquido das empresas. O PT também vai pregar a volta da CPMF. 

Sem pedras. “Não existe separação entre o partido e o governo”, afirmou Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual Lula faz parte. Em carta enviada aos 800 delegados do encontro de Salvador, Rochinha lembrou que o ex-presidente também promoveu corte de gastos e disse que nenhuma tendência do PT pode se “arvorar” em criticar o ajuste porque todas estão presentes no partido, no governo e, portanto, têm “telhado de vidro”. 

“Por acaso José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) não apoiam o ajuste fiscal?”, provocou o dirigente petista, em referência aos ministros da Mensagem ao Partido, segunda maior corrente petista, que lidera as críticas à política econômica de Levy, e da Democracia Socialista (DS), ala mais à esquerda da sigla. “Então, que não venham atirar a primeira pedra.” 

Na mesma linha, o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP), do Movimento PT – fiel da balança em votações internas –, disse não se incluir entre os que querem malhar Levy. “Se temos de fazer reparos à política econômica, que façamos ao governo, porque, caso contrário, estaremos terceirizando as críticas.”

Integrante da Mensagem, o secretário de Formação Política do PT, Carlos Árabe, prevê a formação de “dois blocos” no encontro. “Um defendendo mudança na política e na estrutura partidária, e outro pela manutenção das posições conhecidas até agora, podendo até recuar na questão do financiamento empresarial”, provocou. “Nós queremos a mudança.”