Uma base em conflito
 
Matheus Teixeira 
04/06/2015
 
A saída de Celina Leão do bloco de apoio ao governo é derrota do governador Rodrigo Rollemberg na Câmara Legislativa. Trabalho agora é fazer com que não haja uma debandada do grupo pró-Buriti. Pedetista evita polêmica por críticas de dentro do partido
 
Com uma base aliada frágil, a principal demonstração de força do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) no Legislativo, do começo do ano para cá, tinha sido a eleição de Celina Leão (PDT) para a presidência da Casa. Adversária declarada de apoiadores da gestão de Agnelo Queiroz (PT), que tinha maioria no parlamento até fim de 2014, Celina era vista pelo chefe do Executivo como a melhor opção no comando do parlamento — mesmo com o fato de ela contar com antipatia de alguns colegas deputados. Agora, com o rompimento da pedetista, que era a mais fiel aliada do Executivo, a vida do Palácio do Buriti vai ficar mais difícil — a aprovação de projetos de lei do Executivo, consequentemente, tornou-se ainda mais improvável (veja Os obstáculos de Rollemberg).
 
Depois do discurso crítico da distrital ao GDF, surgiram notícias de que poderia ocorrer uma debandada em grupo de parlamentares insatisfeitos com o governo. Rodrigo Delmasso (PTN) seria um dos desistentes, mas a informação não se confirmou. Julio César (PRB), líder do GDF na Câmara, também teria a mesma decisão. Rollemberg já teve de trocar a liderança uma vez, quando Raimundo Ribeiro (PSDB) deixou o posto. Até ontem à noite, contudo, Julio descartava a possibilidade. Contudo, ainda havia quem dissesse que ele aproveitaria o feriado para pensar qual a melhor decisão.

Rollemberg apresentou uma série de medidas, há duas semanas, com o objetivo de aumentar a arrecadação do DF. Ele alega viver uma crise financeira e afirma que só conseguirá pagar os reajustes a 32 categorias se os projetos forem aprovados. Os deputados, todavia, não demonstram disposição em votar a favor de medidas impopulares. O aumento da Taxa de Limpeza é uma delas. A autorização para o GDF vender ações de empresas públicas, de modo que não perca o controle majoritário da estatal, é outro PL que deve enfrentar resistência. As mudanças na previdência dos servidores públicos serão as mais difíceis de aprovar. Uma audiência pública na Câmara discutiu o assunto, ontem, e todos os sindicatos se declararam contrários às alterações. A única medida que deve ser aprovada é a securitização da dívida ativa.

Críticas
O rompimento foi ruim para o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), mas também trouxe impactos políticos negativos para a presidente da Câmara Legislativa. Em vez de rachar a base do partido — que está insatisfeita — e levar de vez o PDT para a oposição, como imaginava, Celina recebeu críticas de colegas de sigla. O fato de a decisão ter sido tomada de forma isolada não foi bem-visto por boa parte dos trabalhistas do DF. Além disso, ouviu uma bronca do senador Cristovam Buarque (PDT).

Em entrevista ao Correio, publicada na edição de ontem, o ex-governador afirmou que Celina deve olhar para o próprio gabinete antes de acusar a presença de petistas no GDF. “Não vou à Câmara com receio de sair uma foto minha com algum assessor dela ligado a Luiz Estevão. Tem um chefe de gabinete dela que é ligado a Manoelzinho (Manoel de Andrade) e ao Luiz Estevão, que falavam em me matar e patrocinaram um atentado ao Palácio do Buriti quando fui governador. Se for para tirar alguém que não presta, Celina deveria pensar em mudar o gabinete dela”, atacou.

A presidente do Legislativo reiterou a deferência pelo senador pedetista, mas afirmou que “ele está equivocado e que há muita desinformação no que falou”. “Respeito demais o Cristovam, mas acho que ele falou isso no calor da emoção porque queria que eu tivesse o esperado para tomar essa decisão”, argumentou. Ela negou a ligação de assessores com o PMDB e com o senador cassado Luiz Estevão. Celina creditou a informação ao PT. “Isso é coisa dos petistas que estão no governo. Querem criar uma história que não passa de uma mentira fajuta”, rebateu, declarando que pediu a exoneração do administrador de Sobradinho 2, Estevão Reis, e de 40 servidores indicados por ela. Os nomes deles, entretanto, não foram publicados no Diário Oficial do DF.

Ontem à noite, a Executiva Regional do PDT se reuniu para debater a situação interna do partido. O distrital trabalhista Joe Valle (PDT) não acredita em punição a Celina e evitou criticá-la. “Nosso partido tem essa tradição. No plano federal, por exemplo, estamos na base da presidente Dilma Rousseff (PT), mas temos o senador José Antônio Reguffe (PDT), que nem sempre vota de acordo com o governo. Celina tomou a postura porque achou que devia e porque tem precedente.”

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Uma caça aos fantasmas

Helena Mader

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga a existência de servidores fantasmas na Câmara Legislativa. A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social deu prazo de 10 dias para que a presidente da Casa, deputada Celina Leão (PDT), se manifeste a respeito da denúncia de que funcionários comissionados e efetivos receberiam salário sem trabalhar. As informações foram repassadas anonimamente à promotoria, que abriu procedimento para apurar o caso.
 
Os funcionários fantasmas estariam lotados em setores como os de informática, editoração, gráfica, cerimonial, biblioteca, arquivo, consultoria legislativa e até mesmo no gabinete da Mesa Diretora.
 
“Vários servidores efetivos e comissionados são fantasmas, aparecem somente para assinar o ponto, sendo que, em alguns casos, a folha é levada para o indivíduo assinar em outro local”, diz um trecho da denúncia. “Os chefes abonam o ponto dos servidores por mera conveniência e leniência. Seria interessante recomendar à Câmara a criação de um canal de denúncias anônimas de servidores fantasmas para intimidar essa prática”, acrescenta o texto entregue ao Ministério Público. Outra sugestão foi para que a Câmara adote o ponto eletrônico com uso de digitais.

A promotora de Defesa do Patrimônio Público e Social Juliana Santilli enviou ofício à Presidência da Câmara pedindo um posicionamento sobre as denúncias. A deputada Celina Leão já recebeu a solicitação e adianta que pediu informações aos chefes de todos os setores da Casa.

“Cabe a eles controlarem o ponto dos servidores, por isso, pedimos aos chefes dessas áreas as informações para tentar verificar se existem ou não funcionários fantasmas. Não vamos tolerar essas práticas”, garantiu. Celina conta que, quando assumiu a chefia da Casa, recebeu reclamações a respeito de funcionários da Mesa Diretora que tinham grande flexibilidade de horário. “Cobramos com veemência a presença dessas pessoas”, afirma.