Valor econômico, v. 16, n. 3765, 28/05/2015. Empresas, p. B2

 

Remuneração de conselheiro cresce acima da inflação

 

Por Thais Carrança | De São Paulo

A remuneração dos conselheiros de administração das empresas de capital aberto cresceu acima da inflação em 2013, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), obtido com exclusividade pelo Valor.

A pesquisa, realizada neste ano com base informações publicadas pelas empresas, mostra porém uma desaceleração em relação à alta identificada em 2012. O fenômeno deverá se aprofundar em 2014 e 2015, segundo o IBGC, diante da deterioração da situação econômica, com impacto sobre o lucro das empresas.

No entanto, o temor de executivos em assumir cargos em conselhos, após a operação Lava-Jato, pode elevar os pagamentos a conselheiros um pouco mais adiante.

 

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A mediana da remuneração média anual do conselheiro por empresa saiu de R$ 129,5 mil em 2012 para R$ 144,6 mil em 2013, alta de 11,7% - diante de uma inflação medida pelo IPCA de 5,91% naquele ano. No caso dos diretores, a mediana da remuneração passou de R$ 1,099 milhão para R$ 1,235 milhão, num crescimento de 12,3%, em igual base de comparação.

A mediana é o ponto central entre menores e maiores valores na série de médias anuais de remuneração per capita nos órgãos de administração. O parâmetro é menos suscetível a distorções do que a média, que considera a soma dos valores observados dividida pelo número de observações.

Em 2012, a alta na mediana da remuneração de conselheiros e diretores havia sido de 20,6% e 12%, respectivamente, em relação ao ano anterior. Apesar do crescimento em menor ritmo em 2013, a superintendente de conhecimento do IBGC, Adriane de Almeida, avalia que o avanço acima da inflação ainda indica valorização dos conselhos de administração, com crescente profissionalização destes colegiados, que vem acompanhada de salários maiores.

Por segmento de listagem da BM&FBovespa, houve aumento na mediana de remuneração dos conselheiros no segmento tradicional de empresas e queda entre as listadas no Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. Em parte, segundo o IBGC, isso se deve à redução dos valores médios pagos como remuneração variável aos conselheiros.

Da amostra de 272 empresas, 56 (ou 21% do total) pagaram seus conselheiros com remuneração variável de curto prazo ou por ações, além da parcela fixa. Considerada apenas a parcela de remuneração fixa, as medianas das empresas de todos os segmentos de listagem apresentaram aumento em relação ao ano anterior, com exceção das empresas do Nível 2.

No caso da diretoria, em que 76% das companhias adotam remuneração variável, os efeitos da deterioração econômica deverão ser ainda maiores. "A remuneração variável certamente será afetada nos próximos estudos", acredita Adriane. Ela explica que essa parcela da remuneração geralmente é divida entre participação nos lucros e resultado (PLR), atrelada ao desempenho anual, e bônus, que varia de empresa a empresa, mas geralmente também considera resultados passados.

"O bônus talvez demore mais para cair, mas a PLR já deve diminuir num ano ruim. Em 2014 e 2015, é bem possível uma queda da remuneração total por menor PLR. E a remuneração em ações também [pode recuar], porque o mercado de capitais não está tão bom, e a remuneração pode acompanhar isso", considera Adriane.

Em 2013, consideradas apenas as parcelas fixas pagas a diretores, também houve aumento da remuneração em todos os segmentos de listagem. Nas parcelas variáveis, houve queda das medianas nas empresas do Nível 2 e do segmento tradicional.

Apesar do provável impacto do recuo nos lucros sobre a remuneração nos próximos estudos, Adriane destaca um outro efeito em sentido contrário: as atuais investigações de corrupção em andamento aumentaram a cautela de executivos em aceitar cargos nos conselhos de empresas. Com isso, eles também devem exigir pagamentos maiores, diante dos riscos pessoais, no caso da empresa ser processada.

"Os conselheiros não tinham noção do nível de responsabilidade a que estão submetidos. Com o que está acontecendo, eles vão ficar mais atentos e podem pedir salários maiores", diz a superintendente, avaliando que os efeitos disso, no entanto, só deverão ser percebidos no exercício de 2016.

Por fim, a especialista em governança destaca o aumento da presença de conselhos fiscais nas empresas. Em 2013, 64% das companhias possuíam esse tipo de conselho, número que subia a 96% entre as empresas do Nível 1. No ano anterior, estes indicadores estavam em 62% e 90%, respectivamente.

"O crescimento da instalação de conselhos fiscais está relacionado com o maior ativismo dos acionistas minoritários", explica Adriane. Isso porque o conselho fiscal é uma porta de entrada mais fácil para os acionistas não controladores: com 5% das ações sem direito a voto, os minoritários podem eleger um conselheiro fiscal, enquanto que, para o conselho de administração, é necessário 10% do total de papéis.