Título: Exportações já sentem baque
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Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2011, Economia, p. 11

O volume de café em grão brasileiro embarcado caiu 17,8% em julho

Ainda que os grandes números não mostrem, as exportações brasileiras já estão sentindo o baque da crise mundial, sobretudo o risco de recessão que ronda Europa e Estados Unidos. Antes mascarado pelos altos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional), o saldo da balança comercial tende a mostrar, dentro de dois ou três meses, os impactos negativos das turbulências. Números do Ministério de Indústria e Comércio Exterior (Mdic) trazem o sinal de alerta. Em julho, houve queda no volume exportado de café, soja e carne.

No caso do café em grão, a quantidade caiu 17,8%, e o preço, 0,1%, na comparação com junho. Mas, em relação ao mesmo período de 2010, a queda da quantidade foi de 13,8%. O preço está, no entanto, bem maior: uma diferença de 64,8%. O mesmo ocorre com a soja em grão, que teve queda de 17,9% na quantidade embarcada em relação a junho, enquanto o preço subiu apenas 0,5% no mesmo período. Em relação há um ano, enquanto o volume recuou 16,8%, o preço é 25,4% mais alto, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Mdic.

A situação mais crítica envolve o óleo de soja e as carnes de porco e de frango, que registraram queda de preço e quantidade, na comparação entre julho e junho deste ano. O maior tombo foi nos cortes suínos, cujos volumes caíram 34,7% e preços, 9,4%. No frango, o recuo foi 10,9% em quantidade e de 2% no valor. No óleo de soja, a queda chegou a 12,4% e 1,5%, respectivamente.

Especulação Apesar de exibir um superavit ainda expressivo, a balança comercial brasileira preocupa os especialistas. Dados do governo apontam queda de 7,8% nas exportações na segunda semana de agosto em relação à primeira. Na mesma comparação, as importações devem avançar 4,8%. Paulo Sandroni, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressaltou que o maior perigo para o Brasil em uma recessão global está na queda nas exportações, já que produtos básicos são sempre atingidos por crises externas.

O consultor Welber Barral, que comandou a Secex durante o governo Lula, chama a atenção para outro aspecto: "Grande parte do superavit dos últimos dois anos é resultado da forte alta dos preços das commodities. O que estava havendo era muita especulação nesse mercado. Agora, por conta da crise nos EUA e da Europa, a tendência é que os preços caiam". (RH)