Título: Desespero de pessoas físicas causa perdas
Autor: Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Economia, p. 13

Ao contrário do que analistas cogitaram inicialmente, quem está se desfazendo das ações no país é o poupador brasileiro. Estrangeiros reforçam as apostas

O susto tem sido grande. Ao se depararem com a constante queda do valor de suas aplicações no mercado acionário, muitos investidores não conseguem entender o motivo de tamanho prejuízo. Mas, em vez de seguirem à risca as indicações dos especialistas ¿ esperar a poeira baixar, pois, a longo prazo, ações sempre garantem um bom ganho ¿, estão se desfazendo de tudo o que têm aplicado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), mesmo com perdas gigantescas. É esse movimento desesperado um dos principais motivos para as quedas acentuadas do Ibovespa, índice que mede a lucratividade do pregão paulista. "Infelizmente, os brasileiros ainda não aprenderam a investir no mercado de ações. Continuam entrando quando os preços estão em alta e saindo nos períodos de baixa", disse o economista Demétrius Borel Lucindo, economista da Prosper Corretora.

Em contrapartida, mesmo com a economia global à beira do colapso, os investidores estrangeiros estão tirando todo o proveito das dicas dos analistas e comprando pechinchas na Bovespa. Somente em julho, eles deixaram um saldo positivo de R$ 1,4 bilhão no pregão. Neste mês, as compras de ações já superam as vendas em R$ 382,4 milhões. Muitos estão arrematando papéis com até 40% de desconto, de empresas com ótimos resultados e que darão lucro por muito tempo. "É essa a receita. O bom investidor em ações é aquele que se aproveita de um forte período de baixa de preços para montar a sua carteira ou aplicar em fundos", afirmou Clodoir Vieira, economista-chefe da Corretora Souza Barros.

A fuga dos investidores pessoas físicas da Bovespa é visível. No mês passado, eles representaram 23,6% das operações. Na primeira semana de agosto, tal participação caiu para 22,1%. Já os não residentes têm garantido 33,4% de todo o capital movimentado na bolsa paulista. A tendência, acreditam os analistas, é de os estrangeiros ampliarem a presença no mercado nacional, diante das oportunidades que se abriram. Do início do ano para cá, o valor de mercado de todas as empresas listadas na Bolsa de São Paulo despencou de R$ 2,5 trilhões para R$ 1,9 trilhão. Mesmo ações de gigantes como a Petrobras e a Vale estão a preço de banana, levado-se em conta o potencial das companhias.

"Em momentos como os do início da semana, o pânico leva as pessoas a saírem da bolsa. Mas isso é falta de costume em lidar com o mercado", ressaltou Vieira. "Os brasileiros ficaram muito tempo aplicando exclusivamente na caderneta de poupança. Por isso, os deslizes dos pequenos investidores", emendou. A falta de sangue frio para encarar turbulências é apontada como um dos principais fatores de tomada de decisões equivocadas. Mas não é só. Muitos amadores confiam suas aplicações em fundos de ações, mas não fazem o acompanhamento adequado do mercado. Ou seja, quando recebem relatórios mostrando que o patrimônio encolheu, correm para se livrar do investimentos.

Mas há os que fogem à regra. Atentos às oportunidades, investidores mais participativos estão aproveitando o momento para reforçar as suas carteiras. "Em períodos de turbulência, como o que estamos passando, a bolsa é o melhor negócio do mundo", exaltou o engenheiro agrônomo aposentado Ido Ferreira, 71 anos. Ele aplica em ações há mais de 30 anos, e acredita que a atual crise nos mercados financeiros do mundo não deveria assustar os menos experientes. "A pior coisa que pode ser feita nesse momento é fugir da bolsa de valores. Quem vender ações agora só terá prejuízo", disparou.

O advogado Carlos Bessa, 61, tem pensamento semelhante. "Não é o momento de sair da bolsa. Pelo contrário, é hora de recompor os investimentos, isto é, tirar papéis de empresas ruins e comprar os de boas companhias, que estão em baixa. Na segunda-feira, foi o dia perfeito para realizar esse procedimento", afirmou. Bessa anota todas as operações e estuda atentamente cada movimento do mercado. Ele acredita que o hábito diminui a chance de possíveis perdas. "Muitas pessoas não fazem uma análise prévia, não veem as opções disponíveis. Ações são produtos muito interessantes, mas exigem cautela e atenção", recomendou.

Emocional prevalece A falta de conhecimento do mercado acaba confundindo. O investidor não consegue distinguir quedas pontuais de papéis podres. O atual momento da Bovespa, segundo o economista Demétrius Borel Lucindo, da Prosper Corretora, é adequado para a entrada de novos investidores. "Recomendo investir agora. Mas é fundamental fazer as contas e as análises corretas. Estamos vivendo uma fase completamente emocional, não há motivo para tanta oscilação no mercado", disse. A seu ver, é difícil saber quanto tempo a atual crise global vai durar. Mas muitas pessoas já perceberam que a bolsa de valores está barata.