Título: Bolsas voltam ao azul
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Economia, p. 11
Bernanke comandou encontro que deixou inalterado o custo do dinheiro
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuperou parte do que tinha perdido na última segunda-feira e fechou o dia com alta de 5,1%. Essa foi a maior elevação desde 29 de outubro de 2009, quando o índice havia subido 5,91%. O resultado foi influenciado pela decisão do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) de manter as taxas de juros norte-americanas perto de zero pelos próximos dois anos.
A recuperação só não foi mais comemorada devido ao derretimento de 26,20% ainda acumulado no ano, que reduziu fortemente o valor de mercado das empresas que têm papéis na bolsa paulista. A ação mais negociada da Petrobras, por exemplo, mesmo tendo registrado incremento de 2,68% no dia, amarga ainda queda de 30,82% no ano. O valor da empresa no mercado acionário encolheu nada menos do que R$ 154,4 bilhões desde que realizou a megacapitalização do pré-sal, em março, quando chegou a R$ 413,3 bilhões.
Mercados Além da bolsa brasileira, os mercados acionários na Europa e nos Estados Unidos puderam respirar mais aliviados ontem, depois da forte desvalorização que todas registraram na segunda-feira. Em Nova York, o índice Dow Jones fechou com alta de 3,98%, o indicador S&P 500 subiu 4,74% e a valorização da Nasdaq alcançou 5,29%. A Bolsa de Londres teve elevação de 1,89%. Em Frankfurt, na Alemanha, prevalece a estabilidade, com o índice registrando pequena queda de 0,10%.
Na Ásia, entretanto, os resultados ainda foram negativos. Houve recuos em Tóquio (-1,68%) e Shangai (-0,03%), mas a situação pior foi a da Bolsa de Seul, em que por duas vezes o pregão foi interrompido por causa da queda abrupta das cotações. No fim, a praça coreana terminou o dia com baixa de 3,61%.
Toda essa instabilidade também afetou o dólar. A moeda, que chegou a ser negociada acima de R$ 1,65 antes do comunicado do Fed, caiu para R$ 1,590, uma variação de 1,39% ante o dia anterior. O ponto de virada foi exatamente quando no meio da tarde chegou ao mercado a informação de que a autoridade monetária norte-americana não daria mais estímulos à frágil economia do país.
O euro também perdeu 2,77% ante o franco suíço, caindo a seu menor patamar histórico em relação a essa moeda, mesmo com a possibilidade de uma intervenção do Banco Central da Suíça para enfraquecer sua divisa. No mercado de renda fixa no Brasil, chamou a atenção dos operadores o menor volume de títulos ofertados pelo Tesouro Nacional. Integrantes do governo, entretanto, têm afirmado que ainda é cedo para avaliar o impacto da crise sobre os leilões da dívida pública.
Analistas e autoridades recomendam cautela aos investidores. "A recente turbulência dos mercados é um lembrete oportuno de que os riscos, agora, apontam para uma queda do crescimento", argumentou Neil Shearing, economista da Capital Economics. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, também avalia que o momento é de observação. "A situação hoje é completamente diferente da de 2008, mas é preciso aguardar o desdobramento dessa turbulência", disse. "O clima de aversão continua, o Fed não trouxe nenhuma grande novidade. A crise está aí. Você tem ainda a Zona do Euro que está tentando achar uma saída", avaliou Eduardo Galasini, gerente de Renda Fixa do Banco Banif. (VM)