O globo, n. 29887, 05/06/2015. País, p. 4

Sogro de Pizzolato critica governo e PT por ‘esforço’ pela extradição

Daniel Biasetto, Evandro Éboli e Carolina Brígido

Itália nega recurso da defesa de ex-diretor do BB e mantém decisão

O Tribunal Administrativo Regional de Lazio, na Itália, negou recurso do mensaleiro petista Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, e manteve a decisão de extraditá-lo para o Brasil. Horas depois, o sogro de Pizzolato, João Francisco Haas, acusou o PT e o governo Dilma de fazerem esforço exagerado pela extradição: “Querem salvar o governo com essa extradição. Acho lastimável.” Os advogados do condenado entrarão com novo recurso na Itália. -ROMA E BRASÍLIA- João Francisco Haas, sogro do ex- diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado por participação no escândalo do mensalão, criticou ontem o PT e o governo Dilma por estarem fazendo um esforço exagerado para obter a extradição do mensaleiro da Itália para o Brasil. O sogro fez a queixa poucas horas depois de o Tribunal Administrativo Regional do Lazio, na Itália, negar o recurso da defesa de Pizzolato e manter a decisão de extraditá-lo para o Brasil.

ALEXANDRO AULER/12-02-2015 Decisão. Pizzolato é conduzido por policiais na Itália: ex-diretor teve recurso contra extradição negado por tribunal

Haas, que é pai de Andrea, mulher de Pizzolato, se mostrou indignado com a extradição cada vez mais próxima.

— O que a gente estranha é esse esforço do PT e do governo da Dilma em extraditá-lo. Querem salvar o governo com essa extradição. Sei lá o que está havendo. Acho lastimável. Lastimo muito que o governo do PT esteja fazendo todo esse esforço. Não quero falar mais nada — disse Haas ao GLOBO.

“EXTRADIÇÃO PODE DEMORAR”

A defesa de Pizzolato já anunciou que vai recorrer da decisão de ontem do TAR ao Conselho de Estado italiano. A deputada ítalo-brasileira no parlamento italiano, Renata Bueno, estimou ontem que a decisão final sobre a extradição ainda levará meses. Ela afirmou que é provável que Pizzolato recorra ainda à Corte de Direitos Humanos da União Europeia, além das instâncias da Itália.

Se a extradição for confirmada, Pizzolato — condenado a 12 anos e 7 meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato — pode ser extraditado para o Brasil, onde cumprirá pena no Presídio da Papuda, em Brasília.

O sogro de Pizzolato, que mora em Porto Alegre, tinha expectativa que a situação do ex-diretor do Banco do Brasil mudasse ontem. Em entrevista no mês passado, Haas afirmou que a família tem receio do que possa ocorrer com Pizzolato numa penitenciária brasileira, mas não revelou que temores são esses. Haas lançou recentemente o livro “O verdadeiro processo do mensalão”, em que sustenta que Pizzolato é inocente.

Em nota conjunta divulgada ontem, os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores, a Advocacia Geral da União e o Ministério Público Federal do Brasil demonstraram confiança na possibilidade de trazer em breve o condenado para uma penitenciária brasileira.

“A decisão de hoje (ontem) volta a atribuir eficácia plena à decisão do Ministério da Justiça da Itália que concedeu a extradição. Com isso, o Brasil poderá extraditar Henrique Pizzolato assim que o Ministério da Justiça italiano fixar nova data inicial para a operação, o que se espera ocorrer muito em breve”, diz a nota.

Sobre a possibilidade de novos recursos, inclusive ao Conselho de Estado italiano, a nota diz: “O Brasil está pronto para atuar também perante o Conselho de Estado, se necessário, e acredita que eventual recurso não será deferido”.

PF TEM ESQUEMA PRONTO

A Polícia Federal brasileira já está com esquema montado na Itália para viabilizar a extradição de Pizzolato para o Brasil. Assim que o Ministério da Justiça da Itália fixar a data para a extradição, o governo brasileiro terá o prazo de 20 dias para trazê-lo. A PF acredita que não será necessário usar todo esse tempo e que o retorno do ex-diretor do BB condenado no mensalão vai se dar bem antes de esgotar esse prazo.

Pizzolato voltará ao Brasil num voo de carreira, acompanhado de vários agentes federais. O governo brasileiro não trabalha com data para que a extradição ocorra, pelo fato de ainda haver recursos pendentes.

Na Itália, a deputada Renata Bueno também manifestou confiança de que a extradição de Pizzolato é só questão de tempo:

“O ministro de Justiça italiano (Andrea Orlando) deixou muito claro que os procedimentos (de extradição) estão todos corretos e bem fundamentados. Não tem possibilidade de a decisão de extradição ser modificada. É provável que, nos próximos meses, teremos Pizzolato retornando ao Brasil. É preciso aguardar só mais um pouco por estes trâmites italianos”, disse ela, em nota.

Dez anos após o mensalão, o Banco do Brasil irá, agora, cobrar na Justiça parte desse dinheiro e ajuizará uma ação contra o operador do esquema, Marcos Valério, e o próprio Pizzolato. A avaliação do BB é que não poderia cobrar todo o valor que está no acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF), que condenou ambos. O valor exato é mantido sob sigilo.