Em depoimento em março deste ano, o ex- presidente da construtora Camargo Corrêa Dalton Avancini apresentou o nome de executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez que, segundo ele, teriam participado de reunião em que se discutiu o pagamento de propina ao PMDB no empreendimento da usina Angra 3 já durante as investigações da Operação Lava- Jato. O encontro teria acontecido em agosto de 2014, na sede de outra construtora, a UTC, com a presença do presidente global da Andrade Gutierrez Energia, Flavio Barra, e o Diretor Superintendente na Odebrecht Infraestrutura, Fábio Gandolfo, além de Avancini e representantes de outras empreiteiras participantes do consórcio vencedor para instalação e montagem de equipamentos na usina.
Essa informação foi um dos argumentos usados pelo juiz federal Sérgio Moro para decretar na semana passada a prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Ambas seguem afirmando que nunca tiveram participação nos esquemas de propina.
Avancini contou à Justiça Federal do Paraná que, além de aspectos técnicos do contrato que seria assinado com a estatal Eletronuclear, foi discutido o pagamento de propinas ao PMDB e a funcionários da estatal. O contrato estava estimado em R$ 18 bilhões.
“Nessa reunião também foi comentado que havia compromissos do pagamento de propinas ao PMDB no montante de 1%e a dirigentes da Eletronuclear, ficando acertado que cada empresa iria buscar os seus respectivos contatos a fim de promover o acerto junto aos agentes políticos”, diz trecho da delação premiada de Avancini.
O empresário termina o depoimento dizendo que não saberia informar o nome de pessoas que teriam recebido as propinas. Em setembro de 2014, ele foi preso na Operação Lava- Jato.
Esse depoimento foi prestado em 12 de março deste ano, pouco antes do empresário seguir para prisão domiciliar. No dia 14 do mesmo mês, ele falou sobre um suposto esquema de propina no empreendimento da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Nesta oportunidade, Avancini apontou o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte e irmão do ex- ministro Antonio Palocci, Adhemar Palocci, como um dos envolvidos no esquema na estatal.
A citação a Adhemar foi feita quando o empresário falava sobre como as empreiteiras se organizaram para fazer pagamentos ao PMDB. “Paloccinho teria algum envolvimento com o recebimento das propinas”, diz trecho da delação.
Avancini não deu mais informações acerca do irmão do ex- ministro. Ele disse que mais detalhes poderiam ser obtidos com o então diretor da Área de Energia da Camargo Corrêa na época das negociações, Luiz Carlos Martins.
O GLOBO não localizou Adhemar Palocci . A Odebrecht informou em nota ontem que o depoimento de Avancini não surpreende a construtora porque existe uma rivalidade antiga entre as duas empresas. “Sempre foram públicas as desavenças entre a Camargo Corrêa e a Odebrecht na disputa de importantes contratos, o que não surpreende que o executivo da Camargo, sentindo- se obrigado a prestar declarações em troca de sua liberdade, o faça motivado por um sentimento de vingança concorrencial”, diz a nota.
YOUSSEF VOLTA A ENVOLVER MENTOR
A Andrade Gutierrez reafirmou que “nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a quem quer que seja, nem participou de esquemas ilícitos de favorecimento a políticos”.
Em depoimento ontem, o doleiro Alberto Youssef reafirmou que entregou dinheiro no escritório do deputado federal José Mentor ( PT- SP) a mando do ex- deputado André Vargas ( sem partidoPR). Em fevereiro, ele havia afirmado que deixou R$ 388 mil no escritório do parlamentar. A quantia teria como origem notas fiscais frias emitidas em nome da empresa IT7, do irmão de André Vargas. Mentor afirmou ontem desconhecer a declaração de Youssef.