O globo, n. 29885, 03/06/2015. País, p. 6

Procuradores notificam Justiça dos EUA sobre propina na Petrobras

Pelo menos quatro empresas estrangeiras estariam envolvidas

Os procuradores da Força- tarefa da Operação Lava- Jato afirmam que notificaram o Departamento de Justiça dos Estados Unidos a respeito das evidências de que pelo menos quatro empresas estrangeiras pagaram propinas para ganhar contratos da Petrobras.

As acusações abrangem unidades ou afiliadas da Samsung Heavy Industries Co., da Skanska AB, da AP MoellerMaersk A/S e da Toyo Engineering Corp., disse em entrevista o procurador Carlos Lima, um dos integrantes da força- tarefa.

As empresas podem enfrentar denúncias no Brasil, que podem levar à suspensão de suas operações no país, além de sanções nos Estados Unidos por violação da Lei Contra Práticas Corruptas Estrangeiras, explicou Lima:

— Tivemos uma reunião nos Estados Unidos a respeito disso. Os americanos gostam de saber quais empresas estão envolvidas — disse Lima.

A Samsung Heavy Industries disse por e- mail que “não foi contatada por nenhuma autoridade policial em relação a esse assunto”. A Toyo e sua afiliada brasileira “são totalmente alheias ao escândalo de subornos da Petrobras”, segundo resposta da firma japonesa. A Maersk disse que os subornos são proibidos, tanto para funcionários quanto para terceirizados, e que as comissões eram pagas de acordo com as normas do setor. E que não descobriu nenhum indício de atividade ilícita. A empresa, com sede em Copenhague, informou também que não foi contatada pelas autoridades. A Skanska disse, por e- mail, que mantém uma política de tolerância zero em relação a práticas antiéticas de negócio e que está realizando uma investigação interna.

A Petrobras contabilizou uma baixa contábil de R$ 6,2 bilhões em seus resultados de 2014 por conta da corrupção.

Em resposta enviada por email, o Departamento de Justiça dos EUA preferiu não comentar sobre seu papel na investigação. A Petrobras não respondeu aos pedidos para comentar o tema.

Segundo Lima, a lista entregue ao Departamento de Justiça dos EUA poderá crescer à medida que os investigadores levantem provas de que as supostas propinas para garantir contratos da Petrobras pagas por fornecedoras internacionais ( diretamente ou por meio de intermediários) não eram uma prática incomum.

— Há muito disso nos grandes contratos offshore — disse ele. — Um intermediário acabava pagando as propinas, em teoria sem o conhecimento da empresa, mas a empresa é responsável por seus agentes.

Departamento de Justiça dos EUA vem aumentando o combate à corrupção fora do território americano. Desde 2009, foram mais de 50 casos criminais contra empresas, e multas de confiscos de cerca de US$ 3 bilhões. Lima exortou os fornecedores a realizarem investigações internas e a informarem as autoridades brasileiras e internacionais .

— Essa é obrigação de qualquer empresa que esteja vinculada às leis anticorrupção.