Nova fase da Lava Jato prende cúpulas da Odebrecht e da Andrade Gutierrez

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

 

Em nova fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal prendeu ontem as cúpulas do Grupo Odebrecht e da construtora Andrade Gutierrez, as duas maiores empreiteiras do País. Foram presos preventivamente o empreiteiro Marcelo Odebrecht e o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, além de outros dez executivos ligados às duas construtoras.

Batizada de Operação Erga Omnes, a 14.ª fase da Lava Jato é uma continuidade do cerco ao chamado braço empresarial do esquema de corrupção na Petrobrás iniciado em novembro do ano passado com a prisão de outros 15 executivos e ex-dirigentes de empreiteiras suspeitas de formar um cartel para atuar em contratos com a estatal.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal sustentam que já existem provas de que as construtoras e seus dirigentes capitaneavam o esquema de cartel e fraudes em licitações “como uma prática de negócios”.

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Marcelo Odebrecht, preso nesta sexta-feira, 19. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Segundo o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, as prisões foram motivadas por pagamentos de propina no exterior via empresas offshore, principalmente direcionados a integrantes das Diretorias de Abastecimento e Serviços da Petrobrás.

Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, e Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal – que firmaram delações, citaram a Odebrecht e a Andrade Gutierrez como pagadoras de propinas por meio de “operadores” do esquema.

O suíço Bernardo Freiburghaus, que deixou o Brasil e voltou ao seu país de origem após a operação ser deflagrada em março do ano passado e é considerado foragido – foi apontado como o operador da Odebrecht no esquema. Pela Andrade Gutierrez, a operação de propina era feita por Fernando Soares, o Fernando Baiano.

Segundo os procuradores e delegados federais, as duas construtoras teriam distribuído R$ 710 milhões em propinas no período de 2004 a 2014. A força-tarefa estimou em R$ 510 milhões os desembolsos ilegais da Odebrecht e em R$ 200 milhões da Andrade Gutierrez.

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Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Complexidade. No despacho em que autorizou as prisões e mandados de busca e apreensão, o juiz federal Sérgio Moro disse que o esquema desenvolvido nesta fase era mais complexo do que o apurado anteriormente. “Pelas provas até o momento colhidas, a Odebrecht pagaria propina de forma mais sofisticada do que as demais empreiteiras, especialmente mediante depósitos em contas secretas no exterior”, afirmou Moro.

“Não só há prova oral da existência do cartel e da fixação prévia das licitações entre as empreiteiras, com a participação da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, mas igualmente prova documental consistente nessas tabelas, regulamentos e mensagens eletrônicas.”

No pedido de prisão, o Ministério Público Federal citou uma troca de e-mails entre executivos e o presidente da Odebrecht. O documento apreendido na sede da Odebrecht em novembro de 2014 faz, conforme a força-tarefa, faz referência a sobrepreço de US$ 25 mil por dia no contrato de operação de sondas.

Bloqueio. A Justiça Federal determinou ainda o bloqueio de R$ 20 milhões dos presidentes e dos executivos das empreiteiras Odebrecht e da Andrade Gutierrez. O sequestro de ativos mantidos em suas contas correntes também havia sido pedido pelos procuradores federais.

Foram presos preventivamente os executivos da Odebrecht Márcio Faria, Rogério Araújo e Cesar Ramos Rocha, além do ex-diretor da empresa João Antônio Bernardi Filho. Cumprem prisão temporária Alexandrino de Salles Alencar, executivo da Odebrecht, e Cristina Maria da Silva Jorge, funcionária de empresa ligada à construtora. Além do presidente da Andrade Gutierrez, também foram presos preventivamente Elton Negrão e Paulo Roberto Dalmazzo. Antônio Pedro Campelo de Souza e Flávio Lúcio Magalhães cumprem prisão temporária.

Os executivos Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo foram presos no início da manhã de ontem em São Paulo, em suas residências. Todos os 12 detidos da foram levados para a custódia da Polícia Federal em Curitiba.

Em novembro do ano passado, foram levados para a cadeia executivos das empreiteiras Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS e UTC Engenharia. As ações penais que têm esses executivos como réus estão prontas para as sentenças.