O globo, n. 29926, 14/07/2015. País, p. 4

Dilma pressiona Renan a votar já projeto que eleva imposto

SIMONE IGLESIAS, EDUARDO BRESCIANI, WASHINGTON LUIZ E MARIA LIMA 

Senador tenta adiar para depois do recesso debate sobre oneração da folha de pagamento

- BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff deve receber o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para uma conversa hoje às 10h, quando tentará convencê-lo a pôr em votação esta semana o projeto que aumenta impostos sobre a folha de pagamentos das empresas. Ontem, após conversa com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Renan disse estar preocupado com o aumento do desemprego e que seria mais prudente deixar a votação para depois do recesso.

AILTON DE FREITASAlerta. Levy diz ser preciso concluir a votação do ajuste fiscal já, para que 2016 seja “o ano da colheita de resultados”

Dilma insistirá com Renan para antecipar a votação, para que o pacote de ajuste fiscal seja concluído neste semestre legislativo, que se encerra sexta- feira. A reunião entre eles está sendo organizada pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

O governo pede pressa na votação porque haverá ainda um prazo de 90 dias, após a sanção presidencial, para que as regras entrem em vigor.

Após a reunião com Levy, Renan disse ser mais prudente deixar para após o recesso parlamentar, que vai até 1 º de agosto, a votação do projeto.

— Vamos decidir o que fazer com a desoneração da folha de pessoal. Estamos muito preocupados. O desemprego tem aumentado, o custo de produção também, a indústria tem perdido competitividade. Talvez seja mais prudente deixar a votação do projeto para o próximo semestre (legislativo, que começa em agosto) — disse Renan.

Levy demonstrou preocupação com a possibilidade de a proposta ser votada no Senado só em agosto. Para ele, a medida precisa ser apreciada o quanto antes para acelerar a recuperação da economia:

— Celeridade é importante. A principal questão de não atrasar a votação é que não queremos que assunto de ajuste contamine 2016. Devemos fazer o dever de casa agora para 2016 ser ano de colheita de resultados, não de permanência de ajustes — afirmou Levy.

A Câmara aprovou a proposta em junho, após intensa negociação com a equipe econômica do governo. Alguns setores foram poupados do aumento de tributo — como os de transportes, call center, comunicações, confecções e alguns produtos da cesta básica. No Senado, discute-se a ideia de beneficiar todos os setores abrangidos pela medida com a redução da tributação. Caso o Senado mude o texto, ele precisará voltar à Câmara.

LÍDER DO PT FAZ APELO

O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), fez um apelo no plenário para que o Senado aprove o texto da Câmara. Ele disse que o governo se compromete a, no prazo de 45 dias, enviar proposta que beneficie de forma isonômica todos os setores produtivos, como quer Renan. Delcídio disse que o governo pode enviar medida provisória ou outro projeto para atender ao desejo do PMDB:

— Não há insensibilidade. É uma questão fiscal. Sendo adiada a votação, com a “noventena” vamos jogar o efeito fiscal para janeiro — apelou Delcídio.

O governo é contra mudança no texto. Argumenta que perde R$ 1 bilhão em receita a cada mês de atraso na aprovação da medida. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) pediu (e foi atendido), que Renan faça hoje uma reunião com o colégio de líderes para resolver o impasse.