Valor econômico, v. 16, n. 3766, 29/05/2015. Brasil, p. A2

 

Desemprego leva alguns analistas a projetar IPCA de 2016 mais perto de 5%

 

Por Tainara Machado e Denise Neumann | De São Paulo

A deterioração rápida e acentuada do mercado de trabalho, especialmente dos salários, levou alguns economistas a apostar em uma convergência mais rápida da inflação para perto do centro da meta. Enquanto a média do mercado está em 5,5%, eles estimam que o IPCA pode encerrar 2016 em torno de 5%. Eles avaliam que é pouco provável que a inflação de serviços fique imune a uma queda de renda real que pode superar 2% nesse ano e a um aumento expressivo da taxa de desemprego.

Para esse grupo, os preços de serviços podem subir abaixo de 7% em 2016, ainda que acima da inflação média do período. Se confirmado, será o menor percentual desde maio de 2010. Para alguns economistas, o país chegará nessa inflação de serviços como consequência de uma taxa de desemprego que pode ultrapassar 10% em alguns meses do ano que vem, o que não acontecia desde 2007.

 

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Fábio Romão, economista da LCA Consultores, revisou sua estimativa de inflação para 2016 para 5,1%. "É difícil falar disso no meio do incêndio, estamos passando por um momento de ajuste muito severo, mas isso sai de cena". Para o ano que vem, ele estima alta de 4% dos preços administrados e de 5,5% dos preços livres, o que levaria o IPCA a encerrar 2016 em 5,1%.

Para Romão, a inflação de serviços só não vai ceder mais rápido em 2015 porque a avalanche de aumentos de custos, como transporte e energia, deve ser repassada em algum grau para os preços. Esses reajustes, porém, devem ficar concentrados em 2015 porque a fraqueza da atividade e a política monetária contracionista devem impedir altas generalizadas. A expectativa é que a inflação de serviços, que subiu 8,4% em 2014, varie 7,7% em 2015 e 7% em 2016.

Para Romão, os salários de admissão no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e, mais recentemente, o rendimento médio real na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) apontam nessa direção. Em abril, a renda real caiu 2,9% e o economista da LCA projeta recuo de 1% no ano. "Na média, a renda real não caia desde 2004, o que reforça nossa visão de que serviços vão desacelerar". Já o desemprego deve subir de 4,8% em 2014 para 6% neste ano e 6,4% em 2016, na média, diz.

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, acredita que a inflação de serviços pode cair para 6,8% no ano que vem, o que a leva a estimar IPCA de 5% em 2016. "A atividade deve permanecer fraca pelo menos até o terceiro trimestre e pode exercer influência mais forte sobre os indicadores do mercado de trabalho, com possível queda real dos salários", comenta.

Apesar do cenário recessivo, o Banco Central tem sinalizado que não está preocupado com a atividade, e sim em conter a propagação do choque de preços. Por isso, diz Thaís, o BC deve elevar a Selic dos atuais 13,25% ao ano para 14,5% ao ano. "A forma de reconquistar a credibilidade passa por aí, mas teremos custos".

A economista não descarta uma queda da atividade superior à projeção atual, de menos 1,5%. "Nesse caso, poderíamos revisar também a estimativa para inflação", diz ela. Para Thaís, é difícil quantificar a resposta da inflação de serviços, que tem se mostrado resistente, porque no Plano Real o país nunca teve recessão dessa magnitude.

Por causa do cenário de queda do PIB e antecipando uma piora acentuada do mercado de trabalho, o economista-chefe do banco Fibra, Cristiano Oliveira, reduziu em abril sua projeção para a inflação de 2016 de 5,8% para 5,2%. Parte expressiva dessa redução veio da projeção para serviços, agora em 6,3%. Esse recuo, diz Oliveira, está relacionado à forte queda do nível de atividade e consequente aumento da taxa de desemprego.

Nas suas projeções, em algum momento do ano que vem, a taxa mensal de desocupação vai chegar a dois dígitos na PME. Na média anual, ele espera 7,3% este ano e 8,8% em 2016, com queda real da renda de 2,3% em 2015. O mercado de trabalho é uma das razões pelas quais Oliveira colocou suas projeções para o PIB deste ano e de 2016 em revisão para baixo. Ele espera retração de 1,3% em 2015 e alta de 0,3% para 2016, número que pode virar zero dependendo do PIB no primeiro trimestre.

Na contramão dos três analistas, o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, divulgou em meados de maio um relatório em que ele e sua equipe argumentam que a inflação de serviços vai ceder pouco em 2016, e por isso o IPCA continua estimado em 6,5% para o próximo ano. Entre outras razões, o Credit mostra que a queda recente em serviços foi concentrada em poucos itens, que a inércia é muito forte nesse segmento e que o IGP-M mais alto e o aumento do salário mínimo (indexado à inflação de mais de 8% desse ano) manterão esse grupo pressionado.

Em um ponto, o Credit concorda com os demais: se o desemprego chegar a 10%, aí sim impacto sobre o IPCA será expressivo e ele poderia convergir para 4,5%. Mas suas projeções são de 6,2% e 6,6% para o desemprego em 2015 e 2016.