Maconha é principal item da web profunda

30 jun 2015

SÉRGIO MATSUURA 

Relatório mostra que drogas leves são o produto número um de mercados ilegais.

Páginas em português indicam que brasileiros estão presentes nas redes anônimas.

Os mercados que funcionam na internet profunda oferecem uma infinidade de produtos e serviços ilegais. É possível encontrar drogas, remédios proibidos, armas e até encomendar assassinatos, mas, segundo estudo realizado pela empresa de segurança Trend Micro, é a maconha que mais atrais usuários para as redes anônimas.

O relatório “Abaixo da superfície: explorando a web profunda” foi elaborado ao longo dos dois anos que se sucederam à prisão de Ross Ulbricht, condenado recentemente à prisão perpétua por operar o mercado ilegal Silk Road, fechado em 2013. No período foram analisados 576 mil endereços. Para indicar quais os produtos mais comercializados, o estudo considerou os 15 maiores mercados em funcionamento e descobriu que a maconha representa 31,6% de todos os itens ofertados. Em segundo lugar estão medicamentos de tarja preta, como Ritalina e Xanax (21,05%), seguidos pelo ecstasy, com 10,53%.

Pelo lado dos compradores o cenário é o mesmo. 27,28% fazem buscas pela maconha, 22,39% por medicamentos tarja preta e 14,43% pelo ecstasy.

O inglês é o principal idioma das páginas na web profunda, presente em 62,36% dos endereços analisados, mas um dado que chama atenção é que 1,91% do sites estão em português, o que indica para a possibilidade de brasileiros também estarem montando “negócios” nas redes anônimas.

— Os cibercriminosos brasileiros sempre foram conhecidos por fraudes bancárias. Apesar de isso ainda hoje ser verdade, eles também se aventuraram em outras formas de crime — diz Franzvitor Fiorim, porta-voz da Trend Micro. — O mercado do submundo brasileiro oferece os mesmos produtos e serviços e até mais em comparação com suas contrapartes, por exemplo chinesas e russas.

Além das drogas, o relatório aponta uma série de outros itens e serviços ofertados livremente por esses mercados. Escondidos por trás do anonimato, vendedores e compradores negociam, por exemplo, passaportes brasileiros por € 400 (R$ 1,4 mil). A documentação para se tornar um cidadão americano sai por US$ 5.900 (R$ 18,3 mil). O mais sinistro é a oferta de assassinatos por encomenda. Segundo a Trend Micro, o endereço possui uma lista de preços que varia de acordo com o perfil da vítima e o tipo de crime. A morte com simulação de acidente de uma celebridade custaria US$ 300 mil (R$ 936 mil).

As redes anônimas da internet profunda, conhecidas como darknets, foram criadas com o intuito de proteger comunicações da vigilância de governos. A mais conhecida é a rede TOR ( acrônimo para The Onion Router), apontada como vital para a Primavera Árabe por ter permitido que dissidentes se comunicassem fora do alcance dos governos. Na revolução síria, em 2011, vídeos eram publicados na web profunda antes de serem transferidos para o YouTube. Contudo, criminosos viram no anonimato uma oportunidade para o delito. Apesar de não ser impossível, como mostra a prisão de Ulbricht, é muito difícil identificar e localizar uma pessoa nessas redes.

— Na maioria das vezes, é preciso que haja uma ação criminosa no meio físico, como a venda de drogas, para que seja efetuada a identificação do cibercriminoso — explica Fiorim.