O globo, n. 29887, 05/06/2015. Rio, p. 10

Leônidas Pires Gonçalves. General e ex-ministro do Exército, aos 94 anos

Nos ‘anos de chumbo’, o militar dirigiu o DOI-Codi. No processo de redemocratização, foi determinante para garantir a posse de José Sarney na presidência

Personagem importante dos chamados “anos de chumbo”, o general Leônidas Pires Gonçalves foi ministro do Exército durante o governo de José Sarney ( 19851990), quando se tornou um dos fiadores da passagem do regime militar para a democracia. Antes, no auge das denúncias de prisões políticas e de torturas nos quartéis do Exército, de 1974 a 1977, dirigiu o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio de Janeiro.

Na redemocratização, apoiou a eleição de Tancredo Neves. Com a internação do presidente eleito, Leônidas, já escolhido ministro do Exército, foi determinante para garantir a posse de José Sarney, impedindo a volta do poder para os militares.

“Sarney me disse que estava muito constrangido de assumir sem o Tancredo. Eu lhe disse que tinha dado muito trabalho organizar tudo, que seu argumento não valia. Encerrei dizendo: ‘boa noite, presidente’. Ali, ele se deu conta de que era o presidente da República”, contou o general Leônidas em entrevista concedida ao programa “Conexão Globo-News” que comemorou os 25 anos do fim do regime militar.

Natural de Cruz Alta (RS), Leônidas formou-se na Escola Militar do Realengo, em 1942. Sua primeira unidade foi o 6° Grupo Móvel de Artilharia de Costa (GMAC), na cidade de Rio Grande (RS). Durante a ditadura, nos anos de 1974 a 1977 e já no posto de general, Leônidas foi chefe do Estado-Maior do 1º Exército, no Rio, e, posteriormente, comandante militar da Amazônia. Em 1983, exerceu o Comando do 3º Exército, em Porto Alegre.

Em dezembro de 2014, no relatório final da Comissão Nacional da Verdade ( CNV), o nome de Leônidas apareceu como um dos responsáveis por violações dos direitos humanos. Também em entrevista à GloboNews, o general disse que, naquela época, foi travada uma guerra, com torturas e mortes dos dois lados. Ele também afirmou que os governantes que hoje estão no poder devem “agradecer de joelhos” pelo que foi feito na “revolução de 1964”.

Leônidas morreu ontem, aos 94 anos, no Rio. O velório será realizado amanhã, no Palácio Duque de Caxias, das 8h30m às 11h30m. O corpo será cremado às 13h, no Crematório São Francisco Xavier, no Caju. O general deixou viúva, dois filhos, quatro netos e sete bisnetos.