Crise sem racionamento

7 jun 2015 

MÍRIAM LEITÃO

A recessão evitou o racionamento de energia e afastou o risco de apagões este ano. O consumo de eletricidade no país caiu 0,4% de janeiro a abril, com retração de 3,9% na indústria. Mas os reservatórios de água não se recuperaram. No Sudeste/Centro-Oeste, terminaram o mês de maio com 36% da capacidade, nível mais baixo em 14 anos. O setor está desequilibrado e é um dos gargalos para a recuperação.

Ninguém consegue estimar com clareza qual seria a situação energética caso a economia estivesse em pleno funcionamento. Pelo terceiro ano consecutivo, o consumo industrial está em retração no acumulado dos meses de janeiro a abril, segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Caiu 1,6% em 2013; 0,2% em 2014; e mais 3,9% este ano (vejam os gráficos). Sem a crise industrial, a relação entre oferta e demanda estaria ainda mais apertada.

Nas residências, está acontecendo uma forte desaceleração, com o tarifaço na conta. O índice oficial de inflação aponta alta nas tarifas de 38% de janeiro a abril. Com isso, o consumo, que cresceu 8,6% no mesmo período do ano passado, desacelerou para 1,4% este ano.

A consultoria PSR estima que o consumo total de energia em 2015 cairá 2% com a crise. Como o planejamento energético feito pelo setor estimava um aumento de 4%, haverá uma folga em torno de 6% entre a capacidade de geração e o consumo. Para o ano que vem, a conta dependerá do ciclo de chuvas, que começa em outubro, e do ritmo de recuperação da economia.

— A crise evitou o racionamento porque a recessão já fez a demanda cair. Ao mesmo tempo, o governo adotou um conjunto de ações para aumentar a oferta no curto prazo, como geração a diesel e gás por shoppings, importação de energia da Argentina e do Uruguai, reativação da termelétrica de Uruguaiana — disse Luiz Augusto Barroso, consultor da PSR.

Ou seja, caiu o consumo pela recessão, e cresceu a oferta de energia cara. O que mais chama atenção é que ainda assim o nível dos reservatórios não se recuperou. Água é a nossa poupança energética, porque significa que as hidrelétricas poderão ser acionadas. Enquanto entre 2004 e 2011 o nível dos reservatórios do Sudeste esteve sempre acima de 80% da capacidade em meses de maio, este ano, ficou em 36%.

A crise evitou o risco de curto prazo, mas sem recuperar o nível de água para as hidrelétricas será muito mais difícil voltar a crescer.