Alta do petróleo se sustenta em 2015, projetam analistas
Valor econômico, v. 16, n. 3748, 05/05/2015. Empresas, p. B3
Renato Rostás
Analistas creem que a alta nos preços do petróleo durante o acumulado de 2015 tem sustentação até o fim do ano, a depender de alguns fatores, como a chegada da oferta do Irã no mercado. Ontem, contudo, foi registrada queda. Os contratos com entrega em julho do WTI fecharam com recuo de 0,3% hoje, a US$ 60,16 o barril, enquanto o tipo Brent ficou praticamente estável, em US$ 67,23 cada.
Os principais motivos citados para o avanço até agora da cotação são a redução da oferta pelos Estados Unidos e a melhora das perspectivas de demanda ao redor do mundo, principalmente para os próximos meses, que tendem a representar o pico das compras. Em 2015, o barril do WTI já subiu 12%, enquanto o Brent teve valorização de 15,5%.
Para o chefe de análise de commodities do banco suíço Julius Baer, Norbert Ruecker, o mercado está pronto de um equilíbrio. Com a equação entre procura e capacidade ofertada mais perto da estabilidade, é possível que a volatilidade vista recentemente seja dissipada.
O analista acredita que há algum tempo já era esperada a temporada de pico das compras da commodity internacionalmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi observado um forte movimento de redução dos estoques durante as últimas semanas, o que sugere a ida ao mercado no médio prazo.
"Na América do Norte, ainda vemos um excesso de oferta vasto, mas os estoques caem a níveis recordes de baixa e a produção local chega próxima ao que esperamos ser o maior volume do ano", afirma Ruecker. A redução da atividade na exploração não convencional por meio do xisto fez com que esse pico de capacidade fosse alcançado mais cedo que o esperado.
Em relatório recente, o Goldman Sachs ressalta que a curva de produção do petróleo americano encontra-se próxima à estabilidade. Isso significa que grandes saltos nas operações são cada vez menos prováveis, já que a quantidade de sondas disponíveis é reduzida semana a semana.
Entre o segundo e o terceiro trimestres, o banco projeta redução no volume extraído dentro do país. No ritmo atual, acrescenta, a produção deve terminar o último trimestre do ano em 7,46 milhões de barris por dia, uma leve alta de 2% perante o observado no mesmo período de 2014.
Quando os preços do petróleo começaram a cair, no fim do ano passado, os EUA ostentavam cerca de 1,6 mil sondas exploratórias em seu território, o que foi apontado como um dos maiores pontos de pressão sobre a cotação internacional. Ao fim da semana passada, esse número encontrava-se em 679.
O maior risco para o petróleo daqui para frente, além de a demanda não se confirmar e o uso de capacidade permanecer alto por parte das produtoras americanas, seria o Irã voltar com tudo ao mercado global. Longe da oferta mundial desde as sanções impostas pelo Ocidente, o país pode inundar o setor com volumes relevantes que potencialmente derrubariam novamente os preços. Mas por outro lado, não há expectativa de que isso se materialize já durante 2015.
A recuperação, porém, tem limite, lembram os analistas. Não há estimativas que deem conta de o barril voltar a custar perto de US$ 100 cada, como visto nos melhores momentos da commodity no ano passado. O Julius Baer, por exemplo, projeta que daqui para dezembro a cotação vá oscilar em torno da faixa que vai de US$ 60 a US$ 70. Nos cálculos do J.P. Morgan, a média do Brent fecha em US$ 59, subindo para US$ 62 no ano que vem.
Mas o Citi acredita que as notícias vindas dos EUA podem dar uma impressão errada de como está o cenário atual. Enquanto o país, em conjunto com China e Índia, por exemplo, acelera a expectativa de demanda - e também faz a lição de casa no campo da oferta -, grandes mercados como o Brasil e a Rússia podem piorar o saldo final. Isso porque o crescimento nesses dois grandes mercados, que impulsionaram a procura pelo petróleo nos últimos anos, deve piorar.