Valor econômico, v. 16, n. 3750, 07/05/2015. Opinião, p. A14

 

Inflação acumulada no ano pode superar 4,5% em abril

 

Por Tainara Machado | De São Paulo

O choque de preços administrados no primeiro trimestre deve ter levado a inflação acumulada no ano a superar o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, já em abril, estimam economistas.

De acordo com a média das projeções de 21 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,75% no mês passado. Embora seja quase a metade do avanço de 1,32% observado em março, ainda é uma variação superior à registrada em igual mês do ano passado, quando o índice oficial de inflação aumentou 0,67%. As projeções para a variação mensal do índice, que será divulgado amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variam entre alta de 0,7% até aumento de 0,83%.

 

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Além disso, como a inflação subiu mais de 1% ao mês entre janeiro e março, o IPCA deve acumular alta de 4,6% no ano até abril, caso as projeções dos economistas para o mês passado se confirmem. No acumulado em 12 meses, a inflação deve ter subido de 8,13% em março para 8,22% no mês passado.

Para Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a inflação deve ter cedido ao longo de abril, principalmente por causa do aumento menor da tarifa de energia elétrica, mas esse movimento foi um pouco mais lento do que se esperava.

O IPCA-15, espécie de prévia do índice oficial, subiu 1,07% no mês passado, acima das estimativas, o que elevou as projeções para o indicador no mês, comenta.

Leal estima alta de 0,74% para o IPCA de abril. "Ainda não é um ritmo que indica tranquilidade para a inflação", afirma o economista, até porque a desaceleração deve ficar bastante concentrada em um grupo.

Em março, o grupo habitação aumentou 5,29%, principalmente por causa dos reajustes extraordinários concedidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que levaram a tarifa de energia elétrica a subir 22,08% naquele período. Para abril, estima Leal, a conta de luz ainda deve ficar um pouco mais cara, mas o aumento será significativamente menor, com alta esperada de 2%, enquanto o grupo habitação deve ceder para avanço de 1,18%.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, esse grupo deve "tirar" 0,6 ponto da inflação na passagem mensal, explicando assim parte relevante da variação do IPCA no período. A estimativa do economista é que o índice ceda de 1,32% para 0,73% entre março e abril.

Com menor pressão dos itens de habitação, os alimentos e bebidas devem ser responsáveis por cerca de um terço da inflação de 0,7% esperada para abril, com contribuição de 0,25 ponto percentual, estima a equipe macroeconômica do Itaú, em relatório.

Para Leal, do ABC Brasil, o grupo alimentação e bebidas deve ceder pouco, ao passar de 1,17% em março para 1% no mês passado, por causa de alimentos in natura, carnes, leite e derivados, que estavam desacelerando, mas voltaram a subir ao longo do último mês. Para o economista, porém, não há indícios de choque climático e esses aumentos podem estar relacionados com a greve de caminhoneiros em alguns pontos do país. "Por isso, acreditamos que a tendência é de descompressão dos preços de alimentos e bebidas ao longo de maio", diz.

Para o economista, a inflação deve subir 0,5% em maio, número levemente superior a alta de 0,46% em igual período de 2014. "Se essa taxa for anualizada, ainda é um ritmo que indica inflação próxima de 6%, 6,5% no ano", afirma Leal.

Por enquanto, diz, não existem sinais mais pronunciados de que o IPCA está perdendo força. A desaceleração da variação mensal do índice, depois de altas superiores a 1% no início do ano, é resultado do fim dos efeitos dos reajustes de administrados no primeiro trimestre, com aumentos de energia, transporte público e gasolina, e não uma mudança de tendência para a inflação. O índice de difusão (que mostra o porcentual de itens com alta no período) continua acima de 70%, mostrando que boa parte dos produtos ainda estão subindo. Por isso, Leal estima que o IPCA encerre o ano em 8,3%, mas avalia que o risco ainda é de uma surpresa para cima.

 

Índice da baixa renda desacelera, mas segue acima da média

 

Por Alessandra Saraiva | Do Rio

Embora tenha desacelerado de 1,64% para 0,74% entre março e abril, a inflação percebida por famílias de baixa renda, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), permanece em trajetória desfavorável, com possibilidade de encerrar o ano acima da inflação média das demais famílias. A análise é do economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) André Braz.

Ele fez a avaliação ao comentar o resultado do IPC-C1 de abril, que apura a evolução de preços entre famílias com renda até 2,5 salários mínimos, anunciado ontem pela fundação. O especialista explica que, no primeiro trimestre, houve forte concentração de reajustes em preços administrados, como tarifas de água, energia elétrica e de passagem de ônibus. No entanto, o efeito desses reajustes, na inflação, não permaneceu em igual magnitude em abril, visto que seu auge já tinha sido captado pelo indicador nos meses anteriores - o que levou à desaceleração do IPC-C1 de abril. "O menor impacto dos preços administrados deram algum alívio à inflação da baixa renda", resumiu ele.

Braz comentou que o impacto da passagem de ônibus mais cara será, no entanto, mais forte nas famílias de baixa renda - nas quais esse gasto representa 10% do orçamento mensal. Por isso, a inflação acumulada em 12 meses até abril do IPC-C1 ficou em 8,57%, acima da apurada para o mesmo período no IPC-BR, de 8,41%. O IPC-BR abrange famílias de maior poder aquisitivo, com até 33 salários mínimos.

"Essa trajetória ascendente no acumulado em 12 meses IPC-C1 deve continuar até o fim do ano" disse o economista. Ele não descarta a possibilidade de a taxa anual desse indicador se posicionar acima do IPC-BR, ao final deste ano.

Para ele, o único fator que pode reduzir o avanço da inflação percebida por famílias de baixa renda é a trajetória dos preços dos alimentos, atualmente em desaceleração. Isso porque os alimentos têm peso de em torno de 40% do IPC-C1 - sendo que a inflação desse setor responde por 28% dentro do IPC-BR.

"Se isso continuar [os alimentos mais baratos] pode ser que isso contribua para um IPC-C1 menor", afirmou o economista da FGV. "Mas não há como prever se os preços dos alimentos continuarão a se comportar assim", complementou.