O globo, n. 29909, 27/06/2015. Mundo, p. 36

Senadores: Maduro aceita ‘recall’ em 2016

MARIA LIMA
 

Segundo comitiva brasileira, grupos relataram violações de direitos humanos

No encontro com os senadores brasileiros anteontem, em Caracas, o homem forte do chavismo e presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Diosdado Cabello, disse que os líderes rebeldes da oposição não conseguirão derrubar Nicolás Maduro através de golpe. No entanto, de acordo com o senador e membro do Parlasul Roberto Requião (PMDB-PR) — ao comentar a ação dos oposicionistas Leopoldo López, Antônio Ledezma e Daniel Ceballos — o presidente da Assembleia admitiu que se conseguirem as assinaturas de 20% dos eleitores inscritos, ou seja, pelos meios legais, eles poderiam tentar a mudança do regime. Isso através de um referendo revocatório, a partir do ano que vem — o que é previsto na Constituição de 1999.

— Depois da eleição legítima, os rebeldes da oposição foram para as ruas e disseram: “Só sairemos quando derrubarmos Maduro.” E aí aconteceram aquelas atrocidades. Diosdado nos disse: “Se querem derrubálo, que o façam pelas vias constitucionais. Se conseguirem as assinaturas e o retirarem pelo referendo revocatório, aceitaremos” — relatou Requião.

O chamado recall está previsto no Artigo 72 da Constituição. Nele consta que após passar metade do período para o qual foi eleito, o presidente pode ser retirado do cargo se, no mínimo, 20% dos eleitores assinarem o pedido de convocação do referendo. Maduro foi eleito em abril de 2014 e estará sujeito ao recall no mesmo mês de 2016.

Vice de Hugo Chávez em 2002 e agora presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello é a maior liderança do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Segundo Requião, apesar do fortalecimento das novas lideranças da oposição, ele tem uma previsão otimista sobre as eleições de dezembro para o PSUV, que, segundo Cabello, deve passar dos atuais 99 deputados para 126. As pesquisas, no entanto, indicam o contrário: segundo algumas empresas de consultoria venezuelanas, como o instituto Datanálisis, a oposição tem uma vantagem ampla, que pode passar de 20 pontos percentuais.

Sobre a libertação dos detidos, Cabello não admite que sejam presos políticos, mas sim responsáveis pelo massacre nas manifestações de 2014, quando policiais e manifestantes dos dois lados foram mortos.

O senador peemedebista admitiu que todos os grupos ouvidos — esposas de presos e integrantes do comitê de vítimas das manifestações — reclamaram de violação dos direitos humanos e excesso policial. Ele disse que esse é um assunto que tem de ser resolvido, mas não pode ser usado como motor para os protestos contrários ao governo.

CAPRILES: PARCERIA COM BRASIL

Segundo o senador Telmário Mota (PDT-AC), o peso político deste grupo de opositores já incomoda Henrique Capriles, que disputou e perdeu por apenas 1,5% a eleição para Maduro. No encontro, este outro líder da oposição se mostrou como uma terceira via mais moderada para o país. Capriles afirmou, segundo relato, que se ganhar as eleições vai se aproximar das bases de Chávez e governará sem perseguição nem retaliações. Ele teria alegado, ainda, querer parceria com autoridades políticas brasileiras.

Por fim, os senadores destacaram que a viagem “foi um sucesso”. O embaixador do Brasil na Venezuela, Ruy Pereira, os recebeu no aeroporto.

Mitzy Capriles, mulher de Antonio Ledezma, também se mostrou animada com as consequências da visita brasileira. — Tomara que sirva de algo essa visita!