O globo, n. 29909, 27/06/2015. País, p. 7

Pimentel admite que não pagou viagem a resort com a mulher

JAILTON DE CARVALHO e EDUARDO BRESCIANI 

Governador critica o inquérito da PF, que chamou de ‘midiático e pirotécnico’

A defesa do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, reconheceu ontem que não foi mesmo ele quem pagou as despesas do um fim de semana que desfrutou em um resort de luxo na Bahia com a mulher, Carolina Oliveira. De acordo com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, a namorada do empresário Benedito Oliveira, conhecido como Bené, tinha um crédito no hotel e deu a viagem de presente a Carolina. Desse modo, o governador busca se isentar da suspeita de corrupção levantada pela Polícia Federal em relatório enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para basear a segunda fase da Operação Acrônimo. Na versão da defesa, a primeira-dama mineira também não teria cometido qualquer ilegalidade porque não era mais funcionária pública na ocasião.

MANOEL MARQUES/IMPRENSA MG/DIVULGAÇÃONa defensiva. Um dia depois de operação da PF, Fernando Pimentel recebe medalha da Defensoria Pública em BH

No relatório, a PF incluiu a viagem como um indício de recebimento de “vantagem indevida” por Pimentel. Em novembro de 2013, quando era ministro de Desenvolvimento, ele passou dois dias com a mulher no resort de luxo Kiaroa em Maraú, no litoral baiano. A estadia custou R$ 12,1 mil e os registros mostram que teria cabido a Pedro Augusto de Medeiros, um preposto de Bené, fazer o pagamento. Os investigadores afirmam ainda que o empresário pagou o deslocamento aéreo de Carolina e Pimentel.

Pimentel era ministro do governo Dilma e não poderia receber presente superior a R$ 100, segundo prevê um código de conduta. Kakay argumenta que a viagem foi acertada entre Juliana Sabino de Souza, a namorada de Bené, e Carolina, num acordo sem qualquer vínculo com o setor público. A PF relata que Bené e a namorada já tinham se hospedado no resort em junho de 2012 e que foi a BR Distribuidora quem pagou R$ 15,7 mil pela hospedagem naquela ocasião. Procurada pelo GLOBO, a subsidiária da Petrobras pediu mais tempo para apurar a veracidade da informação.

Kakay afirma ainda que Carolina não recebeu dinheiro dos grupos Mafrig Global Foods e Casino, como acusa a Polícia Federal. Ela teria recebido apenas R$ 18 mil para fazer um portal na internet para o Instituto Marfrig. Relatório da PF levanta a suspeita de que Carolina tenha recebido R$ 595 mil do Marfrig e R$ 362,8 mil do Casino. A polícia diz que as empresas tinham interesses no BNDES e sugere que os repassses poderiam ter, como destinatário final, o governador.

— Carolina não recebeu dinheiro da Mafrig, não prestou serviços ao Casino. É uma acusação absurda, irresponsável — disse Kakay.

As investigações começaram com a apreensão, em outubro do ano passado, de R$ 116 mil em espécie em um avião com três passageiros, todos ligados a Pimentel, no Aeroporto de Brasília. Bené estava no avião e, na primeira fase da operação, no mês passado, foi preso pela PF acusado de integrar uma organização criminosa com a utilização de empresas de fachada. Após analisar a documentação apreendida nessa fase, a PF remeteu ao STJ pedido de investigação contra Pimentel por lavagem de dinheiro, corrupção e participação em organização criminosa.

Um dia depois da segunda etapa da operação, que cumpriu 19 mandados de busca e apreensão em três estados e no Distrito Federal, Pimentel recebeu ontem o Grande Colar da Defensoria Pública, em Belo Horizonte. Ele aproveitou a cerimônia para criticar a investigação da PF:

— Sem dúvida nenhuma perde a Justiça, e perde muito, quando os inquéritos se transformam em espetáculos midiáticos, pirotécnicos, colocando no lixo as regras judiciais e até de sigilo judicial.

Além da viagem, a PF apontou outras três linhas de investigação que envolveriam Pimentel e sua esposa. Os investigadores suspeitam de caixa dois na campanha que levou à eleição dele a partir de ordens de serviço apreendidas na gráfica de Bené que a PF suspeita terem sido fraudadas. (Com G1)

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Petista entregou imóveis do governo na pré-campanha

CHICO DE GOIS 

Fotos foram anexadas em investigação reaberta por ordem de Gilmar Mendes

A investigação sobre supostos crimes eleitorais cometidos pelo atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), mostra que o petista participou de eventos de entrega de imóveis e de maquinários de programas do governo federal, no ano passado, quando não ocupava nenhum cargo público. A denúncia feita pelo PSDB havia sido arquivada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mineiro. Na quarta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes determinou a reabertura da investigação e disse que o material está repleto de fotos e indícios de que Pimentel se beneficiou eleitoralmente da exposição.

De acordo com a denúncia do PSDB, que perdeu a eleição para o petista ainda no primeiro turno, Pimentel e seu vice, Antônio Andrade (PMDB), participaram de oito eventos de programas do governo federal nos três meses que antecederam o início da campanha. Pimentel deixou o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio em fevereiro de 2014, e Andrade saiu do Ministério da Agricultura em março. Mesmo assim, segundo a denúncia do PSDB, os dois estiveram no palanque da presidente Dilma Rousseff na entrega de diplomas do Pronatec, na doação de máquinas para prefeituras e na entrega de imóveis do programa Minha Casa Minha Vida. Em pelo menos duas ocasiões, quando Dilma não compareceu, Pimentel e Andrade atuaram como uma espécie de mestres de cerimônia, entregando eles mesmos as chaves.

— Isso vai ter que ser reexaminado. O TRE vai ter que reabrir lá. É só ver o processo. Está cheio de fotos. Dizem que eles não eram, mas já eram pré-candidatos — disse Gilmar Mendes.

A assessoria de imprensa do governo de Minas não quis comentar o caso.