Pátria adoecida

30 jun 2015

Alfredo Guarischi 

Não há política de saúde de longo prazo.

Amedicina nos ajuda a preservar a saúde, um bem sem preço, mas a cada dia com custo mais elevado. Transformouse num grande negócio mundial. Movimenta fortunas e emprega milhões de trabalhadores. Sua fase romântica do

primum non nocere (primeiro não fazer o mal) foi substituída pelo first my mo

ney (primeiro meu dinheiro). Seu custo e sua organização são desiguais entre os povos. No Primeiro Mundo, um organizado sistema educacional, de saneamento e de transporte gera economia nos gastos com a saúde.

O financiamento da medicina sofre com a cartelização dos medicamentos e equipamentos, que encarecem a cada etapa de sua cadeia produtiva. Justificar essa distorção pela variação cambial é lorota! Isso ocorre pela falta de uma política de saúde de longo prazo, aliada à corrupção, que não poupa países.

Indicadores como a longevidade, mortalidade global e infantil demonstram, sem subjetividade, a saúde de um povo. No estudo publicado em 2014 pelo Commonwealth Fund, entidade sem fins lucrativos, são comparados os sistemas de saúde de 11 países (Alemanha, Austrália, Canadá, EUA, França, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça). No desempenho geral, incluindo o acesso, a qualidade e a equidade do cuidado, Reino Unido, Suíça, Suécia, Austrália e Alemanha ocuparam os cinco primeiros lugares. Desde 2004, quando esses estudos se iniciaram, o Reino Unido permanece nos primeiros patamares, mesmo gastando por habitante menos que os demais. Seu sistema é público, regionalizado e hierarquizado; com um fio condutor, sem nós, remendos ou puxadinhos. No entanto, ingleses amigos meus, súditos de uma verdadeira rainha, ponderam que o sistema pode melhorar.

Esse estudo chama a atenção pela posição ocupada pelo EUA, que está em último lugar, mesmo gastando quatro vezes mais por habitante que o Reino Unido. O negócio da saúde consome 17% de seu PIB, enquanto é de 9,1% o investimento do Reino Unido.

O Brasil, muito longe do 11º lugar, aloca 9,7% do PIB, mas desperdiça muito. A iniciativa privada, que atende 32% da população, é responsável por 65% desse financiamento e criou alguns oásis de excelência. Mesmo assim, o brasileiro que anda no carro da medicina, abastecido no setor privado, continua preso em engarrafamentos, dentro deste sistema.

O restante do financiamento vem do setor público, que tem a obrigação de atender a toda a população. Esses brasileiros precisam pegar um ônibus chamado SUS, que não tem horário previsível, está sempre lotado e não para no local desejado. A viagem é demorada e sofrida. Um fato frequente está nos mais de três meses para se iniciar uma radioterapia, apesar de decreto-lei que considera esse retardo ilegal.

Neste Brasil assimétrico, com um PIB inferior a apenas cinco dos 11 países estudados, o diagnóstico está claro: nosso financiamento da saúde é poliédrico, e a má gestão crônica é um convite à corrupção, o que é mortal.

Sem marketing, o slogan antigo continua atual: pátria adoecida.