Valor econômico, v. 16, n. 3747, 02/05/2015. Política, p. A10

 

Patrus e Katia disputam comando de agência

 

Por Cristiano Zaia | De Brasília

 

Ruy Baron/Valor - 11/3/2015Patrus Ananias: petista trabalha para emplacar João Marcelo Intini na vaga

Mais de um ano após a criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), os ministros Kátia Abreu, da Agricultura, e Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, travam uma disputa nos bastidores pelo seu comando, num momento em que os articuladores políticos do governo se debruçam sobre as indicações para cargos de segundo e terceiro escalão. O assunto ainda não chegou à mesa da presidente Dilma Rousseff e será o Palácio do Planalto que definirá os nomes que comandarão o órgão.

A Anater até conta com orçamento de R$ 1,2 bilhão, mas até hoje não saiu do papel porque sua diretoria não foi nomeada. Criada para repassar recursos às chamadas Emater, institutos de assistência técnica regionais, celebrar convênios e contratar empresas ou institutos para prestar essa atividade nos Estados, a agência foi idealizada para atuar como um Serviço Social Autônomo, a exemplo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Em sua estrutura, conta com uma presidência, três diretorias, um conselho administrativo e integrantes de quatro entidades sindicais de cooperativas, trabalhadores, agricultores familiares e empresas do agronegócio.

Em uma das frentes, o ministro articula nomes para a presidência e as diretorias da Anater com o objetivo de manter sob a influência de sua Pasta e do PT a assistência técnica associada ao público dos pequenos agricultores. Ananias inclusive já informou em conversas reservadas com dirigentes de entidades representantes de trabalhadores rurais e parlamentares que um nome de consenso no partido para a presidência da Anater seria o do engenheiro agrônomo João Marcelo Intini, técnico ligado ao PT, com experiência na área de extensão rural, e que atualmente é diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

 

Ruy Baron/Valor - 16/1/2015Kátia Abreu: pemedebista tenta abrir espaço na agência para Caio Rocha

Essa indicação, apesar de ainda não formalizada à Presidência, foi uma solução encontrada no MDA em substituição ao nome de Valter Bianchini, secretário afastado do ministério por problemas de saúde e que era dado como certo para presidir a Anater. Além do mais, o interesse dos petistas, principalmente do diretório gaúcho, também se dá num momento em que o governo busca se reaproximar dos movimentos sociais - Ananias já anunciou que retomará o processo de assentamentos de reforma agrária no país.

"Estamos sentindo que agora o governo está determinado a fazer funcionar a Anater. Falei com o ministro Patrus nos últimos dias e ele garantiu que os nomes da diretoria estão sendo avaliados junto com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)", disse Alberto Brochi, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Em outra frente, porém, a ministra Kátia Abreu se vale de sua proximidade com a presidente Dilma e já se movimenta para ter influência sobre a Anater e assim poder viabilizar sua principal promessa política: ascender 800 mil produtores rurais da classe D para a C ao longo de quatro anos, dobrando a classe média rural. Kátia quer emplacar pelo menos para uma das diretorias seu secretário de Desenvolvimento e Cooperativismo, Caio Rocha, que assumiu esse posto em 2011, na gestão do ex-ministro Mendes Ribeiro. Ligado ao PMDB, ele é técnico com carreira na Emater do Rio Grande do Sul e tem como padrinhos o ministro Eliseu Padilha, da Aviação Civil e um dos coordenadores políticos do governo, e o próprio vice-presidente da República, Michel Temer. A ministra inclusive deve criar uma nova secretaria em sua Pasta, a de Interlocução e Mobilidade Social, voltada para desenvolver seu plano. Ela já apresentou como sua futura secretária a dentista com carreira na área social Tânia Maria Garib.

Apesar de manterem boa convivência, esse não é o primeiro episódio que põe os dois ministros de Dilma em lados opostos. Em seus respectivos pronunciamentos de posse, em janeiro, eles discordaram em relação à existência de latifúndios no Brasil.