Valor econômico, v. 16, n. 3761, 22/05/2015. Brasil, p. A4

 

Petrobras pôs à venda cinco grupos de ativos, incluindo áreas do pré-sal

 

Por Vanessa Adachi | De São Paulo

Dentro do seu plano de vender ativos para reduzir o pesado endividamento, a Petrobras colocou à venda efetivamente, até agora, cinco grupos de ativos, apurou oValor. Em seu conjunto, ainda insuficientes para entregar a meta anunciada de obter US$ 13,7 bilhões com a venda de ativos, segundo fontes de mercado. Na maior parte dos casos, a estatal pede propostas para fatias minoritárias o que, segundo pessoas que analisam as oportunidades, tende a reduzir os preços pagos pelos interessados.

Um dos ativos mais valiosos no pacote à venda é o parque de geradoras de energia térmica, com capacidade de 7 gigawatts. O Bradesco BBI foi contratado para vender uma fatia de 49% das térmicas. Há grandes empresas globais interessadas, mas o processo encontra como obstáculo o fato de as térmicas não possuírem um contrato de fornecimento de gás com a Petrobras. Seria necessário firmar acordos de fornecimento para atrair o interesse de sócios. Mas, nesse caso, a definição de preços é complexa. Não seria possível fornecer o gás a um preço abaixo do de mercado para as térmicas a partir do momento em que elas passassem a contar com outros sócios. Estariam em estudo outras opções para as térmicas, como usá-las como garantia de linhas de crédito para a estatal.

Ao lado das térmicas, o outro ativo mais valioso é um conjunto de quatro campos de petróleo, em processo coordenado pelo Bank of America. Segundo uma fonte, tratam-se de áreas situadas nas bacias marítimas de Campos e de Santos e todos integrantes dos blocos do pré-sal. São o BMC-33, Tartaruga Verde (BMC-36), Júpiter (no bloco BMS-24) e o BMS-8. Tratam-se de ativos anteriores à lei que obriga a estatal a ser operador único na sua exploração.

Há expectativa de que a estatal busque sócios minoritários para seus gasodutos e se desfaça de sua fatia na Braskem

No primeiro dos blocos, o BMC-33, em águas ultraprofundas do pré-sal da bacia de Campos, a Petrobras tem uma participação de 30%. Está presente na área em parceria com a Repsol, que é a operadora com uma fatia de 35%, e com a norueguesa Statoil, também com 35%. Nesse bloco, a principal descoberta é o campo Pão de Açúcar, com reservas estimadas em 700 milhões de barris de petróleo e 3 trilhões de pés cúbicos (TCFs) de gás. A reserva inclui outras duas descobertas: os campos Seat e Gávea.

O campo de Tartaruga Verde pertence 100% à estatal e tem um potencial de reservas estimado em 230 milhões de barris. Será colocado em produção junto com outro campo vizinho, o Tartaruga Mestiça, e ambos vão compartilhar a plataforma FPSO Cidade de Campos dos Goytacazes, já encomendada à Modec.

Por sua vez, o campo de Júpiter, considerado um gigante do pré-sal que fica distante 37 km do campo de Lula (antigo Tupi), tem participação de 80% da Petrobras, tendo como sócia a portuguesa Galp, com 20%. Ele é visto como um dos onerosos em termos de investimento, pois exigirá muita tecnologia para exploração devido à indesejável presença de gás carbônico (CO2) em grandes quantidades, o que significa também que será necessária a utilização de tecnologia avançada para separação desse gás, que não pode ser queimado na atmosfera.

No bloco BMS-8 foi descoberto o campo de Carcará, também próximo a Lula. A petrolífera brasileira tem uma fatia de 66% e é a operadora. Está no projeto em parceria com a portuguesa Petrogal, dona de 14%, e com a Barra Energia e Queiroz Galvão petróleo, cada uma com 10%. As duas empresas adquiriam fatia de 20% que pertencia a Shell.

Todos esses campos têm previsão de entrar em produção a partir de 2021 e vão exigir um grande volume de investimentos até lá. A ideia é justamente livrar a Petrobras do peso desses aportes. Contudo, dado os atuais preços do petróleo e o fato de os projetos exigiram elevados investimentos, a venda pode não ser fácil.

Alguns grupos de investidores interessados têm indicado que gostariam que o pacote incluísse também campos já em fase de produção, ou seja, com alguma geração de receita imediata.

Há uma expectativa de que o plano de negócios que a estatal prometeu divulgar em junho, mas ainda sem data, traga esclarecimentos sobre esse aspecto e outros do processos de desinvestimento.

Outro bloco de ativos é composto pelas 21 distribuidoras de gás natural em que a estatal detém participação acionária. A ideia é atrair um grupo disposto a comprar 49% da holding que controla as distribuidoras de gás da estatal, a Gaspetro. O Itaú BBA foi contratado para encontrar esse comprador. A japonesa Mitsui é sócia em algumas das distribuidoras e pode ser uma candidata natural a fazer uma oferta pela participação na holding.

A estatal também busca um sócio minoritário para a Petrobras Distribuidora (BR), dona dos postos de gasolina com bandeira da estatal. Nesse caso, o mandato foi entregue ao Bradesco BBI. Os postos de gasolina em outros países da América do Sul - Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai - também estão à venda e o Citi foi mandatado para vender o controle acionário dessas redes. A intenção é vender todos para um único grupo. Os postos da Argentina ficam fora do processo.

Além dos cinco grupos de ativos, há uma expectativa de que a estatal busque sócios minoritários para seus gasodutos, algo que ainda não aconteceu. A venda da fatia acionária que possui na petroquímica Braskem também chegou a ser cogitada, mas até agora não existe nada de concreto. (Colaborou Cláudia Schuffner, do Rio)