Título: Novo desgaste com o PMDB
Autor: Rizzo, Alana; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Política, p. 2

Planalto lança ofensiva para acalmar aliados após mais uma crise envolvendo um ministério sob tutela da sigla

Se o relacionamento da presidente Dilma Rousseff com o Congresso estava ruim, a Operação Voucher, da Polícia Federal, deixou pior, irritando o PMDB e o PT, que comandou o Ministério do Turismo no período investigado (2009 e 2010). Dilma soube da ação pela manhã e mandou chamar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Só me faltava essa! Me chama o Zé Eduardo e o Pedro Novais (ministro do Turismo)", reagiu Dilma, que já se preparava para a reunião que selou o acordo do Supersimples. Sua maior preocupação era a reação do PMDB, recém-chegado à pasta e que terminou obrigado a responder sobre a investigação. E, como Dilma previu, a resposta inicial dos peemedebistas foi a pior possível.

A desconfiança é generalizada. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que faz política no Amapá, berço da investigação da Polícia Federal, nem foi ao Planalto para a solenidade. Ficou no Congresso. À tarde, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, baixou no parlamento. À noite, chamou os líderes para uma reunião em seu gabinete, com Cardozo. De público, o PMDB dizia que o governo não tinha nada a ver com o caso, mas nos bastidores, a ira estava solta.

O tom foi dado num almoço na casa do líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). "Esse governo nos trata como lixo", reclamou o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), durante a reunião. O PR, ainda irritadíssimo com o caso dos Transportes, boicotou o convescote. O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), percebendo a convulsão na base, apressou-se em defender o governo federal e se solidarizar com os líderes: "Uma pessoa que está há dois meses no ministério não pode ser presa por convênios assinados em 2009. Acho que houve abuso do Judiciário e do Ministério Público", afirmou. Henrique saiu em defesa de Colbert Martins (PMDB-BA), o ex-deputado detido pela PF. "Isso é um absurdo. Ele foi preso sem nem saber o porquê, sem nem ter sido ouvido. Esse procedimento não é correto, não faz parte do Estado democrático de direito", protestou.

O clima era tal que Ideli saiu de uma reunião com a presidente no Palácio da Alvorada e seguiu direto para o Senado. Do encontro no Alvorada, participaram ainda a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Ali, eles avaliaram que a operação pode ter sido precipitada, uma vez que houve pessoas presas apenas para prestar depoimento.

Ao chegar ao Congresso, Ideli deixou transparecer a preocupação de Dilma. "Operação da PF é igual a decisão judicial. Você acompanha e cumpre. Se houver algum abuso, obviamente não haverá complacência (com a) operação. Esperamos que tudo tenha sido feito de forma correta, dentro da mais absoluta legalidade", declarou a ministra.

Incômodo Na sala fechada com os peemedebistas, ela foi ainda mais incisiva: "A presidente está muito incomodada e quer saber como isso aconteceu. O PMDB faz parte da espinha dorsal da aliança. Estou aqui para reafirmar a importância do PMDB para Dilma e para o governo. Sempre defendi a aliança com o PMDB e quem apoia o governo tem que ter o apoio do governo", afirmou Ideli, defendendo não só o ministro Pedro Novais, como também Wagner Rossi, da Agricultura. De público, os peemedebistas concordaram. "Houve um exagero na prisão antecipada. Os fatos são de 2009. O PMDB apoiou, apoia e apoiará a presidente Dilma", avisou o líder da sigla no Senado, Renan Calheiros (AL).