Valor econômico, v. 16, n. 3765, 28/05/2015. Brasil, p. A3

 

Queda do PIB no 1º tri atingiu mais setores, dizem analistas

 

Por Arícia Martins e Tainara Machado | De São Paulo

Até então mais concentrado na indústria e nos investimentos, o desempenho pífio da atividade ficou evidente em outros setores no primeiro trimestre, com o endurecimento da política econômica no início do segundo mandato do governo Dilma Rousseff. De acordo com a média das projeções de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidos pelo Valor Data, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,5% entre janeiro e março sobre os três meses anteriores, com ajuste sazonal, depois de ter subido 0,3% no último trimestre de 2014.

As previsões para as Contas Nacionais Trimestrais, a serem divulgadas amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variam entre queda de 0,1% a retração de 1% no período.

Para economistas, o baque sentido pelo mercado de trabalho deve ter levado o consumo das famílias a cair no trimestre, o que também derrubou a demanda por serviços. A indústria continuou a afundar, dizem, e nem mesmo a desvalorização da taxa de câmbio deve ter dado algum alento à economia, apesar da melhora esperada para o setor externo. Como essas condições não se alteraram no início do segundo trimestre, a avaliação é que a atividade ainda não bateu no fundo do poço e a estimativa preliminar é de queda de 0,8% do PIB entre abril e junho.

 

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Segundo Flávio Serrano, economista-sênior do Besi Brasil, a perda de ritmo da atividade foi mais disseminada neste início de ano e chegou ao emprego, que há pouco tempo ainda não respondia ao enfraquecimento da economia. Esse espalhamento, diz Serrano, teve reflexos na demanda doméstica - soma do consumo das famílias, do governo e dos investimentos -, que deve ter recuado mais do que o PIB total no primeiro trimestre. "Isso faz parte do ajuste. Estamos reequilibrando a economia", afirma ele, para quem o produto encolheu 0,5% entre janeiro e março.

Para o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), não restam dúvidas de que o ajuste fiscal e monetário vem conseguindo esfriar a economia além do que já vinha ocorrendo nos últimos meses de 2014, mas esse processo ainda não chegou ao fim. Os economistas Silvia Matos e Vinícius Botelho estimam que o PIB recuou 0,1% entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro deste ano e destacam que, no período, o setor com pior desempenho pelo lado da oferta foi o de serviços, e não a indústria.

Enquanto o PIB industrial diminuiu 0,3% de janeiro a março nos cálculos do Ibre, a queda nos serviços foi de 0,5%, com desaquecimento em cinco dos sete subsetores que compõem esse ramo de atividade. Segundo Silvia e Botelho, os segmentos de transporte, comércio e outros serviços são mais sensíveis ao ciclo econômico, e indicadores como as pesquisas de serviços e emprego do IBGE mostram deterioração no primeiro trimestre. No segmento de transporte, por exemplo, a retração esperada pelos analistas é de 2,4%.

Já Leandro Padulla, da MCM Consultores, avalia que o comportamento negativo da indústria deve ter se acentuado no início do ano, apesar do aumento da produção extrativa. Em seus cálculos, o recuo do setor industrial foi de 0,9% nos três meses encerrados em março, influenciado principalmente pelo tombo de 2,4% estimado para a transformação. "O efeito da mudança da política fiscal e do 'realismo tarifário' é contracionista no curto prazo, o que continuará afetando a indústria via custos, uma vez que será difícil repassá-los ao consumidor em um ambiente de demanda fraca".

O economista também observa que a perspectiva para o PIB da construção, que compõe a atividade industrial e deve ter encolhido 1,9% no primeiro trimestre, é ruim, com previsão de queda em ao menos mais um trimestre. "A menor disponibilidade de crédito, em contexto de custo mais alto, será um fator limitante para o segmento neste ano."

Do lado da oferta, o único componente do PIB que cresceu nos três primeiros meses do ano é a agropecuária, que, de acordo com a estimativa média de nove analistas, avançou 1,1% sobre o trimestre anterior. Serrano, que trabalha com alta de 0,4% para o setor agropecuário, afirma que o segmento é dinâmico e tem acumulado ganhos de produtividade nos últimos anos, ao contrário do restante da economia.

Pela ótica da demanda, a avaliação é que a confiança muito reduzida de empresários e de consumidores derrubou os investimentos e o consumo. Nos cálculos do Itaú, a demanda das famílias recuou 1,6% no primeiro trimestre, pior resultado desse componente do PIB desde o quarto trimestre de 2008. Para o economista Felipe Salles, a queda da renda real, provocada pela redução da ocupação e inflação elevada no primeiro trimestre, explicam em boa parte a retração forte do consumo.

Com crédito mais escasso, crise na construção civil e estoques ainda elevados, o ânimo dos empresários para investir segue baixo. Para nove economistas ouvidos pelo Valor Data, esse deve ser o sétimo trimestre seguido de queda da Formação Bruta de Capital Fixo, com retração de 2,8% entre janeiro e março.

Por outro lado, a desvalorização do câmbio já deve mostrar influência sobre o setor externo, que a partir de agora tende a dar contribuição mais positiva para o crescimento da atividade econômica. O Itaú estima crescimento de 6,2% para as exportações, mais forte do que o aumento de 3% esperado para as importações, sempre em relação ao último trimestre de 2014.

 

Brasil perde posições e tem pior marca em ranking de competitividade

 

Por Flavia Lima | De São Paulo

O Brasil atingiu a sua pior marca em ranking de competitividade divulgado pelo instituto suíço IMD. Dentre 61 países analisados sob diferentes critérios, o Brasil ficou com a 56ª posição, à frente somente de Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela. A piora não é recente: o país perdeu 16 posições no ranking desde 2010. A diferença dessa vez é que a queda foi comandada pelo desempenho da economia. Em seis anos, o índice de competitividade brasileiro caiu 20%, afastando o país das nações mais competitivas do mundo.

"O Brasil tem bons fundamentos, mas está perdendo oportunidades", diz o porta-voz global da pesquisa, Arturo Bris. "O fato é que o país vai ter que pagar um certo preço para se tornar competitivo", diz ele em referência a reformas que considera importantes, como a trabalhista.

O 'World Competitiveness Yearbook 2015', publicado pelo IMD desde 1989, analisa como 61 países criam e mantêm um ambiente que sustente a competitividade de suas empresas, gerando condições para um crescimento econômico sustentável. Aqui no Brasil, a Fundação Dom Cabral (FDC) foi a responsável pela coleta e análise dos dados.

No topo da lista de 2015 estão os EUA, Hong Kong, Cingapura e Suíça. Entre os latino-americanos, o Chile se mantém na melhor posição (35º lugar), seguido do México (39º). Entre os asiáticos, o destaque continua sendo a Malásia na 14ª posição, seguida da China, na 22ª posição.

Como fatores críticos à competitividade, a pesquisa analisa desempenho da economia, eficiência do governo e dos negócios e a infraestrutura. As maiores perdas do Brasil vieram do desempenho da economia. O crescimento de apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, ao lado da previsão de contração de 1% em 2015, dificuldades em controlar o déficit fiscal e a inflação, cuja previsão é chegar a 8,2% em 2015, contribuíram para a má avaliação.

A inserção do país no comércio internacional é vista como obstáculo, com um indicador de exportação de produtos em proporção do PIB de 9,59%, ante média mundial de 41,44%. A queda das commodities prejudicou o país.

Conhecido gargalo à competitividade, a infraestrutura tem colocado o Brasil há vários anos entre os piores do ranking. Segundo a pesquisa, a crise hídrica, que vem afetando o abastecimento de energia e de água no último ano, contribui para a queda do país nessa categoria, e o risco de racionamento ainda é um dos principais desafios competitivos ao país. No quesito infraestrutura tecnológica e educacional, mesmo com os aumentos dos investimentos públicos em educação no último ano, de 5% para 5,8% do PIB, o país ainda ocupa as últimas posições em quase todos os indicadores de percepção da qualidade da mão de obra e da educação técnica e fundamental.