Título: Crise congela alta dos juros
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2011, Economia, p. 10

Alexandre Tombini, do BC, admite que a crise internacional pesará na decisão do Copom, com reunião marcada para o fim deste mês.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deixou claro, ontem, em entrevista à imprensa estrangeira, que a forte piora da economia internacional será determinante para que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a taxa básica de juros (Selic) em 12,50% ao ano, na reunião marcada para o fim deste mês. "Em junho e julho, o banco enfatizou a crescente incerteza global e alguns dos riscos que agora estão se materializando. As perspectivas globais vão no sentido de menor crescimento", disse ele. Ou seja, com a produção e o consumo se desacelerando, a inflação tenderá a convergir mais rapidamente para o centro da meta, de 4,5%, ao longo dos próximos meses, o que afasta a necessidade de novos apertos monetários.

Na avaliação de Tombini, o ritmo de expansão da economia brasileira já está bastante moderado. Isso pode ser confirmado pela queda do IBC-br, de 0,26%, em junho na comparação com maio ¿ o índice é uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país. Com isso, acrescentou ele, as perspectivas para a inflação são "bem promissoras". Nas contas do BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para o sistema de metas, ainda baterá em 7% no acumulado de 12 meses, mas cairá sistematicamente até abril do próximo ano, período em que não se espera altas nos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional), como ocorreu nos últimos meses de 2010.

Queda à vista Segundo o presidente do BC, até o mês passado, o impacto da crise internacional sobre a inflação era considerado "neutro ou ambíguo". Mas como o quadro externo se tornou "mais desafiador", isto é, mais complexo, com os Estados Unidos e a Europa à beira da recessão, o Copom terá de se render à atual realidade, de preços em acomodação. Não à toa, boa parte do mercado já admite a possibilidade de o BC ser obrigado a cortar a taxa Selic ainda neste ano, para evitar um desaquecimento mais brusco da economia. Tombini garantiu que não há riscos de um tombo na atividade. "O que vemos é moderação no crescimento do Brasil, em linha com o que temos comunicado aos mercados e à sociedade", assinalou.

No seu entender, tanto o emprego, que dá sinais de enfraquecimento, quanto o crédito, que deve crescer menos, darão uma boa contribuição para pôr a inflação nos eixos e aliviar as pressões sobre o BC. A ajuda será complementada pelo ajuste fiscal, com resultados "muito fortes, em linha com o que precisamos atingir (economia de 3% do PIB para o pagamento de juros da dívida)", disse. E completou: "Olhando à frente, é importante manter essa vantagem fiscal".

FED TEME CONTÁGIO O Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), está preocupado com a possibilidade de quebra de filiais de bancos europeus que operam na maior economia do mundo. A autoridade monetária está observando de perto todas as operações das unidades, depois que uma instituição recorreu ao Banco Central Europeu (BCE) em busca de um empréstimo de US$ 500 milhões para honrar compromissos nos EUA, mesmo tendo que pagar juros muito acima dos cobrados no mercado. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde fevereiro último. Na avaliação do Fed, há o risco de o sistema financeiro norte-americano ser contaminado caso alguma filial de instituição europeia quebre. O acompanhamento dos principais bancos da Europa nos EUA está sendo feito pela agência do Fed de Nova York. "A preocupação é grande", destacou um funcionário do Federal Reserve.