Desemprego vai a 6,7% e deve afetar o PIB

 

Taxa de maio é a maior para o mês em cinco anos. Em 12 meses, renda do trabalho tem queda de 5%

26 jun 2015

LUCIANNE CARNEIRO 

FABIO TEIXEIRA

“A perda da renda vai prejudicar qualquer ajuste na economia” Claudio Dedecca Professor do Instituto de Economia da Unicamp

Em maio, taxa atinge 6,7%, a maior para o mês desde 2010. Renda do trabalhador registra queda de 5% Desemprego maior, renda menor, queda do contingente de trabalhadores com carteira assinada e aumento daqueles por conta própria, além de retorno dos jovens à busca por trabalho. A extensa série de indicadores negativos presentes na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de maio, divulgada ontem pelo IBGE, mostra a piora abrupta do mercado de trabalho, abalado pela enfraquecida economia brasileira.

A taxa de desemprego atingiu 6,7% em maio nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE ( Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre), a maior taxa para o mês em cinco anos, desde 2010. Isso significa uma alta de 1,8 ponto percentual frente aos 4,9% de maio de 2014. Essa expansão anual é a maior da série histórica da pesquisa, que começou em março de 2002, e já havia sido registrada em outubro de 2003. O desemprego também avançou frente a abril, quando foi de 6,4%, embora a variação não seja considerada estatisticamente significativa pelo IBGE.

A fraqueza do mercado de trabalho também foi observada na renda. Em um ano, entre maio de 2014 e maio de 2015, a renda caiu 5%, já descontando a inflação. O valor médio caiu de R$ 2.229,29 para R$ 2.117,10, considerando a mesma base de comparação. Foi a maior queda real na renda, na comparação anual, desde janeiro de 2004, quando houve recuo de 5,9%. Frente a abril, a perda foi de 1,9%.

— Quando se olha para 2014, hoje, o desemprego é maior, e a renda é menor — afirma a técnica do IBGE Adriana Beringuy, responsável pela pesquisa.

Esse recuo da renda está empurrando de novo as pessoas de volta ao mercado de trabalho. No ano passado, a população não economicamente ativa — aqueles que têm idade para trabalhar, mas que não estão em busca de trabalho — estava aumentando fortemente. A renda das famílias vinha permitindo, por exemplo, que jovens adiassem a entrada no mercado de trabalho para estudar. Agora, esse movimento se inverte. Na faixa etária de 18 a 24 anos, houve queda de 1,2% entre maio de 2014 e maio de 2015. Para se ter uma ideia, o mesmo grupo tinha registrado alta de 7% entre maio de 2013 e maio de 2014.

Com aumento do desemprego e queda na renda, a massa dos rendimentos — que é a soma do rendimento dos trabalhadores atualmente empregados — caiu 5,8%, maior recuo desde dezembro de 2003, quando encolheu 6,8%. O dado é considerado preocupante pelo professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia. Ele considera haver chance de uma recessão da economia brasileira superior à projeção do mercado, hoje de 1,5%:

— A massa dos rendimentos é um indicador próximo ao consumo das famílias, que responde por uma parcela importante do Produto Interno Bruto (PIB). Se essa queda continuar nesse nível, apostaria em uma redução até mais intensa do que a esperada pelo mercado.

Essa avaliação é compartilhada pelo professor do Instituto de Economia da Unicamp Claudio Dedecca, que destaca que o consumo não poderá mais ser o motor da expansão da economia.

— A perda da renda vai prejudicar qualquer ajuste na economia. Diria que nada, ou muito pouco, do crescimento se dará pelo consumo. Vamos depender mais de exportações — afirma Dedecca, que desconfia que esse recuo da renda pode continuar até 2016.

EMPREGO COM CARTEIRA ASSINADA RECUA 1,8%

A própria qualidade dos empregos gerados pelo mercado mostra sua deterioração. De um lado, recuou o contingente de trabalhadores com carteira assinada. Eram 11,514 milhões de pessoas em maio, 213 mil a menos que em maio de 2014, ou queda de 1,8%. Por outro, avançou a parcela daqueles que trabalham por conta própria — sem acesso a direitos trabalhistas, como pagamento de férias e décimo terceiro salário. O aumento foi de 3,2% frente a maio do ano passado, para 4,359 milhões de pessoas, 136 mil a mais.

— Vemos a reversão de um movimento desejável que aconteceu no mercado de trabalho, que foi o aumento de quem tinha carteira assinada e recuo dos conta própria. Piora a qualidade do emprego — diz Saboia.

O aumento do desemprego em maio foi determinado principalmente por uma alta de 38,5% da população desocupada, na comparação com maio de 2014. É a maior taxa de expansão anual do indicador da série histórica. Significa que, em um ano, 454 mil pessoas passaram a fazer parte da população desocupada, que chegou a 1,633 milhão de trabalhadores. Ao mesmo tempo, o mercado não tem conseguido gerar vagas. A população ocupada caiu 0,7% frente a maio de 2014, o que representa 155 mil pessoas a menos.

— Saímos de uma conjuntura de redução da desocupação para outra em que há crescimento grande da desocupação. Ao mesmo tempo, o mercado não dá conta de absorver esse aumento da procura por trabalho — explica Adriana.

DETERIORAÇÃO DEVE SE ESTENDER A 2016

E as previsões para os próximos meses não são positivas: o mercado de trabalho ainda vai piorar. Economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio, José Marcio Camargo vê um cenário ruim até 2016:

— Teremos o desemprego crescendo todo mês de 2015 em relação aos mesmos meses do ano passado. E não deve acabar neste ano. Temos uma economia com taxa de inflação de 8,8% e em forte recessão. O PIB deve cair neste ano 1,8% e, provavelmente, continuará em queda em 2016, com 0,5%. Tudo isso vai fazer com que a taxa de desemprego continue alta.

O economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti prevê que a taxa de desemprego chegue a 7,5% em dezembro, com média anual de 6,3%. A perda de vagas da indústria, lembra ele, agora se espalha por outros setores, como serviços e comércio.