O globo, n. 29901, 19/06/2015. País, p. 6
Serão os primeiros depoimentos para a apuração em curso no STF. Além de Youssef e Costa, o lobista Fernando Baiano também será ouvido pela PF
- SÃO PAULO- A Polícia Federal começa a ouvir, na próxima segunda- feira, seis dos presos na Operação Lava- Jato nos inquéritos que investigam autoridades com foro privilegiado acusadas de se beneficiar do esquema de fraudes em contratos na Petrobras no âmbito do Supremo Tribunal Federal ( STF), liderados pela Procuradoria Geral da República ( PGR).
Principais delatores do esquema, o doleiro Alberto Youssef , preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, e o exdiretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa devem ser ouvidos na condição de testemunhas de acusação na investigação de suposta participação no esquema do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDBAL), do senador Valdir Raupp ( PMDBRO), além dos ex- ministros Mário Negromonte e Edison Lobão, assim como 11 deputados federais. Segundo a forçatarefa da Lava- Jato, fraude em contratos da Petrobras desviou recursos da estatal a três partidos políticos: PT, PMDB e PP. Os políticos são suspeitos de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A autorização para o depoimento dos presos nos inquéritos da PGR foi dada ontem pelo juiz Sérgio Moro, da 13 ª Vara Federal de Curitiba. Diferente dos outros investigados na Operação Lava- Jato, sujeitos à Justiça Federal do Paraná, a investigação de parlamentares e ministros citados por delatores acontece no âmbito do Supremo Tribunal Federal ( STF).
Serão os primeiros depoimentos para a apuração em curso no STF. Além de Youssef e Costa, também falarão à PF, na condição de investigados, o ex- tesoureiro do PT João Vaccari Neto; o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano; e os ex- deputados João Luís Argolo Filho ( PP) e Pedro Corrêa ( PP). Os seis depoimentos para o inquérito do STF deverão ocorrer até o dia 3 de julho. Youssef será ouvido na sede da PF. Costa, que cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro com tornozeleira eletrônica, falará, no próximo dia 23, já como testemunha de acusação no processo movido contra Pedro Corrêa pelos crimes de peculato, lavagem ou ocultação de bens, corrupção passiva e organização criminosa, na Justiça Federal do Paraná.
Pedro Corrêa foi condenado a sete anos e dois meses de prisão no processo do mensalão, em 2012, por ter recebido dinheiro em troca de apoio político no Congresso ao governo do ex- presidente Lula. O ex- deputado, do PP de Pernambuco, cumpria pena em regime semiaberto no Centro de Ressocialização do Agreste ( CRA), em Canhotinho, no Agreste pernambucano, mas foi transferido para Curitiba. No processo em curso na Justiça Federal do Paraná, também foram incluídos Fábio Corrêa de Oliveira Andrade Filho e Márcia Corrêa de Oliveira, respectivamente filho e nora do ex- deputado. Os dois são acusados de retirar dinheiro vivo de propina do escritório do doleiro Alberto Youssef, em São Paulo. Segundo as investigações, Fábio Corrêa foi pelo menos 33 vezes buscar dinheiro com o doleiro. Ambos retiravam quantias que variavam de R$ 50 mil a R$ 200 mil por mês.
JUIZ NEGA DEPOIMENTO DE MINISTRO
Também ontem, o juiz Sérgio Moro negou o pedido de depoimento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, feito pela defesa do ex- deputado João Luís Argolo ( PP- BA). Os advogados queriam ouvir o ministro como testemunha para falar sobre um acordo de cooperação entre Brasil e Canadá, onde fica a sede da Blackberry. Isso porque durante as investigações da Lava- Jato, a PF fez interceptações telefônicas nos aparelhos Blackberry de Alberto Youssef, flagrado em conversas com o então deputado Argolo. “Os agentes políticos servem à comunidade e não se afigura correto dispender o seu tempo, além do deste juízo, ouvindo- os sem que haja real necessidade”, escreveu Moro em seu despacho.
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- SÃO PAULO- Depois da prisão em flagrante anteontem de um exauditor fiscal acusado de fazer parte da máfia do ISS ( imposto sobre serviços) em São Paulo, o Ministério Público ( MP) paulista vai pedir à Justiça a anulação da delação premiada do principal denunciante do esquema. Luís Alexandre Magalhães foi preso ao cobrar R$ 70 mil de outro funcionário da prefeitura, Carlos Flávio Moretti Filho, em um bar na capital paulista, em troca de não prejudicar o ex- colega em um depoimento que daria à corregedoria hoje.
ALEX SILVA/ ESTADÃO CONTEÚDODominado. Ex- fiscal delator da máfia do ISS é preso com maços de dinheiroMoretti é alvo de sindicância por suspeita de envolvimento com a chamada máfia do ISS, desbaratada em 2013, que pode ter causado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais. Magalhães, segundo o MP, também participava do esquema. Ele e outros auditores cobravam propina de empreendedores imobiliários para liberar alvarás.
Magalhães foi exonerado em 2014. Na Justiça, ele responde por formação de quadrilha, concussão, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Agora, também é acusado de extorsão. Um dos promotores do caso, Roberto Bodini, negou que a prisão dele coloque em dúvida as investigações feitas até agora:
— A nossa investigação não está baseada somente no que ele fala. Ele nos trazia informações importantes, mas tudo tinha que ser comprovado. Temos outros colaboradores.
O GLOBO não localizou o advogado de Magalhães para comentar o caso.