Título: Ataque no Sinai agrava questão palestina
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Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2011, Opinião, p. 22
O temor se concretizou. A primavera árabe, que derrubou a ditadura egípcia, respingaria em Israel. A questão era saber quando. Hosni Mubarak garantiu a segurança no Sinai durante os 30 anos em que se manteve no poder. Tratando a área como território inimigo, encheu-a de soldados e, com isso, ajudou a reforçar o bloqueio a Gaza. Com a renúncia do homem forte em fevereiro deste ano, a presença do Exército na fronteira diminuiu. O risco, claro, aumentou.
Uma série de ataques coordenados contra civis e militares na quinta-feira mostrou a fragilidade da área. O saldo: 31 feridos e oito israelenses mortos, dos quais seis civis e dois militares. Foi a mais grave ação terrorista em dois anos. Ninguém assumiu a autoria dos atentados, mas Telavive respondeu com violência. Bombardeou a Faixa de Gaza e matou seis pessoas ¿ um comandante e três militantes dos Comitês de Resistência Popular, grupo acusado de planejar os atos de violência.
Os atentados fogem à triste rotina da troca de agressões entre palestinos e judeus. Em primeiro lugar, porque abrem nova área de conflito, controlada com mão de ferro durante três décadas pelo Egito. Em segundo, porque criam suspeitas de que a Al-Qaeda estende os tentáculos para o Sinai. Por último, mas talvez a questão mais importante, porque dentro de um mês as Nações Unidas devem reconhecer o Estado palestino. Os palestinos devem conseguir o voto dos 2/3 dos membros da Assembleia Geral.
A vitória na ONU, porém, não significará necessariamente o nascimento imediato de um país. Israel antecipou a posição de que a conquista dos vizinhos no fórum multilateral implicará graves retaliações. Telavive ameaçou desconhecer todos os acordos até agora firmados com os palestinos. Entre eles, o mais importante ¿ o de Oslo, que criou a Autoridade Palestina (AP). A AP, vale lembrar, está longe de ser considerada um Estado. Não tem Forças Armadas e as águas territoriais são controladas pela marinha israelense.
Se Israel concretizar as ameaças, a situação, séria, se tornará seriíssima. A fogueira será alimentada com combustível adicional se Telavive fechar a fronteira com o Egito sob o argumento de que ela se tornou uma ameaça, não só em razão dos ataques mas também do contrabando de armas. Qual a reação do governo egípcio ante o gesto de hostilidade? A resposta é uma incógnita. Em suma: o primeiro ato traumático pós-primavera árabe agravou a explosiva questão palestina que pressiona o barril de pólvora em que se transformou o Oriente Médio.