Título: Quatro escândalos na conta
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Política, p. 7

O governo da presidente Dilma Rousseff sofre com seguidos escândalos de corrupção em menos de um ano de vida. As turbulências começaram em meados de maio, depois dos míticos 100 dias de governo, quando o então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, foi acusado de ter um crescimento patrimonial exponencial e incompatível com sua renda, justamente no período em que comandou a campanha vitoriosa da petista, no ano passado.

Depois de 23 dias sangrando, Palocci deixou o governo e deu lugar à senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná. Com a mudança, saiu também Luiz Sérgio da Secretaria de Relações Institucionais para o Ministério da Pesca, sob acusação de não comandar a articulação política do Planalto. Sérgio deu lugar a Ideli Salvatti. Mas a saída dos dois não colocou um fim nos escândalos. Logo depois, as turbulências atingiram o Ministério dos Transportes, o que levou a presidente a realizar uma faxina no setor de infraestrutura rodoviária.

Dilma demitiu o então ministro Alfredo Nascimento e seus principais assessores, e retirou todos os diretores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), entre eles o diretor-geral, Luiz Antonio Pagot, e o petista Hideraldo Caron, além de toda a direção da Valec. Nascimento, presidente do PR, foi acusado de, ao lado do secretário-geral do partido, deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), desviar dinheiro público para engordar os cofres da legenda.

O governo acionou a Controladoria-Geral da União (CGU), o Ministério Público Federal , a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar as irregularidades. Na sequência, as denúncias se abateram sobre o Ministério da Agricultura. Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que há um grande esquema de corrupção dentro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), incluindo a venda de um terreno do órgão bem abaixo do valor de mercado para empresários do meio imobiliário.

Dentro do Ministério da Agricultura, descobriu-se que atuava o lobista Júlio Fróes, acusado de direcionar licitações, o que derrubou o segundo na hierarquia do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan. O agora ex-secretário executivo foi citado por Fróes como participante de suposto esquema de corrupção na pasta. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, solicitou e a CGU abriu sindicância para apurar os supostos desvios.

No rastro das turbulências, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, também pediu demissão por fazer críticas às colegas de governo Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), além de ter dito que tinha votado no adversário de Dilma nas eleições do ano passado, o tucano José Serra.

Antonio Palocci

Até então o homem mais forte do governo depois da presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro da Casa Civil deixou o cargo no início de junho, denunciado por suposto enriquecimento ilícito. A Procuradoria da República abriu inquérito para investigar a evolução do seu patrimônio.

Alfredo Nascimento

O ex-ministro dos Transportes pediu demissão do cargo no mês passado, após a revelação de um suposto esquema de cobrança de propinas em obras federais da pasta. O ministério passou por uma modificação radical. Mais de 20 pessoas já deixaram o cargo no órgão e em estatais ligadas à área.

Milton Ortolan

O secretário executivo do Minisério da Agricultura pediu demissão no último domingo, depois de denúncias ligarem o seu nome ao do lobista Júlio Fróes, que atuaria dentro da pasta. Fróes seria responsável por redigir licitações e direcioná-las, com a conivência de Ortolan.