O globo, n. 29947, 04/08/2015. Opinião, p. 15

Pré-requisito para crescer

Luiz Cláudio Costa

Luiz Cláudio Costa é secretário-executivo do Ministério da Educação

Um crescimento sustentável,
amparado socialmente, culturalmente e economicamente, e com oportunidades iguais para todos, só se faz por meio da educação

OBrasil avançou muito nos últimos anos, mas ainda há muito o que fazer. Apenas 55,3% dos jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio; o Plano Nacional de Educação (PNE) apresenta a meta de 85%. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino médio apresenta uma estagnação em torno de 3,7, nas duas últimas avaliações, abaixo da meta estabelecida.

A contribuição do Brasil para a produção científica mundial é em torno de 2,4%, com aproximadamente 2,8% da população mundial. Um avanço, mas um desempenho bem abaixo, por exemplo, da Austrália, que possui 0,3% da população mundial e contribui com 3% da produção de conhecimento.

Entre os diversos desafios do país para alcançar e manter um crescimento sustentável e obter avanços sociais, econômicos e culturais para todos os brasileiros, além da continuidade da expansão quantitativa e qualitativa da educação básica e superior, está, sem perda de tempo, enfatizar, em todos os níveis de ensino, o desenvolvimento da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática — algo que diversos países do mundo já vêm realizando faz algum tempo. Tal ênfase é fundamental para aumentar o nosso fluxo de conhecimento e inovação e melhorar a vida de todos os brasileiros. A estimativa é que 75% das ocupações que crescem mais rapidamente no mundo demandem sólidos conhecimentos nessas áreas.

O país realizou em todas as esferas de governo um amplo investimento em educação. Existe um entendimento de toda a sociedade de que um crescimento sustentável, amparado socialmente, culturalmente e economicamente, e com oportunidades iguais para todos, só se faz por meio da educação.

É verdade que, por diversas razões, tal entendimento demorou a chegar ao Brasil, o que nos leva ao desafio de termos que fazer muito em pouco tempo. Não se trata somente de superar as históricas deficiências da educação nacional, mas também de assegurar a participação do país no desenvolvimento global.

Ao contrário do que apontam certas vozes pessimistas, o Brasil fez muito nos últimos anos. No ensino fundamental, são 28,5 milhões de matrículas. Com isso, praticamente universalizamos o acesso à escola da população de 6 a 14 anos (98,4%). No ensino médio, 8,3 milhões de jovens estão nas salas de aula, cerca de três milhões a mais do que há 20 anos.

Importantes avanços também aconteceram na educação profissional, na qual saltamos de 693 mil (2007) para 1,37 milhão de matrículas em 2014. Na educação superior e na pós-graduação, os números também mostram os avanços dos últimos anos. Hoje se formam no Brasil mais de 50 mil mestres e cerca de 15 mil doutores.

Os Institutos Federais de Ciência e Tecnologia, presentes hoje em 590 municípios, podem ser o caminho para iniciarmos essa opção qualificada por um ensino técnico integrado ao ensino médio com foco em ciências aplicadas. É muito importante que os nossos estudantes, desde a educação básica, sejam estimulados nas áreas técnicas e científicas. Por outro lado, investimentos nessas áreas não devem competir nem inibir a necessidade de investimentos nas áreas de ciências sociais e humanidades, fundamentais para a melhor compreensão e busca de solução dos nossos desafios sociais.