Valor econômico, v. 16, n. 3749, 06/05/2015. Brasil, p. A4

 

Risco de racionamento em 2016 fica menor

 

Por Denise Neumann | De São Paulo

O ano de 2015 ficou livre, por enquanto, do racionamento de energia elétrica e o risco pra 2016 ficou menor, mas não saiu do radar. A conclusão é da LCA Consultores, que se debruçou sobre o passado e sobre previsões futuras para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), consumo de energia, média de chuvas e nível dos reservatórios. "Teremos um alívio em relação ao cenário de 2014 e 2015, mas ainda não será uma situação confortável", resume Braulio Borges, economista-chefe da consultoria.

A melhora no cenário virá, em parte, da atividade fraca e do aumento de preços do insumo em 2015. "A combinação de recessão e de aumento de tarifa já está gerando um efeito de meio racionamento", avalia Borges, fazendo referência às projeções do começo do ano que apontavam o risco de racionamento de energia elétrica entre 5% e 10%.

 

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A LCA estima uma queda de 1,2% no PIB de 2015 e uma pequena alta de 1% em 2016. O preço médio de energia (considerando tarifa residencial, industrial, comercial e outras) foi calculado em 46,7% para este ano e zero em 2016. Ainda fazem parte das premissas da consultoria uma temperatura na média dos últimos cinco anos (o que significa dias um pouco menos quentes que em 2014 e 2015) e uma queda no consumo (carga) de energia elétrica de 1% em 2015 e de 2,2% em 2016.

Borges pondera que a queda mais forte em 2016 (apesar de uma pequena alta do PIB) decorre da avaliação de que o preço real afeta o consumo de energia com alguma defasagem (em dois trimestres, na conta da consultoria). Na média, no período pelo qual o racionamento deveria durar (maio/junho de 2015 até março de 2016), a queda estimada na carga de energia será de 2,3%, nas contas da LCA. Por isso, Borges estima que a combinação recessão e preço vai gerar um efeito equivalente a meio racionamento.

Considerando todas essas premissas, a LCA calculou o nível de reservatórios no início de 2016 para quatro cenários diferentes de chuvas. Borges explica que foi mantida a mesma carga para todas as simulações e também não foi considerada a ampliação da oferta (uma possibilidade tanto pela entrada em vigor de novas usinas ou turbinas em usinas existentes ou por fontes alternativas), o que torna os resultados bastante "conservadores".

Com chuvas em 85% a 90% da média histórica, o nível dos reservatórios em 2016 estará semelhante ao do ano passado. Não será confortável, mas não haverá piora, observa Borges. Com chuvas acima de 95% da média, o quadro de energia armazenada será melhor. "E as agências de previsão do tempo têm indicado que o regime de chuvas será melhor no próximo período chuvoso", diz ele, lembrando que o período úmido vai de novembro a abril.

Apesar do risco um pouco menor esperado para 2016, Borges pondera que o risco de racionamento só vai sumir em 2017 em diante e que até lá ele continuará constrangendo o PIB futuro e o investimento produtivo. "Essa possibilidade afeta confiança e o medo de falta de energia inibe novos projetos", pondera.

O economista da LCA pondera que a queda no consumo pode ser bem maior que a estimada pela consultoria. Os estudos indicam que o consumidor é pouco sensível a preço, mas o país nunca teve um aumento tão expressivo no preço. "A energia nunca foi tão cara no país e não sabemos exatamente como os consumidores vão reagir a esse choque", diz ele. "Talvez os consumidores - residenciais e empresariais - cortem mais o consumo", diz.