Valor econômico, v. 16, n. 3763, 26/05/2015. Agronegócio, p. B10

Câmbio ainda compensa queda dos preços da soja

 

Por Mariana Caetano e Fernando Lopes | De São Paulo

Apesar da apreciação do real em relação ao dólar nas últimas semanas, o câmbio continua a compensar, para os produtores de soja do Brasil, a queda das cotações internacionais do grão. Mesmo que insumos importados como fertilizantes e defensivos também fiquem mais caros, o movimento fortalece estimativas que indicam uma nova expansão da produção do país na safra que começará a ser semeada em meados de setembro (2015/16).

Segundo cálculos da Agroconsult, do início de agosto de 2014 até 20 de maio, a baixa da commodity na bolsa de Chicago fez com que os sojicultores brasileiros perdessem R$ 10 por saca de 60 quilos, em média. Mas a valorização da moeda americana gerou um ganho de R$ 20. Apenas neste mês, também até o dia 20, Chicago tirou R$ 25 por saca dos produtores da oleaginosa no país, mas o câmbio agregou R$ 26.

 

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"O produtor não vendeu bem a soja. Na prática, vendeu bem o câmbio", afirma Marcos Rubin, sócio da Agroconsult. Ele observa que, com as oscilações cambiais, o produtor dos EUA comercializou o grão que colheu na safra 2014/15, no segundo semestre do ano passado, a um valor médio 25% menor que em 2013/14. Enquanto isso, no Brasil, a colheita deste primeiro semestre (safra 2014/15) sofreu uma erosão de preços que pode ser considerada pequena na comparação com igual período da temporada anterior.

Os cálculos do Ministério da Agricultura para o valor bruto da produção (VBP) brasileira de soja em grão também expõem esse impacto cambial. Em real, a previsão do departamento de gestão estratégica da Pasta sinaliza alta de 2,8% em 2015 sobre 2014, para R$ 94,1 bilhões. Em dólar, levando-se em conta a Ptax média de 2014 (R$ 2,3550) e do primeiro quadrimestre deste ano (R$ 2,9129), a comparação resulta em uma redução de 17%, para US$ 32,3 bilhões.

Na semana passada, após uma relativa recuperação do real em relação ao dólar - e antes da valorização de 2,85% do dólar de quinta-feira passada até ontem -, os preços da soja em moeda brasileira passaram a ficar mais pressionados em quase todos os principais polos de produção. Em Sorriso, no norte de Mato Grosso, a média da saca até o dia 20 ficou em R$ 52, R$ 3 aquém do mesmo período de 2014, conforme a Agroconsult. Na sexta-feira, a saca caiu para R$ 51,40 na região, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

No Paraná, o recuo na semana passada foi de 1,41%, para uma média de R$ 56,31 na sexta-feira, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado. Em Mato Grosso do Sul, o preço médio da oleaginosa caiu 1,13% no intervalo, a R$ 55, segundo a Aprosoja-MS, entidade que representa os produtores locais.

Mesmo assim, há situações pontuais em que o câmbio mantém as cotações em real mais elevadas que há um ano. Em Rondonópolis, Mato Grosso, o preço médio dos primeiros 20 dias de maio foi de R$ 57, ante R$ 54 no mesmo período de 2014. Na sexta-feira, a saca saiu por R$ 56.

Ainda que a volátil equação formada por câmbio e preço turve os cálculos de rentabilidade dos produtores brasileiros na temporada 2015/16, o cenário traçado pela Agroconsult - que projeta que a soja ficará, em média, a US$ 9 por bushel na bolsa de Chicago na temporada e que o dólar ficará em R$ 3 no fim deste ano -, segue positivo.

Segundo a consultoria, os produtores do médio-norte de Mato Grosso poderão ter margem positiva de R$ 165 por hectare. No Paraná, a média poderá alcançar R$ 486. Quando a Agroconsult previa o dólar a R$ 3,10 no fim do ano, evidentemente as margens previstas eram maiores. Mas as reduções também refletem custos. Rubin diz que a expectativa é de uma alta de 15% a 20% nesses custos, para pelo menos R$ 2,2 mil por hectare - em março, a perspectiva era de um incremento de 13%.

Ele também observa que, se a soja continuar a cair em Chicago e o câmbio não mantiver a saca acima de R$ 45 no médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, a comercialização da safra 2014/15 perderá força e que novos ajustes virão.(Colaborou Fernanda Pressinott)