Valor econômico, v. 16, n. 3760, 21/05/2015. Brasil, p. A2

 

Após ganhos no 1º tri, Petrobras deve voltar ter perda com defasagem de preço

 

Por Flavia Lima e Ana Conceição | De São Paulo

 

Silvia Costanti/ValorWalter de Vitto: recuperação exigiria manter preços elevados por longo tempo

A Petrobras pode voltar a registrar perdas com a venda de gasolina e diesel no mercado interno, alterando um cenário mais favorável para a empresa registrado desde novembro do ano passado. Em maio, a expectativa de analistas é que a diferença entre os preços da gasolina no mercado interno e externo volte a ficar desfavorável à estatal pela primeira vez no ano - o que, se não reverte totalmente os ganhos obtidos pela empresa no período mais benigno, pode dar início à reversão desse quadro.

Entre novembro do ano passado e março deste ano, cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estimam que a Petrobras tenha acumulado ganhos de R$ 7,1 bilhões com a diferença entre os preços da empresa no mercado interno e as cotações internacionais da gasolina e do óleo diesel. Desse total, R$ 2,1 bilhões são referentes à gasolina e R$ 5 bilhões ao diesel. Segundo a consultoria, o cálculo para abril ainda não pode ser feito pela indisponibilidade de dados cuja divulgação cabe à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Estimativas da GO Associados apontam que o preço médio do litro da gasolina vendida no Brasil deve encerrar maio 2% mais baixo do que o cobrado pelo combustível na média das refinarias do mercado internacional, puxado pela alta dos preços do petróleo no mercado internacional e a estabilidade da taxa de câmbio ao redor de R$ 3,00 no mês. A Tendências Consultoria vê uma defasagem da gasolina de 2,7% até o dia 19 de maio e também espera que maio seja o primeiro mês de perdas para a Petrobras com a gasolina no ano.

O diesel, no entanto, que é parcela mais relevante no faturamento da Petrobras, ainda é comercializado com vantagem de 9,7% se comparado aos preços internacionais, nas contas da Tendências. Para a GO Associados, o combustível deve encerar o mês com uma vantagem de 9% para a Petrobras em relação aos preços internacionais.

Embora os dados ainda deem vantagem à Petrobras, a trajetória é cadente. Desde o último reajuste promovido pela estatal, em 7 de novembro do ano passado, até o dia 19, os preços são negociados com vantagem no mercado local de 15,6% no caso da gasolina e de 19% no caso do diesel, segundo a Tendências. Uma semana antes, porém, a vantagem era de 16% para a gasolina e 19,2% para o diesel.

Walter De Vitto, analista de energia da Tendências, ressalta que, desde fevereiro, dois movimentos ajudaram a alterar o quadro para a estatal: a desvalorização do real, que deixa o preço em dólares convertido em reais mais alto, e a alta internacional do petróleo, que é o principal custo de produção da gasolina.

"No caso do diesel, a Petrobras ainda tem um ganho, mas para receber toda a perda do passado, essa diferença tinha que se manter por muito tempo", afirma.

Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2014, a Petrobras deixou de ganhar cerca de R$ 55 bilhões com combustíveis que vende internamente a preços menores do que o externo, segundo estimativas da CBIE. A gasolina representou perda de R$ 16,3 bilhões e o diesel, de R$ 38,7 bilhões. O quadro começou a virar para a estatal no segundo semestre do ano passado diante da forte baixa dos preços do petróleo no mercado internacional.

Em janeiro deste ano foi atingido o pico dessa trajetória mais benigna. No período em que o óleo do tipo WTI foi vendido a US$ 48 o barril e taxa média do câmbio ficou em R$ 2,64, a gasolina vendida no Brasil chegou a ser comercializada 62% mais cara do que no mercado internacional, nas contas da GO Associados. Esse percentual foi caindo ao longo do ano, mas a conta ainda era favorável a Petrobras em abril (+3%), segundo a consultoria. No caso do diesel, o pico também foi em janeiro, quando a Petrobras o vendia com vantagem de 61%, caindo para 27% em fevereiro, 20% em março e 19% em abril.

Daqui para frente, diz Fabio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da GO, as expectativas são menos benignas para os preços. Segundo ele, há uma tendência nítida no mercado internacional de alta do preço do petróleo e derivados no segundo trimestre, o que é uma fonte de preocupação. "Se essa alta persistir e a taxa de câmbio permanecer no nível de R$ 3,00 não há duvida que vai ser preciso subir os preços da gasolina em meados do ano ou até antes", diz ele.

Mesmo para o diesel, ressalta Silveira, que ainda sustenta uma diferença importante a favor da Petrobras, a trajetória pode mudar pela mesma lógica: preço do petróleo em alta lá fora e real estável ou com valorização apenas discreta nos próximos meses. Segundo Silveira, os sinais mistos da economia americana indicam que uma alta dos juros não seria recomendada neste ano, o que vem dando força tanto a títulos de mercados emergentes quanto para as commodities, em especial o petróleo.

Para 2015, diz Vitto, a expectativa é que o barril do petróleo a US$ 70 no fim do ano e um dólar a R$ 3,06 abra espaço para que a gasolina encerre o período, na média, em paridade com os preços internacionais. Já o diesel teria uma vantagem, na média do ano, de 5% a 10%. Diante desse quadro, diz Vitto, a Tendências espera um aumento do preço de gasolina em 2016.

Para o diesel, que é a principal fonte de prejuízo para a Petrobras com importação, a projeção é de manutenção dos preços. Para Vitto, se as condições dos preços do petróleo e do câmbio mais favoráveis do início do ano tivessem se mantido a Petrobras poderia encerrar o período com uma folga ainda importante, de 10% a 15% a favor no diesel, e de 10% a favor para a gasolina.